Reportagens

Selo do lucro

Em menos de um ano, triplicou a área de produção de madeira certificada na Amazônia. Empresas investem na extração limpa para conquistar mercado internacional.

Raimundo José Pinto ·
21 de outubro de 2004 · 20 anos atrás

A produção de madeira certificada na Amazônia ainda é pequena. São cerca de 500 mil metros cúbicos por ano, não mais do que 2% do total de madeira extraído na região. Mas o número representa um salto imenso. No final de 2003, a região tinha apenas 400 mil hectares produzindo madeira certificada. Hoje, são 1,2 milhão de hectares. O crescimento colocou o Brasil no primeiro lugar em área florestal certificada na América Latina.

Por trás da rápida expansão da madeira certificada estão as regras elementares de qualquer negócio: aumento da demanda e boas perspectivas de lucro. No mercado internacional, onde cresce a exigência por produtos de procedência garantida, o preço da madeira com o selo FSC só faz subir. A sigla em inglês corresponde ao Conselho de Manejo Florestal, e sua certificação é a única reconhecida em todo o mundo.

A Juruá Florestal, madeireira do Pará, foi uma das que decidiram adaptar sua produção para conquistar o selo FSC. Hoje tem conseguido vender algumas espécies com preços 20% acima do que obtinha antes da certificação. “Muitas portas se abriram e tivemos condições de colocar novas espécies no mercado. É um diferencial que facilita as vendas e a obtenção de créditos”, conta um de seus diretores, Idacir Perachi. A empresa tem 37 mil hectares certificados nos municípios paraenses de Tailândia e Novo Repartimento.

Das 12 empresas que produzem madeira certificada na região, nove integram a Associação dos Produtores Florestais Certificados na Amazônia (PFCA), fundada em janeiro de 2003. São elas, além da Juruá, a Cikel Brasil Verde, Emapa, Gethal Amazonas, Precious Woods Pará (Lisboa), Precious Woods Amazon (Mil Madeiras), Ecolog, Madevale e Orsa Florestal (que tem a maior área certificada, com 545.535 hectares na divisa do Pará com o Amapá). As comunidades tradicionais de Seringal Cachoeira, Porto Dias e Pedro Peixoto também se juntaram à associação. A área de produção dos associados chega a um total de 1,1 milhão de hectares. O secretário executivo da PFCA, Marco Lentini, explica que a entidade surgiu em resposta à crescente demanda por madeira certificada, tanto no mercado interno como no externo, “e para difundir o manejo sustentável na Amazônia como alternativa viável para o uso de nossos recursos florestais”.

Manoel Pereira Dias, da Cikel Brasil Verde, diz que a extração é planejada levando em conta as necessidades de crescimento da floresta remanescente. “Isso nos dá condições de aumentar o volume de extração no ciclo seguinte de operação”, afirma. Um dos fortes da empresa é a exportação de maçaranduba certificada para a Holanda, que rende um lucro cerca de 40% maior do que a madeira comum. Enquanto o metro cúbico da maçaranduba serrada com o selo FSC está cotado a 505 dólares, o da madeira não-certificada custa 355 dólares. A Cikel tem 248 mil hectares certificados no Pará, mas pretende levar o selo verde para todos os seus 480 mil hectares de florestas e adquirir novas áreas. A empresa produz pisos maciços, compensados, lâminas faqueadas e torneadas, madeiras serradas, madeiras aparelhadas, dormentes, deques e componentes para jardins, entre outros produtos.

O município de Afuá fica junto à foz do rio Amazonas, na Ilha de Marajó, norte do Pará. Ali, a Emapa (Exportadora de Madeira da Amazônia) explora uma área de apenas 12 hectares, mas que precisa de um manejo todo especial. Ela foi a primeira empresa a conquistar certificação para madeira extraída em área de várzea – terreno baixo e plano, perto do rio. Para isso teve que preservar as características do terreno, utilizando tecnologia tradicional para evitar danos à floresta. Em partes da sua área de exploração, não empregou tratores para fazer o transporte das toras cortadas. Usa búfalos, que arrastam a madeira por pequenas valas abertas na terra até os igarapés. Dá mais trabalho, aumenta um pouco os custos de produção, mas traz também mais bonança aos cofres da empresa. “O selo verde nos deu expressivos ganhos no volume de negócios”, diz Augusto Moreira, seu diretor. “Hoje podemos disputar mercados com outras empresas certificadas”, conclui.

De olho no lucro extra da certificação, a madeireira ajuda a conservar intacta boa parte da cobertura original das florestas de Marajó.

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