Resultado de um ano de monitoramento da qualidade da água aponta que 95% dos rios analisados na Mata Atlântica estão em condições impróprias ao uso, com níveis regulares, ruins e péssimos da água. Os dados foram divulgados no relatório “Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica”, produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica. No estudo, foi feita a análise de 181 trechos de corpos d’água brasileiros entre março de 2019 a fevereiro de 2020. Apenas 5% destes apresentaram qualidade considerada boa, de acordo com os parâmetros de avaliação, e nenhum demonstrou qualidade ótima.
O relatório traz um alerta sobre a necessidade de ações e investimentos para proteção e recuperação dos rios através de medidas como universalização do saneamento básico e a conservação e regeneração de florestas nativas e matas ciliares. Segundo o estudo, o resultado das análises preocupa ainda mais diante do cenário atual de eventos climáticos extremos que exigiriam a existência de rios com qualidade de água boa para enfrentar variações drásticas de clima e vazões que interferem diretamente na qualidade e disponibilidade de água (clique aqui para ler o relatório na íntegra).
A Mata Atlântica abrange nove regiões hidrográficas, e o projeto Observando os Rios, responsável pelo relatório, atua em oito delas. Os trechos monitorados estão distribuídos em 95 municípios dos 17 estados abrangidos pelo bioma Mata Atlântica – Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo – e do Distrito Federal. Ao todo, foram realizadas 1.615 análises de qualidade de água durante o ciclo de monitoramento apresentado no relatório.
O monitoramento foi realizado por grupos voluntários espalhados em 240 pontos de coleta, com acompanhamento e supervisão técnica da Fundação SOS Mata Atlântica. Desses, 189 pontos, que correspondem a 78,8% do total, apresentaram índice de qualidade de água regular; em 38 pontos (15,8%), a qualidade é ruim e; em um único ponto (0,4%), péssima. Somente 12 pontos, o equivalente a 5%, apresentaram uma qualidade boa de água durante o período analisado; e nenhum possui qualidade ótima.
De acordo com o relatório, a qualidade regular da água demanda atenção especial dos gestores públicos e da sociedade, “pois esse indicador demonstra que a condição é frágil e está no limite dos padrões definidos na legislação para usos menos restritivos, como recreação, navegação, irrigação e abastecimento público mediante tratamento avançado”.
O estudo aponta ainda a comparação com o período anterior de acordo com a série histórica da análise que observa a evolução da qualidade da água em 200 pontos fixos, e não em todos os 240 monitorados. De acordo com esse recorte, houve uma queda de 3% no índice ruim, que caiu de 35 para 29 pontos; e um aumento no número de pontos em situação regular, que subiram os mesmos 3%, indo de 76,5% para 79,5% na série histórica.
Segundo a gerente da causa Água Limpa, da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, é preocupante notar que a situação da água no Brasil não apresenta nenhuma melhora considerável nos últimos anos. “Há alguns exemplos distribuídos pelo país, como demonstram esses dados, e que devem ser usados como modelo, reforçando que, quando há um investimento contínuo e bem planejado, é possível sucesso. Mas no geral, precisamos acender a luz amarela. Todo ano falamos que nossos rios estão na UTI e se não houver ações que tratem da gestão integrada da água como elemento de cooperação e sustentabilidade e, sobretudo, de inclusão e participação ativa nos espaços de tomada de decisão, o cenário pode piorar”, afirma.
Além disso, a qualidade de água péssima e ruim obtida em 16,3% dos pontos monitorados evidencia que 39 trechos de rios estão com água imprópria para uso, por conta da poluição e da precária condição ambiental das suas bacias hidrográficas.
Levantamentos indicam que 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água de boa qualidade e que apenas 46% do esgoto gerado no Brasil é tratado, o restante é despejado diretamente nos rios e mananciais. Cuidar da água não é missão prioritária apenas do ponto de vista ambiental e de abastecimento, mas também de saúde, uma vez que mais de 60% das doenças que levam a internações no Sistema Único de Saúde (SUS) decorrem do contato com água contaminada.
Saiba Mais
Observando os Rios – SOS Mata Atlântica – 2020
Leia Também
Fiocruz atesta presença de cianobactérias potencialmente tóxicas no Guandu
Mais da metade dos rios da Mata Atlântica são impróprios para consumo
“Efeito mineração” faz desmatamento na Mata Atlântica subir em Minas Gerais
Leia também
“Efeito mineração” faz desmatamento na Mata Atlântica subir em Minas Gerais
Estado volta a liderar ranking de destruição do bioma, após desmatar 7.702 hectares de floresta, um aumento de 37% em relação ao ano passado. →
Mais da metade dos rios da Mata Atlântica são impróprios para consumo
Dos 240 pontos avaliados pela Fundação SOS Mata Atlântica, 60 pontos estão com qualidade ruim ou péssima e apenas 6 são consideradas boas →
Fiocruz atesta presença de cianobactérias potencialmente tóxicas no Guandu
Enquanto ainda aguarda laudos completos da Cedae, Ministério Público do Rio cria grupo para propor mudanças na legislação sobre potabilidade da água →
Ações nos tribunais urgente.