Análises

29 dias para a Copa.

A chegada na África do Sul já é um colírio para quem caminha. No aeroporto está uma filial da Cape Union Mart, uma das melhores lojas de material de montanhismo que eu conheço. 

Pedro da Cunha e Menezes ·
12 de maio de 2010 · 15 anos atrás
Andrew Baxter em uma das lojas da CapeStorm (foto: Pedro da Cunha e Menezes)
Andrew Baxter em uma das lojas da CapeStorm (foto: Pedro da Cunha e Menezes)

A chegada à África do Sul é um colírio para quem caminha. Ainda no aeroporto, na área de trânsito está uma filial da Cape Union Mart, uma das melhores lojas de material de montanhismo que conheço. É uma disneilândia de gente grande. Ali há tudo que um montanhista precisa. Barracas, sacos de dormir, colchões infláveis, fogareiros, panelas, granola, pacotes de comida desidratada, canivetes, GPS, bússolas, mapas, guias de trilhas, agasalhos, botas, meias, chapéus, cajados enfim tudo do bom e do melhor e BARATO! Para nós brasileiros a loja é tão legal que há que prestar atenção. É grande o risco de esquecer da hora ali e perder o voo.

E tomar o avião é importante. Montanhista que se preza não pode ir ao país da Copa e não visitar a Cidade do Cabo, verdadeiro paraíso na Terra, sobre o qual conto mais em outro post. Há outra razão para não se deixar encantar imediatemente pela Cape Union Mart (cujas lojas aliás estão espalhadas pelo país, onde o montanhismo é um dos esportes nacionais). Existem outras marcas tão boas ou melhores que ela, entre as quais destaca-se a CapeStorm.

Criada por Andrew Baxter, um professor universitário apaixonado pelas trilhas de seu país, a CapeStorm evoca o Cabo das Tormentas, já trazendo no nome os desafios que a região sempre apresentou para os europeus. Baxter é um sujeito raçudo. Montanhista, escalador, biker e apaixonado por caiaques, mas sobretudo corajoso. Um belo dia tomou um empréstimo em banco, pegou as economias que amealhou na vida acadêmica e aplicou tudo o que tinha e o que não tinha criando a CapeStorm. Fez questão de evitar o caminho mais fácil. Não terceiriza projetos para a Europa nem produção para a Ásia. Seu equipamento é todo desenhado e fabricado na própria África do Sul. Sai mais caro, mas está dando certo. Baxter começou empregando meia dúzia de abnegados, hoje a CapeStorm já tem cerca de 100 funcionários, sem contar os vendedores nas lojas. O sucesso é justificado, o material é de excelente qualidade.

Mas não é a toa. O sujeito é mais que um negociante, é um apaixonado que pensa como usuário do que produz. Por isso a CapeStorm investe muito em pesquisa ergonométrica de materiais. Nesse exato momento está desenvolvendo uma roupa reflexiva capaz de brilhar por muitos minutos com uma exposição de apenas poucos segundos à luz. Quando pronta, a tecnologia vai ajudar em momentos de busca e salvamento, mas também será uma ferramenta para todos aqueles que gostam de pedalar ou correr à noite pelos acostamentos desse mundo rodoviarista.

Talvez por que seu fundador tenha muito prazer no que faz, a Cape Storm gasta uma parte significativa de seus lucros em patrocínios a atletas de ponta e a causas relevantes, tais como serviços de resgate e pronto socorro e o aquário da Cidade do Cabo. Entre os atletas patrocinados da Cape Storm está Ronnie Muhl, um dos maiores montanhistas da África, que nesse exato momento está subindo o Everest pela terceira vez. Agora Muhl, que já subiu os 14 Picos com mais de 8 mil metros, está liderando uma equipe internacional com cinco australianos e cinco sul-africanos.

De volta a Baxter, vale a pena ainda mencionar que o professor nunca deixou sua veia ambientalista morrer. Pessoalmente dá tempo e recursos financeiros para o Cape Leopard Trust, organização que é uma espécie de Pró-carnivoros local, destinado a promover a preservação do leopardo no Cabo Ocidental onde o felino encontra-se praticamente extinto. À frente da ONG passa dias inteiros em pesquisa de campo e em campanhas de educação de fazendeiros afetados pelo predador.O melhor de tudo? Nas trilhas do Cabo não é incomum atravessar o caminho de Muhl ou de Baxter.

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