Imagens inéditas do Rio de Janeiro dos séculos XVIII e XIX são reveladas no livro O Rio de Janeiro na rota dos mares do sul (editora Andrea Jakobsson), de Pedro da Cunha e Menezes. Lançada na sexta-feira, 17 de dezembro, a obra traz 200 pinturas, aquarelas e desenhos encontrados em museus e instituições australianas.
O Rio Janeiro era utilizado como escala para os viajantes europeus que seguiam rumo à Oceania. Durante a parada, que podia durar dias ou meses, naturalistas, artistas e cientistas de várias áreas aproveitavam para explorar esse pedaço do Novo Mundo, registrando o que viam.
O diplomata Pedro da Cunha e Menezes, ex-chefe do Parque Nacional da Tijuca e colunista do O Eco, sempre foi fascinado pelos registros históricos do nosso passado colonial e imperial. Ainda na direção do Parque da Tijuca, começou a pesquisar e catalogar quadros que ilustrassem a relação do homem com a Floresta ao longo do tempo. Numa dessas buscas, deparou-se, maravilhado, com a aquarela View from the summit of the Cacavada (Corcovado), de Augustus Earle. Com igual espanto, descobriu que ela fazia parte do acervo da Biblioteca Nacional da Austrália. Em agosto de 2001, mudanças profissionais o aproximaram irresistivelmente daquela recém-descoberta meada: foi escalado pelo Itamaraty para servir como cônsul adjunto em Sidney.
A pesquisa continuou, e uma após outra surgiram-lhe imagens raras de um Rio de Janeiro quase irreconhecível. Natureza exuberante e águas abundantes — seja nas cachoeiras da floresta tropical seja nos mares e mapas dos navegantes —, a ocupação humana marcando o espaço com suas construções, igrejas, fortes e casarios, e os personagens daquele cenário em situações cotidianas, dos índios aos membros da Corte, do escravo ao imperador. Junto com seu entusiasmo, cresceu a idéia do livro. “Não podia aceitar o fato de, em pleno século XXI, existir tão vasta coleção sobre o Rio de Janeiro enfurnada do outro lado do globo, com muitos itens jamais catalogados pelos principais estudiosos brasileiros do tema”, escreve o autor, na Apresentação.
A luxuosa edição divide-se em duas Partes: Uma Brasiliana na Austrália e O Rio de Janeiro na rota dos mares do sul, a primeira escrita por Menezes e a segunda por Julio Bandeira. Em 13 capítulos temáticos, os textos suscitados pela iconografia passeiam pelos elos entre Brasil e Austrália, pela “cidade global” que era o Rio da época, pelos trabalhos científicos e artísticos, os costumes do povo, as histórias da Floresta da Tijuca e as peculiaridades naturais e sociais que compuseram no Rio uma receita única e inigualável.
Ao fim do livro, o texto inteiro vem reproduzido em inglês, numa justa providência de quem não se conforma em ver preciosas fontes de conhecimento serem desperdiçadas por descuido.
Leia também
Entrando no Clima#41 – COP29: O jogo só acaba quando termina
A 29ª Conferência do Clima chegou ao seu último dia, sem vislumbres de que ela vai, de fato, acabar. →
Supremo garante a proteção de manguezais no país todo
Decisão do STF proíbe criação de camarão em manguezais, ecossistemas de rica biodiversidade, berçários de variadas espécies e que estocam grandes quantidades de carbono →
A Floresta vista da favela
Turismo de base comunitária nas favelas do Guararapes e Cerro-Corá, no Rio de Janeiro, mostra a relação direta dos moradores com a Floresta da Tijuca →