Vai ficando cada vez mais difícil atingir a meta do Acordo de Paris e limitar a 1,5°C o aquecimento do planeta. O serviço climático da União Europeia confirmou que, pela primeira vez na história das medições, as temperaturas atingiram esse limite ao longo de um ano inteiro. Nesse contexto, a COP 29 foi um importante marco e trouxe um vislumbre de esperança para a pauta climática, mas seus resultados ficaram muito aquém do necessário.
O encontro de Baku ficou marcado pela timidez dos acordos em relação ao financiamento e à mitigação das mudanças climáticas. Agora o Brasil tem um longo ano pela frente. A organização da conferência de Belém representa um desafio para o país, que ficou com a missão de retomar o sistema multilateral climático, enfraquecido por acordos pouco ousados. Como afirmou a ministra Marina Silva, o Brasil está ciente do desafio coletivo que está colocado. O tamanho da COP de Belém será a soma dos compromissos que fomos capazes de tecer nos últimos 30 anos. O que está posto, o equilíbrio da vida na terra.
Com a escala dos desafios climáticos, cresce o protagonismo das cidades e estados, que têm a capacidade de implementar políticas que considerem as especificidades de cada região e os desafios concretos enfrentados pelas populações. No momento em que negacionistas climáticos como Donald Trump voltam ao poder, surge uma janela de oportunidade para que entes subnacionais se apropriem da pauta e assumam a responsabilidade de liderar ações concretas. Se o cenário global mostra sinais de retrocesso, as autoridades estaduais e municipais podem (e devem) ter um papel relevante.
Governos locais também têm uma capacidade única de mobilizar a sociedade e criar parcerias que fortalecem a resiliência das cidades e comunidades. Ao definir metas claras, promover ações mais práticas e se integrar a redes internacionais de comprometimento climático, eles podem se consolidar como protagonistas na solução de um dos maiores desafios do nosso tempo. No caso do Brasil, a liderança de Marina Silva frente às iniciativas federais pode também encabeçar ações locais.
O futuro da nossa casa comum depende da habilidade de todos agirem com determinação e coragem, de forma que as promessas se traduzam em mudanças reais e significativas. Como na metáfora da família, onde a ação de cada indivíduo tem impacto direto sobre o ambiente coletivo, os compromissos dos países, estados e municípios em relação ao planeta devem ser articulados para que sejam efetivos.
Como anfitrião da próxima conferência, o país deve liderar o processo de reconstrução do diálogo climático. A nosso favor, uma longa história na diplomacia ambiental, lideranças comprometidas e um grande potencial energético, de riquezas naturais e biodiversidade. Esse fórum de diálogo nos lembra que a responsabilidade compartilhada é o caminho para um futuro possível no planeta. O tempo está se esgotando para nós, e a COP 30 precisa ser mais do que um evento simbólico.
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