Florestas de maior valor ecológico podem perder até 75% da biodiversidade, quando a preocupação em protegê-las leva em consideração apenas os estoques de carbono. A conclusão é de um estudo publicado esta semana na Nature Climate Change, por pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental e Universidade de Lancaster, Reino Unido.
Os pesquisadores compararam, ao longo de 18 meses, a absorção de carbono em florestas alteradas com a variedade de plantas, besouros e pássaros. Os estudos foram realizados em 234 áreas dos municípios de Paragominas e Santarém, no Pará. Foram analisadas desde florestas que tiveram pouca ou nenhuma intervenção humana até aquelas que já estão se recuperando, incluindo áreas que sofrem extração de madeira e queimadas.
Eles descobriram que, embora o crescimento dos estoques de carbono e biodiversidade tenham o mesmo ritmo nas áreas mais danificadas, isso não ocorre nas florestas que sofreram menos impactos de atividades humanas. Nas florestas menos impactadas, a biodiversidade se recupera mais devagar do que o carbono estocado. No final das contas, conforme o estudo, florestas com o maior teor de carbono não abrigam necessariamente a maioria das espécies.
De acordo com a explicação da bióloga Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e uma das autoras do estudo, em áreas menos impactadas a recuperação da floresta está sobre a influência maior de fatores como clima, solo, luminosidade, concorrência entre as espécies. Já nas áreas mais impactadas, esses fatores são menos importantes.
De acordo com a Embrapa, as florestas tropicais armazenam um terço do carbono terrestre do mundo. Perturbações como o desmatamento ou incêndios liberam esse estoque para a atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. Os autores afirmam que o número de espécies de grandes árvores que podem ser protegidas aumenta em até 15% se a abordagem usada na proteção da floresta levar em conta tanto o carbono quanto a biodiversidade.
“As medidas de proteção aos estoques de carbono não apenas podem desacelerar os efeitos das alterações climáticas, como também têm o potencial de proteger a vida selvagem única e insubstituível das florestas tropicais”, afirma o pesquisador da Universidade de Lancaster, Gareth Lennox, que está entre os autores do estudo. “Mas para isso é fundamental colocar a biodiversidade no mesmo patamar de importância do carbono”, completa.
“Proteger os estoques de carbono das florestas tropicais deve permanecer um objetivo central em políticas de conservação e restauração florestal”, afirma a brasileira Joice Ferreira. No entanto, para garantir a manutenção da riqueza de espécies dessas áreas, a biodiversidade precisa ser tratada também como foco central desses esforços”, completa
Leia Também
Vídeo: O que são Florestas Vazias e por que isto é um problema ambiental? por Fernando Fernandez
Leia também
Vídeo: O que são Florestas Vazias e por que isto é um problema ambiental? por Fernando Fernandez
O biólogo e professor do Instituto de Biologia da UFRJ, Fernando Fernandez, explica por que a ausência de animais indica que uma floresta está doente →
TI e UCs armazenam 55% dos estoques de carbono na Amazônia
Estudo lançado na COP20, em Lima, defende que países amazônicos assumam compromissos para evitar emissões de carbono e preservar áreas naturais. →
Floresta regenerada é esponja de carbono
Estudo de consórcio internacional que inclui cientistas brasileiros mostra que vegetação secundária na América Latina absorve 11 vezes mais CO2 do ar que matas amazônicas maduras →