Oscar Hennig é oceanógrafo formado pela Universidade do Rio da Janeiro com mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina e doutorado no Japão. Trabalha no Havaí. Oscar ocupa cargo de chefia em uma instituição de pesquisa americana. Gosta da vida que leva, mas sente falta do Brasil, país que ama acima de tudo.
Helena Artmann é uma das maiores montanhistas que o Brasil já produziu. Tem o MacKinley, o Elbrus e o Aconcágua em seu currículo. Mora no Canadá. Largou “tudo no Brasil para virar imigrante…foi por absoluta falta de esperança no seu futuro, no futuro de um filho que ainda quer ter” (vide coluna Sob o Sol do Canadá, de Helena Artmann, aqui em O Eco).
Sílvio Manfredi foi o mais jovem jogador de polo aquático a diputar uma olímpiada pelo Brasil. Graduou-se em fisioterapia e especializou-se em atendimento geriátrico. Mantém pessoas idosas em condições de fazer esportes, especialmente esportes de natureza, pelos quais tem predileção. Silvio não cuida de idosos brasileiros. Faz cerca de 20 anos, mudou-se com armas, bagagens e sungas para Montreal.
Outro campeão pela seleção brasileira de polo aquático, Francisco Chaves, casou-se com Tessa de Carvalho, atleta que defendou o Brasil em nado sincronizado. A filha do casal, Luisa, filha de peixes, peixinha é. Atualmente é a capitã da seleção feminina de pólo aquático da Austrália, país que acolheu Francisco e Tessa quando eles desistiram do Brasil.
O padrão se repete pela Europa, Estados Unidos e Japão, para onde levas de brasileiros estão se dirigindo em busca de emprego, amedrontadas com a violência do Brasil ou simplesmente desidiludidas com um país que ainda não acertou os valores morais que quer ter.
Em minha última viagem de férias ao Brasil (moro temporariamente no Quênia), impressionou-me o pessimismo com relação ao futuro do país. Pessimismo realçado entre o setor capacitado da classe média, que olha cada vez mais para o aeroporto em busca da saída para as mazelas nacionais.
Na praia, um grupo de amigos só conseguia falar em deixar o Brasil. Um deles, ex-piloto da Varig voando na Coréia passava a folga de uma semana no Rio. Afirmou que “de certa forma a falência da companhia foi uma benção que o tirou do inferno e da insegurança de se viver por aqui”. Segundo ele, metade dos 40 pilotos que estão em Dubai e na Coréia pensam em não voltar a viver no Brasil.
É triste, o êxodo consite em uma fuga de cérebros que custa caro ao país. Muitas vezes tratam-se de profissionais formados em unversidades públicas, custeadas com dinheiro do contribuinte. Farão falta agora que o presidente Lula quer alavancar o crescimento econômico do país. Sua formação e conhecimento nos seriam importantes nesse momento crítico.
Um amigo, montanhista convicto, também está desolado. Para ele, não são as pessoas que estão deixando o Brasil, mas o país que as está expulsando com seus indíces inaceitáveis de violência, sua carga tributária acachapante e a falta de valores morais da maioria esmagadora da população. Emendou o discurso revoltado com uma veemente crítica ao aumento do ingresso nas partidas de futebol no Maracanã e ao novo plano de manejo o Parque Nacional da Floresta da Tijuca, que prevê a cobrança de ingresso para a entrada naquela Unidade de Conservação.
Mais tarde, terminada a praia, fomos ao cinema ver uma reapresentação do filme “Uma Verdade Incoveniente” de Al Gore. Éramos meia dúzia de amigos. Achei o ingresso caro. Fui o único a pagar inteira. O resto do grupo sacou carteiras de estudantes e comprou apenas meia-entrada.
Os documentos eram todos falsificados, ninguém ali estudava e todos tinham empregos com bons salários. Do jeito que a coisa vai, também pagarão meia entrada quando o ingresso finalmente for estabelecido na Floresta da Tijuca. Continuarão a reclamar do Brasil, mas não deixarão de viver nele. Talvez não se dêm conta, mas parecem gostar desse jeito autodestrutivo de ser.
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