Não é suficiente, há que escapar. Entre uma apresentação e outra de um colóquio sobre Unidades de Conservação fujo em direção ao Sena. Pelo menos há que ver a água. Não chego ao rio. No caminho sou fisgado por um velho sebo: a Librairie des Alpes (6 rue de Seine 75006/ www.librairie-des-alpes.com ). Entro e não saio mais. Em questão de minutos estou nas montanhas, escalando as estantes, inspecionando mapas, guias, alfarrábios. O tempo voa, esqueço o seminário sobre um parque marroquino, estou ocupado conquistando o Mont Blanc de 1850, percorrendo os Rwenzoris da década de 1930 com a Sociedade Geográfica da Bélgica, fugindo de um campo de concentração em companhia de dois oficiais do exército italiano que se evadiram somente para escalar o Monte Quênia e, cumprida a missão, se entregaram de novo a seus captores britânicos. Ainda tenho tempo para perscrutar modernos mapas e guias de montanha e planejar umas rápidas férias pelos píncaros do diminuto Liechtenstein.
Nem a escassez de tempo, nem o peso da responsabilidade querendo me expulsar daquele pequeno paraíso, impediram-me de encontrar algo para trazer junto comigo. Depois de fuçar aqui e ali, deparei com a biografia de Sua Majestade Alberto da Bélgica, “o Rei Alpinista”. Publicada em 1956 pelo vice presidente do Clube Alpíno Belga, a história de vida do monarca, ricamente documentada por fotos em branco e preto, está focada em seus feitos de montanha.
Para quem não sabe, em 1920, entre ascenssões aos Alpes e aos Apeninos, Alberto fez uma Visita Oficial ao Rio de Janeiro. Como não podia deixar de ser, o nobre que já havia galgado os prinicpais cumes da Europa e da África do Norte, arranjou tempo para topar o Pico da Tijuca. Ficou maravilhado com o panorama que se descortina lá do alto, mas achou que o acesso poderia ser facultado a mais pessoas, sobretudo àquelas que diferentemente dele não eram escaladores. Assim, por sua benévola sugestão, em 1928, foi esculpida na rocha do trecho final de acesso ao Pico uma escada ladeada por um corrimão de correntes que democratizam, desde então, o acesso ao ponto culminante da mais bela floresta do mundo. Como apaixonado incondicional por esse pedacinho de Mata Atlântica carioca não poderia, DE FORMA ALGUMA, deixar de possuir esse livro que conta um pedacinho de sua história. Quando morrer ficará em doação para a biblioteca do Parque Nacional da Tijuca.
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