
Uma alternativa vem de redes de permacultura que estão se mobilizando em todo o mundo para angariar pessoas e recursos e levar técnicas construtivas e de produção de alimentos ao Haiti. Os grupos reconhecem a urgência da ajuda para reconstrução da pátria de dez milhões de pessoas, mas questionam o quê pode ser feito para garantir o sustento da população em médio e longo prazos, bem como auxiliar na recuperação ambiental do país.
De acordo com os permacultores, é possível levar ao destroçado Haiti tecnologias permanentes para construção com adobe (terra), captação e armazenamento de água, energias renováveis, sistemas agroflorestais para produção de madeira e alimento, reflorestamento, aquacultura e outras iniciativas. Tudo com baixo custo, sem agrotóxicos e aproveitando apenas recursos locais. “Ao contrário do que fazem grandes empreiteiras, que já estão lá para reconstruir o país nos moldes de sempre, a permacultura não força a importação de matérias-primas de outros países, mas promove o uso de recursos do próprio Haiti, inclusive aproveitando madeiras e triturando o próprio concreto que sobrou do terremoto”, explica Marcelo Bueno, do Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica – Ipema, de Ubatuba (SP).
Experiências não faltam. Técnicas semelhantes vem sendo usadas em Uganda, Jordânia, Espanha e México, e também ajudaram populações durante a guerra do Kosovo, em 1999. Mas um dos melhores exemplos vem de uma ilha vizinha do Haiti, conta Bueno. Empurrado pelas barreiras comerciais de sempre e com quebra do apoio soviético, nos anos 1990, Cuba aprendeu a produzir alimentos em todo o espaço possível. “Eles recuperaram técnicas agrícolas tradicionais e produzem alimentos orgânicos no país todo, inclusive nas cidades, onde antes havia terrenos baldios, pois não tinham sequer combustível para trazer a produção do campo”, contou.
Mais informações (em inglês) sobre as iniciativas de permacultura para o Haiti neste atalho.
Conforme agências internacionais, pelo menos cem mil famílias rurais precisam de apoio para o plantio de primavera, que começa neste mês de março e é responsável por seis em cada dez quilos de alimentos produzidos no país. Outras cem mil famílias urbanas precisam de ajuda para produzir legumes e verduras de consumo próprio. Por isso, as Nações Unidas avaliam que a prioridade absoluta é produzir alimentos, inclusive para conter o êxodo rural para as cidades, onde uma massa de desempregados e sem posses estimada em 500 mil pessoas se acumula.
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