Considerado como um coadjuvante no descobrimento da Teoria da Evolução, Alfred Russel Wallace pode ter tido um papel muito mais proeminente, sugere um artigo de Roy Davies recentemente publicado na revista Biological Journal of the Linnean Society. Baseado em uma análise cronológica da produção científica de Wallace e Darwin e das correspondências trocadas pelos pesquisadores entre si e outros colegas, Davies questiona o pioneirismo individual de Darwin e sugere que ele pode ter se beneficiado das ideias de Wallace sem o devido reconhecimento e crédito.
Diferentemente de Darwin, Wallace sempre valorizou a importância da geografia na compreensão da diversificação biológica no planeta, sendo considerado o fundador da biogeografia histórica. Em 1848, Wallace partiu em direção à sua primeira grande experiência em uma viagem para a Amazônia brasileira junto com Henry Walter Bates para aprofundar seus estudos em história natural e investigar a origem das espécies. Ele estudou aves, macacos e borboletas em seus habitats naturais e percebeu que barreiras físicas, como os rios da Amazônia, limitavam a distribuição de muitas espécies próximas.
Suposto atraso no correio
Após quatro anos na Amazônia, Wallace deixou o Brasil em direção à Europa com espécimes e uma interpretação recém concebida sobre a origem das espécies, mas por um capricho do destino praticamente todo o material coletado se perdeu em um barco afundado em pleno Atlântico. Se o período na Amazônia sugeriu a Wallace a importância dos rios como barreiras na diversificação da biota, foi no sudeste Asiático onde ele levou essas ideias além e desenvolveu sua interpretação sobre a evolução biológica e sua expressão geográfica. Em 1855, Wallace publicou um artigo debatendo a importância da extinção e descendentes com modificação como elementos fundamentais no processo de mudança das espécies ao longo do tempo, que ficou conhecido como ‘Lei de Sarawak‘. No ano seguinte, Wallace publicou um artigo sobre aves discutindo a ideia dos descendentes com modificação, inevitavelmente se firmando como um problema iminente ao pioneirismo de Darwin.
Wallace escreveu poucas cartas para Darwin, mas a análise de Davies ressalta que o conteúdo de duas cartas contendo suas principais ideias tenha sido determinante para Darwin complementar seu trabalho. Os fatos indicam que Darwin foi rapidamente incorporando essas ideias de Wallace, tendo escrito mais de 60 páginas após o conteúdo privilegiado ter chegado pelo correio. Darwin alegou um atraso de 4 meses para a primeira e 2 semanas para a segunda carta de Wallace, mas segundo Davies os registros históricos dos correios na Inglaterra indicam que ele funcionava perfeitamente bem e as chances de um atraso longo e repetido nas duas cartas de Wallace é mínimo. Até então as ideias publicadas por Darwin não eram convincentes, mas a publicação da Origem das Espécies em 1859 mostra que a incorporação dos conceitos apurados por Wallace anos antes foram imprescindíveis para a abrangência da teoria.
*Esse artigo foi originalmente publicado no blog Biogeografia da Amazônia.
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Veja o artigo de Roy Davies na íntegra: “1 July 1858: what Wallace knew; what Lyell thought he knew; what both he and Hooker took on trust; and what Charles Darwin never told them. Biological Journal of the Linnean Society”.
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