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A praga da soja

Estudo indica que, das 78 terras indígenas mato-grossenses, pelo menos 30 estão em municípios com um mínimo de 10 mil hectares cobertos por grãos.

Redação ((o))eco ·
24 de setembro de 2010 · 15 anos atrás
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A soja é para o Mato Grosso seu progresso e sua tragédia. O estado é um dos que mais desmatam vegetações naturais no país, em boa parte para substituir a paisagem por grãos. A secretaria de meio ambiente reconhece que até 2007 foram abaixo 175 mil km2 do bioma amazônico e outros 150 mil km2 de Cerrado. Até aí, nenhuma novidade. Um amplo estudo do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis, órgão da entidade sem fins lucrativos Repórter Brasil, divulgado nesta quarta-feira, porém, revelou como acontece a invasão dos grãos em Terras Indígenas (TI) e os impactos negativos desta atividade econômica para o meio ambiente e as populações tradicionais do estado.

De acordo com dados de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54 dos 141 municípios de Mato Grosso tinham, à época, entre 10 mil e 575 mil hectares de soja. Além disso, apenas 44 não tinham registro de incidência deste tipo de cultura. Já entre as 78 terras indígenas, ao menos 30 estão localizadas em cidades com mais de 10 mil ha ocupados pela produção de grãos.

O caso mais grave, afirma o relatório, é da TI Maraiwatsede, criada pelo governo federal em 1998 com 165 mil hectares. Até hoje, cerca de 90% de seu território são ocupados por soja, arroz e gado, criados e cultivados ilegalmente por fazendeiros e posseiros sem qualquer origem indígena.  O resultado: 45% da cobertura vegetal nativa da área já foram derrubados, segundo estimativa do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam). Em levantamento recente, a Funai declarou que a terra indígena tem por volta de 70 fazendas de maior porte, e seus donos são ninguém menos do que prefeitos, ex-prefeitos, familiares e outros políticos de São Felix do Araguaia e Alto da Boa Vista, no nordeste do estado.

O estudo da Repórter Brasil também alerta para análise realizada pelo Instituto Socioambiental (ISA), segundo a qual a dieta dos Xavantes (índios que, em tese, deveriam ocupar a Maraiwatsede integralmente) é composta por raízes silvestres, castanhas, frutos e outros vegetais, além da caça e pesca. Tudo isto, no entanto, é prejudicado pelos desmatamentos. O mesmo acontece com as matérias-primas usadas para confecção das casas e artesanatos.

Confira aqui o relatório completo.

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