Manaus, AM – Graças ao furtos de sementes praticados pela cotias, palmeiras da América Central puderam sobreviver à extinção de seus principais dispersores, os mastodontes, ocorrida cerca de 10 mil anos atrás. Depois de estudo com duração de um ano realizado no Panamá, pesquisa que demonstra a importância dos roedores para a palmeira Astrocaryum standleyanum foi publicada na edição desta semana da revista PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.
Já era conhecido o hábito das cotias enterrarem frutos que serão consumidos depois, mas o estudo demonstra que elas costumam também roubar os estoques deixados por vizinhos e carregá-los para lugares distantes. E podem repetir o processo várias vezes antes de se alimentar. De acordo com o artigo, uma semente foi enterrada 36 vezes até que finalmente foi devorada. Cerca de 14% das sementes sobreviveram por período que pode durar 1 ano.
A ação coletiva dos roedores substitui o trabalho dos grandes mamíferos, que engoliam e carregavam as sementes por longas distâncias no aparelho digestivo, até que fossem eliminadas. “Como os roedores roubam a mesma semente muitas vezes, ela é levada para um lugar remoto, onde um animal sozinho nunca alcançaria”, afirma um dos autores do estudo, o zoologista Roland Kays, da Universidade Estadual e do Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte (EUA).
Apesar de parecer um costume feio, o roubo praticado pelas cotias ajuda a natureza. Ao levar as sementes para longe das árvores-mães, as cotias garantem condições para que uma nova árvore possa se desenvolver. Isto é, claro, se não for consumida antes. De acordo com os pesquisadores, a dispersão afasta as sementes de predadores e de doenças. Também permite a colonização de novas áreas e a troca de genes entre diferentes populações da espécie.
Para conhecer o responsável pela sobrevivência da palmeira, os cientistas do Instituto de Pesquisas Tropicais do Smithsonian fixaram transmissores a mais de 400 sementes e montaram um esquema de monitoramento com armadilhas fotográficas. Além disso, identificaram as cotias com etiquetas, para saber quem estava levando os frutos. “Havia o mistério de como estas árvores sobreviveram, e agora temos uma possível resposta”, comemora Kays. O grupo inclui também pesquisadores do Reino Unido, Alemanha, Países Baixos e Bélgica.
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Saiba mais:
Artigo: Roedores larápios como dispersores de sementes substitutos à megafauna (Thieving Rodents as Substitute Dispersers of Megafaunal Seeds). Publicado na edição online desta semana (16/07/2011), da revista Proceedings of the National Academy of Science.
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