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Relatório aponta para má qualidade de água dos rios na Mata Atlântica

O estudo divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica indica que apenas 5% dos rios apresentavam boas condições, contra 95% com qualidade imprópria para uso

Duda Menegassi ·
26 de março de 2020 · 4 anos atrás
Biólogo mostra material usado para fazer o monitoramento da qualidade de água do rio. Foto: Fundação SOS Mata Atlântica/Divulgação.

Resultado de um ano de monitoramento da qualidade da água aponta que 95% dos rios analisados na Mata Atlântica estão em condições impróprias ao uso, com níveis regulares, ruins e péssimos da água. Os dados foram divulgados no relatório “Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica”, produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica. No estudo, foi feita a análise de 181 trechos de corpos d’água brasileiros entre março de 2019 a fevereiro de 2020. Apenas 5% destes apresentaram qualidade considerada boa, de acordo com os parâmetros de avaliação, e nenhum demonstrou qualidade ótima.

O relatório traz um alerta sobre a necessidade de ações e investimentos para proteção e recuperação dos rios através de medidas como universalização do saneamento básico e a conservação e regeneração de florestas nativas e matas ciliares. Segundo o estudo, o resultado das análises preocupa ainda mais diante do cenário atual de eventos climáticos extremos que exigiriam a existência de rios com qualidade de água boa para enfrentar variações drásticas de clima e vazões que interferem diretamente na qualidade e disponibilidade de água (clique aqui para ler o relatório na íntegra).

A Mata Atlântica abrange nove regiões hidrográficas, e o projeto Observando os Rios, responsável pelo relatório, atua em oito delas. Os trechos monitorados estão distribuídos em 95 municípios dos 17 estados abrangidos pelo bioma Mata Atlântica – Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo – e do Distrito Federal. Ao todo, foram realizadas 1.615 análises de qualidade de água durante o ciclo de monitoramento apresentado no relatório.

O monitoramento foi realizado por grupos voluntários espalhados em 240 pontos de coleta, com acompanhamento e supervisão técnica da Fundação SOS Mata Atlântica. Desses, 189 pontos, que correspondem a 78,8% do total, apresentaram índice de qualidade de água regular; em 38 pontos (15,8%), a qualidade é ruim e; em um único ponto (0,4%), péssima. Somente 12 pontos, o equivalente a 5%, apresentaram uma qualidade boa de água durante o período analisado; e nenhum possui qualidade ótima.

O kit usado para fazer os testes de qualidade da água. Foto: Fundação SOS Mata Atlântica/Divulgação.

De acordo com o relatório, a qualidade regular da água demanda atenção especial dos gestores públicos e da sociedade, “pois esse indicador demonstra que a condição é frágil e está no limite dos padrões definidos na legislação para usos menos restritivos, como recreação, navegação, irrigação e abastecimento público mediante tratamento avançado”.

O estudo aponta ainda a comparação com o período anterior de acordo com a série histórica da análise que observa a evolução da qualidade da água em 200 pontos fixos, e não em todos os 240 monitorados. De acordo com esse recorte, houve uma queda de 3% no índice ruim, que caiu de 35 para 29 pontos; e um aumento no número de pontos em situação regular, que subiram os mesmos 3%, indo de 76,5% para 79,5% na série histórica.

Segundo a gerente da causa Água Limpa, da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, é preocupante notar que a situação da água no Brasil não apresenta nenhuma melhora considerável nos últimos anos. “Há alguns exemplos distribuídos pelo país, como demonstram esses dados, e que devem ser usados como modelo, reforçando que, quando há um investimento contínuo e bem planejado, é possível sucesso. Mas no geral, precisamos acender a luz amarela. Todo ano falamos que nossos rios estão na UTI e se não houver ações que tratem da gestão integrada da água como elemento de cooperação e sustentabilidade e, sobretudo, de inclusão e participação ativa nos espaços de tomada de decisão, o cenário pode piorar”, afirma.

Além disso, a qualidade de água péssima e ruim obtida em 16,3% dos pontos monitorados evidencia que 39 trechos de rios estão com água imprópria para uso, por conta da poluição e da precária condição ambiental das suas bacias hidrográficas.

Levantamentos indicam que 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água de boa qualidade e que apenas 46% do esgoto gerado no Brasil é tratado, o restante é despejado diretamente nos rios e mananciais. Cuidar da água não é missão prioritária apenas do ponto de vista ambiental e de abastecimento, mas também de saúde, uma vez que mais de 60% das doenças que levam a internações no Sistema Único de Saúde (SUS) decorrem do contato com água contaminada.

Saiba Mais

Observando os Rios – SOS Mata Atlântica – 2020

 

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  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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Comentários 1

  1. Paulo diz:

    Ações nos tribunais urgente.