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Taiamã, Dia 04: O grande encontro

No quarto dia da expedição que estuda o comportamento das onças-pintadas dentro de reserva no Mato Grosso, pesquisadores encontram macho de 82 kg e 6 anos de vida. Veja fotos.

10 de outubro de 2011 · 14 anos atrás
  • Adriano Gambarini

    Fotógrafo profissional desde 1991. Vencedor do Prêmio Comunique-se, é geólogo de formação, com especialização em história natural e espeleologia, autor de 20 livros e diretor de dezenas de documentários.

Nesta semana, Adriano Gambarini acompanha a expedição à Estação Ecológica de Taiamã, no Mato Grosso. Ele conta aqui o dia-a-dia dos pesquisadores e o monitoramento das onças pintadas.

 

DIA 04

 

O primeiro contato visual com a onça. Foto: Adriano Gambarini
O primeiro contato visual com a onça. Foto: Adriano Gambarini
O blog de hoje começa na noite de sexta-feira, quando saímos para checar os laços, às 23 hs. Primeiro e segundo ponto de fixação dos laços, sem novidades. Uma lua quase cheia está facilitando nossa navegação pelo rio com a voadeira, bravamente pilotada por Daniel Kantek, biólogo da Estação Ecológica Taiamã, onde desde terça acompanho uma expediçao do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP). No terceiro ponto, onde um pesquisador teve um encontro direto com uma onça pintada no ano passado, chegamos esperançosos e em muito silencio. A voadeira encosta sorrateira no barranco, e uma única frase ecoa no silencio do rio:

“Óia, tem bicho aí! Escuta só o barulho de metal!”, exclama Fred Gemesiom, nitidamente extasiado com a situação. Ao mesmo tempo, Rogério escuta o ‘bip’ que o sistema de alarme está ativado.

Um parênteses explicativo: para que possamos otimizar o tempo de checagem dos laços, foi instalado um tipo de transmissor ligado por um imperceptível fio ao sistema de disparo do laço. Se acionado, conseguimos escutar via rádio quando o laço está ativado. Nem precisamos dizer que ao longo deste dia tivemos várias expectativas frustradas, quando teiús, urubus e carcarás rondaram o laço disparando esse alarme!

 

“Os primeiros a entrarem na trilha olham com deslumbramento para nós. Uma enorme onça-pintada está deitada no meio da folhagem!”
Os primeiros a entrarem na trilha até alcançar um ponto de verificação foram Fred e Ronaldo Morato, veterinário e chefe do CENAP, responsável pelos anestésicos e tratamentos veterinários (juntamente com Selma Onuma, também veterinária). Olham com deslumbramento para nós, ainda dentro da voadeira. Uma enorme onça-pintada está deitada no meio da folhagem!

Agora o próximo passo é anestesiar a onça, para que ela não se estresse com nossa presença por ali. Enquanto Ronaldo e Selma preparam o dardo anestésico, procuro pelos olhos brilhantes no meio da ramagem, numa tentativa meio ousada de um registro fotográfico. Faço dois cliques da onça me olhando com curiosidade amedrontada, mas tranqüila. Ronaldo entra novamente na trilha, busca o melhor angulo e dá o tiro certeiro (de anestésico, caros leitores!).

Apos alguns minutos e a onça já está sedada. Todos da equipe assumem rapidamente suas funções; Ronaldo e Selma trabalham no monitoramento anestésico e coleta de amostras do animal, enquanto Fred e Rogério se ocupam da biometria (medição das patas, dentes, diâmetro do corpo, cabeça etc) e da colocação do rádio-colar com GPS. Os procedimentos são feitos com muita eficiência para que a segurança da onça esteja acima de tudo.

A última etapa foi da pesagem; 82 kilos de puro músculo, num macho com cerca de seis anos (de acordo com Ronaldo). Fotos da equipe, anestesiados pela felicidade absoluta (apesar das hordas de mosquitos insistindo em participar!) e ficamos até às 4 horas da manhã monitorando a recuperação da onça, com Ronaldo e Selma acompanhando os sinais vitais a cada trinta minutos.

Tudo ocorreu perfeitamente bem, e agora há pouco, às 16 horas, escutamos o sinal de atividade do colar, ou seja, a onça já está novamente caminhando livre pelos campos de Taiamã. E como não poderia faltar um quê de graça, demos o nome de Jairzão à onça, em homenagem ao chefe da Esec de Taiamã, Jair Mattia, há mais de doze anos na labuta de conservar este pedaço de terra no Rio Paraguai.

Clique nas imagens para ampliá-las

  Em poucos minutos a onça já demonstra sinais de sedação.
Ronaldo e Selma (ao fundo) acompanham sinais anestésicos enquanto Fred (à frente) inicia a colocação do radio-colar.  
As marcas chamadas Rosetas são como as digitais de uma onça. Ronaldo ausculta os batimentos da onça, enquanto Rogério mede as patas com paquímetro.
Medição das almofadas das patas da onça. O tamanho da pata é incrível!
  Onça já em recuperação do anestésico, com o radio-colar.
‘Jairzão’ descansa tranquilamente entre as ramagens.

 

 

 

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