Bonito (MS) – Com um público de aproximadamente 400 pessoas foi aberto na noite de domingo, a 3ª edição do Conatus – Congresso Natureza, Turismo e Sustentabilidade – que acontece em Bonito, Mato Grosso do Sul, e até a próxima quarta-feira – reúne especialistas, técnicos, pesquisadores e estudantes das áreas de turismo e meio ambiente de todo o Brasil e também do exterior.
Na segunda-feira, primeiro dia de palestras e mesas-redondas, a temática foi Natureza, tendo início com a explanação do argentino Diego Cannestraci, da Nodocom Comunicação e Eventos, sobre a experiência de uso público nos parques nacionais da Argentina.
Experiências da Argentina, Portugal e México
A Rota Vicentina é uma rota cultural e turística da região sudoeste de Portugal. Lá estão o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e a Costa Vicentina, que recebem cerca de 300 mil visitantes por ano
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Diego relatou que desde criança foi incentivado pelos pais a passear nos parques daquele país, e, já adulto, formou-se em Educação Física e se tornou especialista em montanhismo e esportes de outdoor. Ele defende o uso público de áreas naturais como ferramenta indutora do turismo e propõe a criação de uma rede de Unidades de Conservação da América Latina, já que vem colhendo bons resultados com trabalhos de parcerias público-privadas e tendo sucesso na promoção de eventos de esporte de aventura nesses cenários.
“Visitando os parques a população conhece a natureza e passa a valorizá-la. O turismo é uma atividade de baixo impacto e o turismo de aventura é um dinamizador propício a essa cultura de valorização da natureza”, diz ele.
Na segunda palestra do dia, a portuguesa Marta Cabral, da Casas Brancas (Associação de Turismo de Qualidade do Litoral Alentejano e Costa Vicentina) que integra uma rede de empreendimentos hoteleiros rurais, restaurantes e atrativos turísticos, discorreu sobre a experiência da Rota Vicentina, uma rota cultural e turística da região sudoeste de Portugal, onde estão o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e a Costa Vicentina, que recebem cerca de 300 mil visitantes por ano, por oferecer uma variedade de atrativos naturais como praias desertas, belas paisagens, contato com comunidades tradicionais e trilhas que não exigem acompanhamento de guias.
Ela ressaltou que no Velho Continente há um hábito arraigado da caminhada em áreas naturais e que na região onde desenvolve seu trabalho, apesar de todo o apelo paisagístico e cultural, vários empreendedores somaram esforços no sentido de consolidar produtos turísticos que se prezam pela qualidade e valorização da natureza.
“Apesar da crise econômica profunda na Europa, conseguimos realizar um trabalho que não dependa muito do poder público. Após a longa preparação para a oferta de produtos turísticos pela Casas Brancas, e o trabalho com cinco comunidades envolvidas, oferecemos o produto para os operadores e eles ficaram empolgados. A rota está funcionando com sucesso inclusive em baixa temporada”, afirmou ela.
O mexicano Mauricio Morales Contel, representante da Mexico Verde Expediciones, relatou sua vivência de andanças pelo mundo que o inspiraram a criar programas de turismo de aventura no seu país, em trabalho conjunto com comunidades tradicionais.
Mauricio destacou a necessidade dos empreendedores do turismo valorizarem a identidade cultural da região onde está localizado seu atrativo, respeitando seu legado histórico e cultural. O capricho com detalhes hoteleiros também conta, seja a decoração de um hotel 5 estrelas ou um acampamento; na produção de pratos típicos; na caracterização do vestuário dos funcionários; em atividades de educação ambiental como limpeza de rios; tudo na busca de oferecer experiências únicas aos turistas.
Segundo ele, a imprevisibilidade e o suspense encantam os turistas, como, por exemplo, jantares servidos aos turistas em locais inesperados. Outro exemplo é uma brincadeira no acampamento, que consiste em que os turistas sejam acordados por nativos em trajes típicos tocando tambores rústicos na alvorada: “Os próprios turistas se animam e querem participar, então, todos começam o dia bem-humorados. Quando tens um produto único, podes cobrar bem por ele”, disse.
