No início de março os evangélicos americanos anunciaram que a luta contra o aquecimento global deveria fazer parte das preocupações religiosas dos fiéis. A declaração surpreendeu. Afinal, meio ambiente nunca foi exatamente tema popular em altares e púlpitos. No Brasil também não. Mas há grupos se mobilizando para mudar esta situação. Em 2003 a ong evangélica Fale mobilizou 40 mil fiéis para protestar contra o desmatamento da Amazônia. Em junho deste ano, a entidade pretende reunir um contingente ainda maior pela preservação dos mananciais do país.
As brechas para a ecologia no discurso religioso aparecem em diversas passagens da bíblia. Adão e Eva, quando enviados ao Jardim do Éden, receberam a recomendação de manter intacta a natureza local. No site da Fale são citados salmos e uma passagem do livro de Mateus que fazem referências à natureza. A cada dois meses, a Fale distribui cartões-postais em igrejas evangélicas de todo o país com mensagens para uma autoridade que tenha o poder de interferir em problemas sociais ou ambientais. Em setembro de 2003, o tema escolhido foi o desmatamento da Amazônia.
Os fiéis receberam uma carta padrão e a enviaram ao presidente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (ABIMCI), Odelir Battistella. A adesão foi de 100%, fazendo a Associação receber 40 mil cartões contra o desmatamento. Os evangélicos não ficaram sem resposta. Receberam revistas ecológicas publicadas pela ABIMCI, uma forma de dizer que a associação já se preocupava com questões ambientais.
Em junho deste ano, mês do meio ambiente, os postais vão falar da importância dos recursos hídricos. Marcus Vinicius Matos, coordenador da Fale, diz que ainda é cedo para decidir quem será o destinatário. Do jeito que andam as coisas em Brasília, fica difícil prever quem será o manda-chuva a ficar sob pressão.
No V Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, em janeiro, religião e meio ambiente foram tema de uma oficina ecumênica que resultou no manifesto “Jubileu da Terra”. Lideradas pela ong Visão Mundial e pelo Conselho Latino Americano de Igrejas (CLAI), as entidades religiosas planejam incluir a ecologia nas lições da escola dominical e em publicações evangélicas. Para isso já estão elaborando materiais didáticos para serem distribuídos aos fiéis. Em maio, a revista Ultimato, de circulação nacional, terá um encarte sobre ecologia. Em junho, no Encontro Nacional de Igrejas, serão lançados a cartilha ambiental do CLAI e um livro escrito pelo professor Milton Schawantes, da Universidade Metodista de São Bernardo do Campo (SP), e pela ministra Marina Silva, também evangélica, comentando as propostas apresentadas na oficina de Porto Alegre.
Ainda este ano, outra entidade ambientalista cristã deve aportar no Brasil. É a ong A Rocha, criada em 1983 em Portugal. Presente em doze países, ela se auto-define como “uma organização internacional de conservação da natureza trabalhando para cuidar do mundo de Deus”.
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