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Amazônia virou reality show, mas com que realismo?

Programa que estreou este domingo, na TV Record, leva o nome da floresta, mas deve compreender que ela é a grande protagonista do show.

Karina Miotto ·
13 de janeiro de 2012 · 13 anos atrás
Vitor Fasano apresenta o reality show Amazônia.
Vitor Fasano apresenta o reality show Amazônia.
A fama da Amazônia tem crescido. Neste domingo, a TV Record estreou um reality show chamado “Amazônia”, apresentado por Victor Fasano, composto por quase famosos. Já sabemos que este tipo de programa rende audiência no Brasil. Que colocar pessoas bonitas na telinha em situações complicadas, cheias de provas variadas de esforço físico e mental, é algo que atrai muitos brasileiros.

Fasano já é conhecido por seu envolvimento em prol da floresta. Ganhou atenção da mídia em 2007, quando encabeçou junto dos atores Juca de Oliveira e Christiane Torloni o manifesto “Amazônia para Sempre”, que colheu um milhão de assinaturas pelo fim do desmatamento. Não é de se admirar que tenha sido escolhido para encabeçar o programa.

Comecei a me perguntar se um reality show a respeito da floresta é algo bom ou ruim diante da urgência de sensibilizar os brasileiros com informações de qualidade sobre a região. Muitos se orgulham em dizer o quanto o Brasil é enorme sem ter a menor ideia de que sem a Amazônia Legal, restaria apenas 40% da área do país. Sozinho, o bioma Amazônia, ocupa 49,29% da nação.

Daí a necessidade de cada vez mais falarmos da floresta, de seu tamanho, belezas e importância para o Brasil e o mundo – mas é imprescindível que divulguemos fatos verdadeiros, precisos, para evitar mais misticismo, mais propagação da visão exótica da selva, daquele imaginário que crê haver macacos competindo com pessoas pelas ruas de Belém, que não sabe do trânsito caótico de Manaus, que pensa em entrar nas aldeias indígenas como uma opção de turismo, desconhecedor de que os “mosquitos” locais não ficam o tempo todo tentando entrar na sua boca, ou que ao estar na Amazônia só não se sai doente se usar calças e blusas de mangas compridas o tempo todo – um verdadeiro exagero.

No primeiro capítulo do reality show um dos participantes abraçou uma árvore – nada contra, é bom ressaltar – e outros choraram no mato. Mas seria ideal que, além da emoção no contato com a floresta, o reality também explorasse a importância da sua conservação em pé, desvendasse a Amazônia real em seus mais variados leques e curiosidades. Como? Bem, alimentos regionais podem ser dados a todos diariamente. Seria interessante mostrar ao Brasil o delicioso “x-caboclinho”, sanduíche de pão francês feito com queijo coalho e uma pequena fruta chamada tucumã; o quão rápido um caboclo consegue extrair açaí, sem guaraná e afins, com gosto de terra? Qual é a relação dos moradores com a floresta? Como vivem, o que comem e pensam? Qual é o tamanho da Amazônia, por que precisamos conservá-la? O quanto é bela? Será que dá para acreditar que às vezes, dentro de um barco, demoram-se dias para ver o outro lado da margem do rio? Aliás, o Amazonas é o maior e mais caudaloso rio do mundo.

Este programa pode ser uma ferramenta positiva que, entretendo, também informe a população a respeito da floresta, hoje derrubada sem trégua, 24 horas por dia, ainda que comemoremos índices cadentes de desmatamento. Se for, no entanto, um meio para a difusão de mais exotismo e informações rasas aos brasileiros, prestará um desserviço e transformará a floresta em cenário de fundo quando, ao contrário, ela é a grande e verdadeira protagonista deste reality show.

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