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Salvar baleias!

De Jordan Paulo WallauerVeterinário - IBAMA Li a matéria do Hélio Muniz sobre salvamento de baleias e gostaria de fazer um comentário. Há poucos anos uma baleia jubarte, meio envolvida em trapos de redes de pesca, encalhou na praia, no Estreito, entre a Ilha de Santa Catarina e o continente. Como técnico do IBAMA (sou Veterinário), fui chamado para avalar o que se podia fazer. Minha esposa, também técnica do Instituto, participou do resgate. Com ajuda de populares, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Ambiental, logramos, sem muito esforço, devolvê-la a águas mais profundas. No período em que parte do corpo do animal ficou fora d'água, mantivemos a mesma coberta por lençóis molhados. Tudo o que fizemos além disso foi mantê-la no local até que a maré subisse e a livramos das redes. Dois dias após a mesma baleia encalhou outra vez, na Praia de Jurerê, e outra vez fomos chamados, e mais uma vez populares, bombeiros e policiais ambientais participaram da operação sob nosso comando. Encontramos a baleia em águas muito rasas, com cerca de 1/2 corpo fora d'água. A maré estava baixando ainda mais. Constatamos que uma rede ainda enlaçava a nadadeira direita na parte imediatamente posterior à cauda. Enquanto cortávamos a rede, imediatamente começamos a cavar sob o mesmo, para evitar que o peso do corpo do animal (avaliamos em cerca de 9 toneladas) comprimisse os pulmões, de tal forma que em menos de duas horas conseguimos manter o cetáceo em uma espécie de piscina, com menos de 1/3 do corpo fora d'água, desta vez sem a necessidade de cobrí-la com lençóis, pois já se fazia noite. Enquanto esperávamos a maré subir e verificando que as ondas só empurrariam a baleia para a praia, buscamos peças de um pier flutuante que estava armazenado em uma marina, e com eles construímos duas balsas. Sobre essas balsas montamos uma estrutura improvisada, de madeira de construção (essas que apoiam lajes em processo de concretagem) de maneira a evitar que, uma vez postas em torno da baleia, e puxadas por um rebocador do corpo de bombeiros, não comprimissem o seu corpo. Postas as duas balsas, uma a cada lado do corpo do cetáceo, elaboramos uma espécie de cama, trançando mangueiras de incêndio por baixo do animal que foram amarradas nas balsas. O trabalho todo levou umas 10 horas, tempo em que nunca se deixou de tirar areia de baixo da jubarte, mesmo com a maré subindo. Com a maré alta, a estrutura toda, com a baleia em seu interior, foi puxada pelo rebocador, enquanto tentávamos remover areia à sua frente, formando um caminho, pouco mais profundo, por onde a passagem era facilitada. O animal só foi liberto a umas duas milhas da praia, tendo saído da estrutura nadando normalmente e, logo após, dando um mergulho profundo. Ou seja, tecnologia há para desencalhar baleias, conhecimento e técnicos o próprio IBAMA tem. Só não se entende por que, neste último caso ocorrido no Rio de Janeiro e em alguns casos anteriores acontecidos posteriormente ao trabalho acima relatado (e que, na época, teve ampla divulgação na mídia), jamais foram utilizados.

Redação ((o))eco ·
23 de agosto de 2004 · 20 anos atrás

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