Doha (Catar) — A queda no desmatamento da Amazônia foi notícia na COP-18, no dia 27. Na plenária que discutia as Ações Cooperativas de Longo Prazo (LCA, na sigla em inglês), o embaixador André Corrêa do Lago, chefe da delegação brasileira na conferência, recebeu os únicos aplausos do dia quando anunciou o menor índice de devastação desde que foram iniciadas as medições em 1988.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a floresta amazônica perdeu 4.656 km² de agosto de 2011 a julho de 2012, o que corresponde a uma impressionante redução de 27% se comparada ao mesmo período do ano passado.
De acordo com o Inpe, com isso o Brasil reduz sua contribuição para o aquecimento global em 76%. Nos termos da conferência climática isso significa que o país está muito perto de atingir seus compromissos voluntários assumidos dentro do Protocolo de Kyoto – diminuir em 80% a emissão de gases estufa para a atmosfera.
O sistema de monitoramento, o Prodes (Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal), no entanto, não registra os cortes parciais de floresta por queimadas ou extração seletiva de madeira, o que poder deixar esses números um pouco maiores. Outro detalhe importante é que o Prodes tampouco contemplou os meses de agosto, setembro e outubro de 2012, durante os quais houve um aumento do desmatamento comparado ao mesmo período em 2011.
Além disso, o número geral pode ter diminuído, mas houve um aumento pontual do desmatamento em estados-chave como Amazonas (+29%), Tocantins (+33%) e Acre (+10%), o que mostra que a Amazônia continua sendo destruída pelas beiradas.
Sendo assim, os dados parecem empolgantes, mas a prática não funciona exatamente dessa maneira. A redução do desmatamento não pode ser considerada um resultado permanente. Uma vez em queda, o esforço do governo agora deve ser para manter os baixos índices até o fim da vigência do acordo, em 2020.
Segundo Corrêa do Lago, entretanto, a redução é um forte indicativo de como os países em desenvolvimento estão agindo. “O desmatamento responde por mais de 60% das emissões brasileiras. Então quando reduzimos significativamente nossa maior fonte de emissões é um resultado muito impressioante.”
O embaixador afirmou que essa notícia pode ter um impacto positivo nas negociações no sentido de pressionar os demais países a cumprir seus compromissos. “Os países em desenvolvimento estão fazendo tudo o que acordaram fazer voluntariamente no âmbito da convenção, ao contrário dos desenvolvidos. Se os países em desenvolvimento, que não têm recursos nem tecnologias, estão conseguindo trazer resultados, os países ricos podem fazer mais do que estão fazendo agora”, argumentou.
A redução recorde do desmatamento é uma boa notícia. Mas para além dela ainda paira a sombra de questões cruciais como o novo Código Florestal, que aparece como uma ameaça concreta aos resultados conquistados até agora. E apesar da boa notícia, o governo brasileiro ainda tem muito o que fazer. Talvez usar bons resultados para pressionar outros países não seja melhor estratégia no momento do que tentar aumentar sua própria ambição.
Se o Brasil aposta todas a suas fichas na redução do desmatamento e logo no segundo dia da conferência apresenta o quase efetivo cumprimento desse compromisso, que fazemos nós em Doha, então? Aos jovens idealistas que acompanham as negociações resta ainda um sentimento otimista – e quase irrealista – de que podemos sair daqui com pelo menos uma promessa de mundo melhor. Portanto sejamos cautelosos. Comemorar sempre, mas com moderação.
*Nathália Clark foi editora de política de ((o))eco e está acompanhando, de Doha, a COP18 pelo Programa Adopt a Negotiator, da Global Campaign for Climate Action.
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