Pantanal e Jalapão
“…o Jalapão firma-se como destino de turismo de aventura e já foi usado como locação de grandes produções cinematográficas”
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José Sabino, biólogo especialista em biodiversidade da Uniderp Anhanguera, expôs as oportunidades e ameaças da biodiversidade do Pantanal, como o risco da construção de mais de 100 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), que podem comprometer o ciclo hidrológico da planície pantaneira, causar impacto em estoques pesqueiros, na produção pecuária e na qualidade de vida de populações.
“O problema é o efeito cumulativo que pode resultar em diferenças expressivas no pulso de inundação que é a base da vida no Pantanal. Se não for corrigido agora, isso pode repercutir de forma devastadora no Pantanal”, afirmou. Outra ameaça é o mau uso do solo no planalto de entorno da planície pantaneira, que vem ocasionando assoreamento e voçorocas de grande impacto ambiental, como o caso do rio Taquari que se transformou em um quilométrico leque aluvial. “Ninguém é contra a agricultura e pecuária, mas necessita-se que essas atividades geradoras de impactos ambientais sejam norteadas por princípios de boas práticas de conservação de solo”, disse Sabino.
Quanto às oportunidades, Sabino citou o que chama de Ciência Cidadã, ou seja, o papel que a ciência tem em subsidiar a sociedade com informações que venham a nortear atividades econômicas. “Valorar e valorizar a biodiversidade é o melhor caminho. Ou daqui a um tempo a natureza vai romper seus ciclos e isso vai gerar perdas de qualidade de vida. É necessário montar um novo projeto de sociedade com base na economia verde, que pense não só no lucro, mas nos valores dos serviços ambientais que são fundamentais para a sobrevivência da humanidade”.
Lucio Flavio Adorno, da UFT, relatou o processo histórico do desenvolvimento do turismo na região do Jalapão, em Tocantins, que por muito tempo sofreu com o mau uso e visitação descontrolada e sem regulação, mas que atualmente vem passando por um processo de consolidação, apesar da falta de estrutura necessária. Na década de 1980, era um local praticamente abandonado, desolado e sem assistência do poder público. Hoje, o Jalapão firma-se como destino de turismo de aventura e já foi usado como locação de grandes produções cinematográficas.
Avistamento de pássaro cresce
“o incrível aumento no número de observadores de aves no Brasil, levou a regionalização dos eventos do gênero pelo país”
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O analista Rubens de Souza, da empresa MMX, e Ângelo Rabelo, do Instituto Homem Pantaneiro, explanaram sobre as alternativas para a sustentação financeira das privadas, as RPPNs (Reserva Particular de Patrimônio Natural). A reserva Eliezer Batista, da MMX, localiza-se em uma das regiões mais inóspitas e belas do mundo, em pleno Pantanal brasileiro, e integra uma rede de áreas protegidas de 272 mil hectares na divisa de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e a Bolívia.
Rubens relatou que a MMX comprou voluntariamente a área de 20 mil hectares na Serra do Amolar, um maciço rochoso que atua como fundamental retentor de águas na dinâmica hidrológica da planície pantaneira. A empresa fez um acordo de gestão compartilhada com o Instituto Homem Pantaneiro, e esse trabalho resultou em pesquisas sobre a natureza e também sobre o turismo. Ele citou como realizações a catalogação de espécies de peixes, medição do impacto ambiental de embarcações de turismo de pesca em áreas de proteção de estoques pesqueiros e a criação de brigada de combate ao fogo.
A última mesa redonda do dia tratou de Experiências Temáticas. Ismael Escote, da Atlantis Divers, falou sobre o lado comercial do mergulho em Fernando de Noronha; Alexandre Lorenzetto, do INEA, contou sobre a criação de rotas de caminhadas de longo percurso no Brasil.
Guto Carvalho, do Avistar Brasil, relatou o incrível aumento no número de observadores de aves no Brasil, o que levou a Avistar a regionalizar seus eventos. “Vários grupos locais tinham interesse em organizar um evento nos moldes do Avistar Brasil, o qual é nacional. De acordo com o interesse de cada associação ou clube de observadores estamos organizando o Avistar em várias cidades. Isso começou ano passado e esta se expandindo”.
O Conatus 2013 é uma iniciativa da Fundação Neotrópica do Brasil, em parceria com a Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul (Fundtur), a Prefeitura Municipal de Bonito (MS) e a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Os patrocinadores são a MMX, o Instituto Semeia e a Petrobrás. O encontro também recebe apoio de várias entidades, inclusive ((o))eco.
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