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Com nova sede, Guaxindiba luta contra queimadas

A Estação Ecológica fica em São Francisco de Itabapoana onde a resistência dos proprietários locais e os incêndios ainda são a regra.

Fabíola Ortiz ·
10 de dezembro de 2013 · 11 anos atrás

Visão aérea da da nova sede da Estação Ecológica Guaxindiba, no Rio de Janeiro. Foto: divulgação
Visão aérea da da nova sede da Estação Ecológica Guaxindiba, no Rio de Janeiro. Foto: divulgação

Rio de Janeiro – Em meio a plantações de cana de açúcar e abacaxi, a Estação Ecológica de Guaxindiba, no nordeste do estado do Rio de Janeiro, luta para sobreviver às queimadas. A última ocorreu no dia 19 de novembro e consumiu o equivalente a quatro campos de futebol, destruindo quase toda a vegetação do brejo da floresta, onde se suspeita que o incêndio tenha começado. São grandes os indícios de que o fogo tenha sido criminoso. Na região há fazendeiros que têm sofrido desapropriações e podem estar insatisfeitos.
 
“Continuam havendo incêndios provocados. O último ocorreu há duas semanas e os guarda-parques com a ajuda de bombeiros levaram entre três e quatro dias para apagar”, disse a ((o))eco Patrícia Figueiredo, gerente das Unidades de Conservação de Proteção Integral do INEA (Instituto Estadual do Ambiente).

Em um histórico de queimadas, Guaxindiba sofreu, em 2007, dois grandes incêndios florestais, que devastaram cerca de 6 mil metros quadrados de vegetação. Na ocasião, dois proprietários rurais foram autuados por promoverem as queimadas que levaram ao incêndio florestal. De acordo com a legislação estadual (Lei Estadual 2049/92), podem ser punidos tanto produtores quanto às usinas que beneficiarem a cana colhida após queimadas.

Em 10 anos, primeira sede

De origem Tupi, a palavra Guaxindiba – que quer dizer “vassouras em abundância”, referindo-se à região por possuir extensos campos com a herbácea do gênero – deu nome à estação ecológica por estar inserida na bacia do próprio rio Guaxindiba. Mesmo com contratempos e dificuldades, em 2012, a unidade estadual completou 10 anos de existência e só agora inaugurou a sua primeira sede administrativa, com direito a centro de visitantes, alojamento tanto para pesquisadores quando para guarda-parques, e até mesmo um mirante e anfiteatro. O projeto saiu por R$ 3,4 milhões.

Nos 830 m² de área construída, a sustentabilidade se faz no tijolo ecológico usado na construção, no reuso de águas pluviais para jardins, descarga sanitária e limpeza; assim como no aquecimento de água através de energia solar, ventilação cruzada entre ambientes,  telhado e parede verde para diminuir a temperatura do ambiente; sem contar um biodigestor para tratar o esgoto sanitário.

As instalações. Clique nas imagens para ampliá-las.

Para Patrícia, a construção da sede e do alojamento dos guarda-parques é “fundamental para o controle e o combate aos sucessivos incêndios, à supressão ilegal de árvores e caça irregular”. Outro desafio é dinamizar as pesquisas científicas realizadas na região. Nos 3.260 hectares da estação ecológica vivem 9 espécies que constam da lista da fauna ameaçada de extinção do estado.

Entre os animais que encontram refúgio em Guaxindiba estão o gongolo-gigante, uma espécie de centopeia bastante rara, e mamíferos como preás, capivaras, cachorros-do-mato, jaguatiricas, bugios e a rara preguiça-de-coleira ameaçada de extinção. Nos brejos é possível também encontrar o jacaré-de-papo-amarelo e aves igualmente ameaçadas, como o papagaio chauá e o gavião-pombo. A mata abriga espécies de 36 famílias botânicas e também é cobiçada pela extração seletiva de madeiras nobres, como a ameaçadíssima peroba-de-campos, jacarandá-da-bahia, angico e o pau-ferro.

“A sede agora está colada à unidade e, então, vai facilitar a fiscalização diária feita pelos 8 guarda-parques”, disse Patrícia.

Segundo ela, não é raro avistar homens adentrando a mata para provocar incêndios ou para caçar. Segundo o INEA, esta é a única UC do estado que está praticamente com a questão fundiária resolvida. “A gente ainda não está com a posse definitiva porque há fazendeiros recorrendo na justiça do valor da desapropriação”.

Patrimônio da humanidade

Reconhecida como patrimônio da humanidade pelo programa “Homem e Biosfera” da UNESCO, a Estação Ecológica de Guaxindiba foi criada em 2002 devido às constantes denúncias de ambientalistas e técnicos dos órgãos ambientais para frear a destruição da área que era conhecida como “Mata do Carvão”, pois de lá se extraía madeira para abastecer as carvoarias da região.

Segundo André Ilha, superintende de Biodiversidade do INEA, houve “feroz oposição de alguns proprietários rurais da região” que profetizavam uma suposta “catástrofe social” com a proteção de seus escassos 3.260 hectares de mata.

Patrícia Figueiredo explica que, desde a criação do INEA, em 2009, uma das principais metas é promover a implantação de estruturas físicas nas UCs. “As unidades demandavam novas edificações para sedes administrativas, alojamento de pesquisadores e de guarda-parques, centro de visitantes e residência funcional para os chefes. Hoje temos projetos e obras sendo realizadas em todas as nossas unidades”.

A Estação Ecológica de Guaxindiba não será aberta à visitação para fins recreativos, porém sua administração pretende acolher grupos de estudantes. Eles contarão com um centro de visitantes, uma torre de observação com visão total da estação e uma trilha interpretativa que percorre a mata. Dentro do centro de visitantes haverá uma exposição da fauna ameaçada de extinção no estado do Rio de Janeiro.

Clique nas imagens para ampliá-las e ler as legendas

 

 *editado às 15h50 do dia 13/12

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  • Fabíola Ortiz

    Jornalista e historiadora. Nascida no Rio, cobre temas de desenvolvimento sustentável. Radicada na Alemanha.

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