Manaus, AM – O cenário já era ruim. O Linhão de Tucuruí iria passar bem perto, quase tocando os limites da Reserva Florestal Adolpho Ducke, um bloco com quase 10 mil hectares de floresta ao norte da cidade de Manaus, administrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). A fragmentação decorrente dessa passagem causaria problemas. Um deles é o efeito borda, ressecamento e morte de árvores a partir dos limites da área desmatada em direção o interior da floresta. Outro é o isolamento das plantas e animais que vivem na área, que podem perder a conexão com o bloco de floresta do entorno.
Agora, ficou pior. Pesquisadores do Inpa denunciam que o Linhão está cortando uma parte da reserva. Eles visitaram o local e prepararam um relatório, que demonstra que árvores foram cortadas e que estradas clandestinas foram abertas dentro da Reserva Ducke. “O projeto não foi realizado da maneira original. Ou seja, ele cortou uma parte do canto inferior da Reserva Ducke, cerca meio hectare, com corte raso”, afirma o coordenador de Dinâmica Ambiental do Inpa, Paulo Maurício de Alencastro Graça.
Ele explica que entre os efeitos deste desmatamento está o aumento do risco de incêndios, devido à maior incidência de luz solar e um ambiente mais seco. Além disso, acessos abertos na área estão facilitando a entrada de pessoas na Reserva. “Noś verificamos que existe corte ilegal de madeira dentro da reserva e caminhos clandestinos”, diz Paulo Maurício.
A obra foi licenciada pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), mas os pesquisadores já estavam preocupados com os efeitos da obra, antes de denunciarem as diferenças entre o trajeto executado e o previsto. Marcelo Gordo, coordenador do Projeto Sauim-de-coleira da Universidade Federal do Amazonas, afirma que a população desses primatas na área pode ser inviabilizada em médio e longo prazo. “O problema com o linhão é que ele é um importante passo para o isolamento da Ducke e para urbanização do entorno da Reserva”, afirma o biólogo. “Vai tornar ainda mais distante a possibilidade de conectar as populações de fragmentos florestais urbanos a uma população viável de sauins”.
Na última semana de agosto, para apresentar o problema, os pesquisadores se reuniram com representantes da Ordem dos Advogados do Brasil, advogados do Inpa e também da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa. O Ministério Público Federal, que também deveria participar da reunião, não compareceu. O representante da Assembleia Legislativa questionou não apenas a atitude da Eletrobrás, responsável pela obra, e do Ipaam, que concedeu o licenciamento, mas também do Inpa, que segundo ele deveria ter tomado providências para evitar os danos à reserva.
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