De Paris – As áreas naturais protegidas e a conservação da biodiversidade podem ser importantes aliados do clima. Sozinhas, as Unidades de Conservação (UCs) da Amazônia são capazes de guardar 11 vezes mais carbono do que a parcela da floresta não protegida, afirma o italiano Alessandro Baccini, do Centro de Pesquisa Woods Hole.
Baccini liderou a pesquisa “Carbono florestal na Amazônia: a contribuição não reconhecida dos territórios indígenas e áreas naturais protegidas“. Ele esteve no início de julho na conferência científica sobre mudanças climáticas (“Our Common Future Under Climate Change“, em inglês), realizada em Paris, entre os dias 7 e 10 de julho.
O encontro que reuniu dois mil pesquisadores antecedeu a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21), que ocorrerá no fim do ano também na capital francesa.
O estudo comprovou que as 610 unidades de conservação e as 2.954 terras indígenas espalhadas pelos nove países amazônicos – que juntas somam 4,1 milhões de quilômetros quadrados – contêm uma concentração de estoque de carbono gigantesca. Só as áreas protegidas conservam um terço do carbono da Amazônia – 28.247 milhões de toneladas de carbono (MtC) numa área de 2,4 milhões de quilômetros quadrados.
Se comparado ao estoque total das florestas nos trópicos das Américas, África e Ásia juntas, a bacia amazônica armazena o equivalente a 38% de todo o carbono – 86.121 milhões de toneladas de carbono (MtC). Para se ter uma ideia, as florestas da Indonésia guardam uma reserva de carbono de 22.128 MtC e o Congo, o país com importante floresta tropical na África, armazena 18.851 MtC.
“Os povos da floresta e indígenas têm muito respeito pela Amazônia, a veem como um recurso indispensável e suas atividades visam a não destruí-la. Penso que eles e seus conhecimentos tradicionais devem ser incluídos como parte dos esforços para mitigar as mudanças climáticas, pois hoje em dia já temos a real dimensão do quanto de carbono estas áreas guardam”, disse Baccini.
Clima
A Amazônia é a maior porção tropical de floresta do planeta com um imenso reservatório biológico, onde vivem um terço das espécies terrestres de todo o mundo. E ela já é afetada pelas mudanças climáticas.
“O aumento da temperatura de quase 1°C é visível em toda a Amazônia, mesmo em áreas não desmatadas”, afirma Carlos Nobre, membro do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) e um dos mais importantes climatologistas brasileiros. Os cenários futuros indicam maior variabilidade do clima, secas e inundações com mais frequência.
A meta global é frear o aquecimento da Terra em 2°C até o final do século. Mas é provável que as projeções extremas estejam ocorrendo desde já na Amazônia. “O aumento da variabilidade das chuvas talvez seja reflexo disso. Nos últimos 10 anos, tivemos duas mega secas e três inundações”, diz Nobre.
O pesquisador estudou o processo de savanização do bioma em casos de extremos climáticos. Em um cenário em que a temperatura varie entre 2°C e 4°C, ele projeta que uma fatia de 15 a 30% das espécies de plantas da Amazônia deverá desaparecer.
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