Manaus, AM — Diante de um cenário pessimista, que prevê incremento de até 5º Celsius em grande parte do estado até 2070, o Amazonas ainda conta com a proteção da floresta para amenizar os efeitos do aquecimento. Porém, o desmatamento em alta, principalmente no sul do estado e região metropolitana, e os baixos índices socioeconômicos contribuem para aumentar a vulnerabilidade no estado às Mudanças Climáticas. E claro, a situação é mais grave no interior.
Esta é a visão geral do Índice Municipal de Vulnerabilidade do Amazonas, apresentado nesta quarta-feira (14/09) em Manaus. Ele indica que, entre os 62 municípios do Amazonas, o mais vulnerável é Careiro da Várzea, onde vivem cerca de 28 mil pessoas, com um IDH baixo, de 0,569. “O que mais pesou para o município foi a redução da cobertura vegetal e o histórico de desastres naturais, como cheias e secas”, explica a bióloga Julia Menezes, estudante de doutorado na Fiocruz e responsável por desenvolver e apresentar os índices.
O Índice é o resultado de um complexo arranjo, que leva em conta dezenas de fatores para classificar os municípios de 0, o menos vulnerável, a 1, o mais vulnerável. Para se chegar a ele, os pesquisadores aumentaram a resolução do modelo climático usado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e verificaram que entre 2014 e 2070, a temperatura pode aumentar, em um cenário pessimista, até 5º graus na região metropolitana, Nordeste e Sul do estado. O aumento na temperatura é menor conforme se avança em direção ao Noroeste do Amazonas, onde a previsão é de uma temperatura 3,5º maior em algumas décadas.
O cenário prevê também redução de chuvas na maior parte do estado. Em Parintins, as chuvas anuais podem diminuir em 25,3%. Municípios do sul do Amazonas, como Apuí e Canutama, também poderão ficar mais secos. Mas há previsão de aumento de precipitação na Calha do Rio Negro, nordeste do estado. Em Santa Isabel do Rio Negro, o aumento pode ser de 4,9%.
O estudo leva em conta também aspectos que podem amenizar o aquecimento global, como a cobertura vegetal; os impactos que eventos climáticos causam na população, como a ocorrência de desastres e mortes; e também situações que poderiam amenizar ou agravar os impactos, como a presença de Defesa Civil e os indicadores sociais. Além do Amazonas, já foram construídos mapas semelhantes para os estados de Pernambuco e Espírito Santo e, dentro do projeto, estão previstos ainda Maranhão, Mato Grosso do Sul e Paraná. Há também estudos na mesma linha no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.
Não é possível, no entanto, comparar municípios de diferentes estados, já que para cada unidade da federação são utilizados critérios diferentes na elaboração dos índices. No Espírito Santo, por exemplo, foram considerados os efeitos do aquecimento global sobre áreas costeiras. No Amazonas, um aspecto importante é a presença de populações ribeirinhas, muito impactadas por eventos climáticos extremos, como cheias ou secas.
“O ribeirinho depende diretamente dos recursos da natureza”, explica Ulisses Confalonieri, coordenador do projeto. “Na seca extrema, ele não sai da vila onde mora, porque não tem meio de transporte, e a água fica mais poluída e os peixes somem”, completa. A prevalência de doenças relacionadas ao clima ou água e a falta de capacidade institucional dos municípios do interior para enfrentar questões sociais ou desastres ambientais também demonstram a vulnerabilidade do Amazonas em relação às mudanças climáticas.
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Documento: Análise de resultados – Amazonas
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