Os manguezais localizados nas regiões sudeste e sul do Brasil são os mais vulneráveis aos efeitos das mudanças do clima, com a subida do nível do mar. A conclusão é resultado de um estudo publicado na última semana pela editora científica Springer Nature. A pesquisa reforça ainda a necessidade de conservar estes ecossistemas costeiros que são ricos em nutrientes e servem de berçário para vida marinha.
O estudo, publicado em forma de capítulo no livro Tropical Marine Environments of Brazil, é assinado por nove cientistas de quatro instituições brasileiras: o Instituto Tecnológico Vale (ITV), a Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade de São Paulo (USP).
A presença dos manguezais está associada a processos costeiros como o regime das marés, correntes marítimas e a salinidade. Para realizar o estudo, os pesquisadores analisaram as características geológicas, geomorfológicas, oceanográficas e climáticas para entender como regiões distintas de manguezais se comportam ao longo da costa brasileira.
Com base nessas características, eles dividiram as áreas de ocorrência da vegetação de mangue em quatro setores costeiros: Norte, Nordeste, Leste e Sudeste. Dentre os quais o Sudeste – que concentra o litoral das regiões sul e sudeste do país – revelaram-se os mais suscetíveis à subida do nível do mar.
“O principal fator que controla essa vulnerabilidade é a morfologia costeira”, aponta o geólogo Pedro Walfir, professor da UFPA e do ITV e autor principal do trabalho, em entrevista à Agência Bori.
Na região Norte as áreas de costa são formadas por planícies extensas, o que permite que o manguezal se expanda e colonize novos habitats a partir do aumento do nível do mar. Enquanto no Sudeste, o litoral está próximo de áreas com grande altitude, como a Serra do Mar, o que reduz as perspectivas de expansão. Além disso, a influência de rodovias, estradas e barragens tem a capacidade de afetar a vida dos mangues nesse cenário de aumento do nível do mar.
Outro fator importante é a variação da maré. De acordo com Walfir, “a maré na região Norte chega a variar até seis metros, o que gera extensas planícies alagáveis propícias para o desenvolvimento de mangues, cujas franjas litorâneas chegam a ter 30 quilômetros de largura”. Já na região Sudeste, essas marés variam apenas alguns centímetros, o que limita a possibilidade de ocupar o habitat.
Isso soma-se ainda a eventos que são consequências de ações humanas, como o assoreamento de rios e salinização de estuários, que já afetam diretamente a disponibilidade de várias espécies que servem de sustento às comunidades, como caranguejos.
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