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Lula pede fim do desmatamento e do uso de combustíveis fósseis na abertura da Cúpula

ONGs esperam que a conferência transforme discursos em ações para conter danos ambientais e socioeconômicos

Aldem Bourscheit ·
6 de novembro de 2025

Belém (PA) – Na abertura da Cúpula de Líderes que precede a COP30, o presidente Luís Inácio Lula da Silva pediu um “mapa do caminho” para mobilizar recursos, reverter o desmate e superar a dependência mundial dos combustíveis fósseis.

Segundo ele, a humanidade reconheceu os impactos dos combustíveis fósseis na mudança do clima há mais de 35 anos, mas essas agendas só foram formalmente reconhecidas em Dubai – na COP28, em 2023. E na conferência seguinte, no Azerbaijão, foi admitida a necessidade de ampliar o financiamento climático para US$ 1,3 trilhão.

“Belém honrará os legados das COPs 28 e 29”, afirmou Lula. “Acelerar a transição energética e proteger a natureza são duas maneiras mais efetivas de conter o aquecimento global”, defendeu.

Diante disso, o secretário-executivo do Observatório do Clima (OC), Márcio Astrini, espera uma proposta formal da presidência da conferência – sob a batuta do Brasil –  para eliminar o desmate e os combustíveis fósseis. “O sucesso da COP30 se dará ao transformar as palavras do presidente brasileiro em resolução final”.

Em seu discurso, o Lula destacou que, graças ao acordo climático de Paris, de 2015, o mundo evitou um aumento da temperatura média global de 5°C. “Provamos que a mobilização coletiva gera resultados”, disse. Mas ações de longo prazo seriam prejudicadas pelo cenário global de insegurança e desconfiança.

“O ano de 2024 foi o primeiro ano em que a temperatura média da Terra ultrapassou 1,5°C acima dos níveis pré-industriais”, destacou. “A ciência já indica que essa elevação vai se estender por algum tempo ou até décadas, mas não podemos abandonar o objetivo do acordo de Paris”. 

Já o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reforçou ser preciso cortar rapidamente o uso de carvão, petróleo e gás, mas acusou o lobby dos combustíveis fósseis de “sabotar a estabilização do clima por meio de desinformação e subsídios”.

Complicando o cenário climático, as metas nacionais para corte de emissões até agora apresentadas pelos países podem levar o planeta a aquecer 2,5°C nos próximos anos. O preço podem ser perdas humanas e materiais ainda maiores.

“Mais de 250 mil pessoas poderão morrer a cada ano. O PIB global pode encolher até 30%”, alertou Lula. “Por isso, a COP30 será a COP da verdade. É o momento de levar a sério os alertas da ciência”, pediu.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa na Abertura da Sessão Plenária Geral dos Líderes Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas COP 30. Foto Hermes Caruzo/COP30

Apesar disso, o discurso do presidente Lula não tocou na adaptação à crise do clima, lembrou a especialista em clima do WWF-Brasil, Flávia Martinelli. “Esse é um destaque para a Presidência da COP30, ação necessária e urgente para diminuir os impactos desses cenários de eventos cada vez mais extremos”.

Nesse sentido, Guterres reforçou na abertura da Cúpula que o fracasso em manter o aquecimento abaixo de 1,5°C é uma “falha moral” e uma “negligência mortal” das nações globais. “Isso pode causar danos irreversíveis e instabilidade global”, destacou.

Num apelo direto aos líderes, o secretário-geral da ONU afirmou que os países devem “escolher liderar ou ser levados à ruína”, pedindo uma transição acelerada para energias limpas e uma cooperação internacional mais firme para enfrentar crises como a do clima. 

Para tanto, Lula destacou que será preciso enfrentar as divergências entre as nações. Para ele, os líderes globais devem discutir tudo para além dos muros da convenção, já que as diretrizes firmadas na Cúpula, até amanhã (7), definirão o tom das negociações na COP30.

“O combate à mudança do clima deve estar no centro das decisões de cada governo, de cada empresa e de cada pessoa. O conceito de mutirão que traduz o esforço coletivo em torno de um objetivo comum é o espírito que vai animar Belém”, disse.

Por isso, para a diretora-executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, além do discurso forte, será preciso concretizar a promessa de sairmos da COP30 com um mapa do caminho para reverter o desmatamento até o fim da década e superar a dependência dos fósseis. 

“O desafio agora é transformar essas palavras em ação. Seguir insistindo em explorar petróleo na Foz do Amazonas ou atrasar a demarcação de territórios indígenas, que aguardam há décadas por essa garantia, expõe contradições que não cabem em um momento tão importante para o nosso país e para o Planeta”, disse. 

  • Aldem Bourscheit

    Jornalista cobrindo há mais de duas décadas temas como Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Ciência, Agron...

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