Manaus, AM — A criação de Área de Proteção Ambiental de mil hectares em plena área urbana de Manaus é a alternativa proposta para proteger populações isoladas de sauim-de-coleira (Saguinus bicolor), que hoje vivem em fragmentos de floresta existentes dentro da cidade. Segundo pesquisadores, esses grupos de animais podem desaparecer da cidade se continuarem restritos a pequenas áreas, sem contato com outros grupos.
A proposta a ser apresentada à prefeitura de Manaus foi preparada por um Grupo de Trabalho Interinstitucional, que tinha como missão apresentar o projeto de um Corredor Ecológico. Porém, os especialistas concluíram que uma APA seria mais apropriada para a área urbana, onde existem diversos pontos de invasão e ocupação irregular, inclusive em áreas de preservação permanente, como margens de igarapés.
“A cidade de Manaus tem uma legislação específica sobre corredor ecológico, que é como um parque, uma área de proteção integral”, explica o diretor de Áreas Protegidas de Manaus, Márcio Bentes. “A APA, para nós, é o melhor cenário dentro da cidade, porque é uma cidade que já cresceu desordenada, as áreas verdes que poderiam contribuir para a qualidade ambiental estão sob conflitos”, completa.
O médico veterinário Diogo Lagroteria, representante do ICMBio no Grupo de Trabalho, explica que a APA permite trabalhar nas áreas já ocupadas ou invadidas, que podem ser recuperadas, e ao mesmo tempo garantir que as áreas ainda preservadas tenham proteção integral, podendo ser até transformadas em parques municipais ou estaduais. A proposta já prevê medidas para a implementação da APA, como a contratação de uma equipe para elaborar o Plano de Manejo.
“Se decretasse um corredor ecológico, que são quase uma área de proteção integral, a gente teria muita dificuldade de gestão e muita área teria que ficar fora da proposta, já que não cumpririam as atribuições de um corredor”, afirma.
O Grupo de Trabalho foi criado a partir de um Termo de Ajustamento de Conduta determinado pelo Ministério Público Federal à prefeitura de Manaus. O TAC prevê ações para proteger a espécie na área urbana da capital do Amazonas, com a recuperação de áreas degradadas com espécies que produzam frutos, para a alimentação do sauim, e melhoria na segurança de áreas protegidas, como a construção de cercas.
A preservação e recuperação de fragmentos florestais da Zona Norte de Manaus permitiram a conexão do Parque Estadual Sumaúma (51 hectares) e do Parque Municipal do Mindu (42 hectares) com a Reserva Ducke, uma área bem maior, com 10 mil hectares, e que está ligada a um bloco maior de floresta amazônica. “É muito importante a gente manter a conectividade dessas áreas, não só para o sauim, mas para outras espécies também”, afirma Diogo Lagroteria.
De acordo com ele, espécies de plantas e outros animais encontrados nos fragmentos florestais urbanos também devem ser beneficiados com a proteção da área. Diogo Lagroteria destaca também que a preservação de áreas verdes terá impacto positivo na qualidade de vida da população da região.
O sauim-de-coleira é classificado como ‘ameaçado’ na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês), devido às ameaças ao seu habitat. Ele ocorre apenas em Manaus e municípios vizinhos de Rio Preto da Eva e Itacoatiara, em uma região onde a floresta vem sendo derrubada para expansão das cidades, obras de infraestrutura (como portos e estradas) e abertura de áreas para agricultura. Além da unidade de conservação em área urbana, há estudos em andamento para a criação de áreas protegidas em regiões de floresta mais preservadas, com populações expressivas da espécie.
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