A crise hídrica que atormenta a região Sudeste teve a data de nascimento revelada esta semana: abril de 2012. Desde então, a região mais populosa do Brasil perdeu 56 trilhões de litros de água por ano, o equivalente a 32 vezes o volume do reservatório da Guarapiranga. Também é grave a situação na região Nordeste, que perdeu 49 trilhões de litros de água por ano no mesmo período. A notícia vem do espaço: o brasileiro Augusto Getirana, da Nasa, a agência espacial norte-americana, analisou dados de satélites para quantificar a perda de água no Brasil.
O estudo mostra que a maioria dos meses entre 2012 e 2015 foi mais seca do que a média histórica no leste do Brasil. Os dados foram obtidos a partir dos satélites Grace (sigla em inglês para Experimento de Recuperação de Gravidade e Clima), que verificam mudanças no campo gravitacional da Terra desde 2002. Essas variações ocorrem basicamente por mudanças no volume de água no planeta, movimentação de grandes massas de gelo e também por fenômenos como terremotos. Para fazer a análise, Getirana considerou dados desde abril de 2002.
Os últimos 12 meses de dados do Grace são o período de maior escassez hídrica já observada por satélites, segundo o estudo. “Isso significa que essas regiões estão experimentando um período de seca em longo prazo, com secas extremas que ocorrem esporadicamente”, diz a análise. O mês mais seco na região foi abril de 2014. “O período seco está cada vez mais seco”, diz Getirana. “Satélites não preveem o futuro, mas a tendência é de secas mais severas”.
O hidrólogo também afirmou que estudos preliminares indicam que a gravidade da crise hídrica no sudeste brasileiro supera a seca na Califórnia – onde já foram implantados planos emergenciais. “É um alerta para os brasileiros”, diz Getirana.
Um vídeo sobre o estudo divulgado pela NASA mostra um período seco no início dos anos 2000, logo depois da crise hídrica que levou ao racionamento de energia, seguido por um período de abundância nos recursos hídricos. A seca registrada desde 2012, porém, supera em intensidade e duração a crise vivida em 2000 e 2001.
Os dados dos satélites Grace não são analisados em tempo real. O processamento leva de três a cinco meses. Por isso, o estudo de Getirana não considera o período de seca neste ano. Ainda não há como prever uma reversão do quadro de perda de volume hídrico.
De acordo com o último relatório do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o volume de chuvas ficou abaixo da média em grande parte do Brasil em setembro. No centro-sul do país, os níveis pluviométricos superaram o normal para o período – condição atribuída pelos climatologistas ao fenômeno El Niño. Para os próximos meses, o cenário é incerto. O consenso climatológico é de que haverá queda nos volumes médios de chuva na região Norte e em grande parte do Nordeste, além de parte dos estados de Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais.
Em São Paulo as chuvas devem ficar dentro da média. Se essa previsão se confirmar, a Cantareira pode chegar a dezembro com cerca de 15,7% de seu volume armazenado, de acordo com o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação). No fim da estação chuvosa, em março, o volume pode ser de cerca de 43%.
*Este artigo foi publicado originalmente no site do Observatório do Clima, republicado em O Eco através de um acordo de conteúdo. |
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