Londres– A inglesa Tracey Campbell tem uma boa e uma mã notícia sobre o Brasil para dar à distinta platéia reunida em um prédio na ‘City’, o conhecido coração financeiro da Europa. Diretora do Forest Footprint Disclosure – iniciativa que faz revisões anuais da pegada florestal das multinacionais de diversos setores , ela está apresentando os resultados do último relatório a um grupo que reúne gestores dos maiores fundos de investimento do mundo. Juntos, eles gerenciam a incalculável fortuna de 5 trilhões de dólares.
Lista completa das empresas brasileiras que não forneceram informações sobre pegada florestal.
*Arantes *ArreBeef, *Bertin, *Brasil Foods *Caramuru, *Cikel, *Coamo, *Companhia Brasileira de Açucar e Álcool, *Copersucar, *Cosan, *Crystalsev, *Frigorífico Mercosul , *Imcopa, *Irani, |
A boa notícia é que no segundo ano da campanha do Forest Footprint Disclosure (que pode pode ser traduzido como Divulgação da Pegada Florestal), o número de empresas brasileiras dispostas a fornecer informações sobre seu uso de recursos naturais aumentou. Os grupos Independência (agropecuária) e Fibria (papel e celulose) já tinham participado da primeira rodada de respostas em 2009. Agora, na avaliação de 2010, participaram também Natura (cosméticos), Grupo André Maggi (Agropecuário), JBS e Marfrig (ambas do setor alimentício).
A má notícia é que a percepção de que o Brasil tem empresas cada vez mais comprometidas com a transparência de suas operações está abalada. A causa? As mudanças propostas no Código Florestal pela bancada ruralista do Congresso Nacional.
Além de um artigo sobre o tema publicado no relatório (veja link ao lado), Tracey Campbell falou sobre a legislação brasileira no lançamento feito nesta quinta-feira em Londres. “As ameaças à regulamentação do Código Florestal não garantem que os avanços feitos pelas empresas brasileiras serão mantidos”, disse.
Alteração nos preços
Segundo ela, a discussão do Código Florestal interessa aos investidores internacionais pois uma alteração nos preços agrícolas do Brasil afetaria o mercado de commodities mundial. “O Brasil serve como referência de preço para diversos produtos, se o desmatamento aumentar e houver mais terra disponível, pode ser que estes preços caiam, o que não é bom nem para os produtores brasileiros”, afirmou Campbell em uma entrevista a ((o))eco.
Visto sob a ótica dos ruralistas brasileiros, seu argumento poderia dar mais pano para manga, pois é comum ouvir que as críticas à mudança ao Código Florestal são uma conspiração de ONGs internacionais.
A Forest Footprint Disclosure é, de fato, uma ONG internacional, mas não tem qualquer ligação com setores supostamente interessados em prejudicar a ‘competividade’ da agricultura brasileira. Os principais apoiadores do projeto são o governo inglês, a ONU – através de sua iniciativa de finanças sustentáveis –, e o príncipe Charles, entre outros.
A iniciativa também é baseada na filiação de investidores interessados em acompanhar o quão sustentáveis são as ações das maiores empresas mundiais. Atualmente, 56 fundos já se associaram ao projeto, somando, como dito antes, ativos que passam da casa do trilhão. O francês Peter Scherek é o presidente do IDEAM , Instituto de Investimento Responsável ligado ao fundo Amundi, um dos maiores da Europa . Segundo ele, o seu time faz uma revisão periódica de 2400 companhias baseada em critérios ambientais e sociais para orientar os investimentos. “Nós estamos olhando além dos fatores de produção”, disse na manhã desta quinta.
Os resultados de 2010
As informações do mais novo relatório é de que grandes multinacionais estão avançando rápido na percepção dos danos de suas atividades sobre a florestas do planeta. Lançada em 2008, a campanha promove revisões anuais de dados das maiores empresas de diversos setores, na tentativa de quantificar a chamada pegada florestal. Após dois anos, o número de empresas disposta a reportar a origem de suas matérias primas dobrou.
Ao longo de 2009, apenas 35 empresas tinham respondido a demandas por informações lançadas pela FFD, enquanto que no ano passado o númerou passou a 78. Em 2010, a metodologia da iniciativa considera as empresas líderes do setor aquelas que monitoram o uso de commodities florestais em três níveis: em suas operações diretas, na sua cadeia de fornecedores e no impacto gerado pelo mercado consumidor.
As empresas brasileiras não foram líderes em nenhum dos setores. Na verdade, nenhum país em desenvolvimento está na relação das campeãs; todas foram empresas europeias e basicamente consumidoras de matéria prima.
Na interpretação da assessora técnica do Forest Footprint Disclosure, Liz Crosbie, esta situação revela relutância de companhias de economias emergentes em serem transparentes. Ela esteve no Brasil em 2010 para convencer as gigantes do agronegócio a juntaram-se à iniciativa. “Muitos se mostraram na defensiva, não estavam de fato preparados para abrir os dados”, conta.
Mas ela afirma que o simples compromisso de algumas empresas em responder o questionário já é um avanço. “Eu entendo se uma empresa não tem todas as informações sobre os produtos florestais de sua cadeia de fornecedores. O que eu não entendo são empresas que gastam milhões em marketing verde e não querem prestar informações mais detalhadas.”
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