Minha chegada ao ICMBio, em abril de 2007 para assumir o cargo de Diretora de Planejamento e Administração apresentou-me uma realidade diferente de tudo que eu já vivera. Desembarquei em uma instituição recém-criada e cheia de desafios que iam muito além da estruturação administrativa do órgão.
Encontrei um corpo de servidores desnorteado e desamparado. Primeiro de tudo, havia forte rejeição à idéia de retirar as áreas protegidas do IBAMA. Não bastasse isso, também encontrei forte resistência ao nome da nova Autarquia. Parecia-me que o futuro era incerto. Certa, contudo, era a minha convicção de que havia uma missão a ser cumprida e que, para cumpri-la, era imperativo ouvir o que aquele coletivo de servidores tinha a dizer.
Desde logo pus-me a andar por esse Brasil afora com os ouvidos e o coração abertos. Foram muitas conversas, escutas e debates que resultaram em um grande aprendizado. Em cada encontro com os servidores minha principal intenção sempre foi compreender seus anseios, pois só assim poderia lutar para traduzi-los em ações práticas e palpáveis. Fiz isso do único jeito que eu sabia, com toda minha força e paixão.
Foi uma jornada árdua e cansativa, da qual não me arrependo. Obtive um retorno fantástico, aprendi muito com meus interlocutores, ganhei centenas de amigos, alguns críticos construtivos e um grupo de adversários cujo compromisso com a causa ambiental gerou um respeito mútuo.
Em meu périplo pelas nossas 312 unidades de conservação, ouvi as reivindicações do povo do ICMBio. Entre todas elas, entretanto, uma se destacou: havia um desejo forte por capacitação. Os servidores almejavam um espaço para reflexão de todos, onde pudesse haver troca do conhecimento adquirido nas pontas, sessões de treinamento voltado para a prática do manejo, traduzido em uma instituição que compilasse, organizasse, uniformizasse e disseminasse o saber acumulado pela órgão nas disciplinas referentes à gestão da conservação.
Ideia veio dos servidores
“a vontade de se estabelecer uma Academia Ambiental já existia quando cheguei ao ICMBio. A idéia não foi minha, foi deles, dos servidores da Casa, dos especialistas em meio ambiente. Como diretora recém-chegada, apenas busquei traduzir aquele sentimento”
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Convenci-me que a melhoria da gestão depende fortemente da capacitação e do treinamento continuado, somados à motivação gerada pela necessidade imperiosa de consolidar uma identidade institucional e um sentimento de pertencimento. Assim, chamei a mim a responsabilidade de iniciar o projeto de criação e implantação da ACADEBio. Como pode se ver, a vontade de se estabelecer uma Academia Ambiental já existia quando cheguei ao ICMBio. A idéia não foi minha, foi deles, dos servidores da Casa, dos especialistas em meio ambiente. Como diretora recém-chegada, apenas busquei traduzir aquele sentimento em um espaço físico para receber a política de educação corporativa.
Decidimos, então, com o apoio da Direção colegiada do ICMBio, criar a Academia Nacional da Biodiversidade – ACADEBio. Acabamos por escolher utilizar uma grande instalação abandonada há anos na Floresta Nacional de Ipanema.
Visitei a unidade pela primeira vez em março de 2008. Quando lá cheguei, acompanhada da equipe da Diplan e de representantes de cada diretoria finalistica, já era noite escura. Ao despertar do novo dia fomos brindados com uma manhã fria, que nos revelou não só a beleza bucólica da unidade, mas também, em meio à floresta, dois enormes prédios com aproximadamente 10 mil metros quadrados de uma sólida, porém abandonada construção. Senti um misto de alegria e ansiedade. A Floresta Nacional de Ipanema era um lugar de beleza ímpar, que apresentava os requisitos e equipamentos naturais necessários ao treinamento de práticas voltadas à gestão das Unidades de Conservação. Por outro lado, havia muita sujeira, entulho, goteiras que transformavam o teto em uma peneira… Seríamos capazes de construir ali uma escola capaz de receber e preparar os servidores do ICMBio ?
Nunca vou esquecer os árduos dias e noites que se seguiram, quando nos dedicamos para a implantação daquilo que ainda era um antigo sonho de muitos. Dos planos de sua concepção pedagógica, estratégia de funcionamento, reforma dos prédios abandonados, chegada dos equipamentos das salas de aulas e dos alojamentos, até sua inauguração, foram cerca de quatro meses. Junto à preocupação com a qualidade do ensino, fizemos questão de adotar uma estratégia de reforço do necessário sentimento do pertencimento pelos servidores. Tomamos todos os cuidados para que a ACADEBio fosse por excelência a casa dos analistas ambientais do ICMBio. Buscamos oferecer comida saudável e apetitosa, salão de jogos, espaço de descanso e pequenos detalhes que incluíram a impressão da logomarca do ICMBio até nas toalhas, tapetes e lençóis.
Tudo isso resultou de esforço enorme da equipe da Administração para que num curto espaço de tempo, tudo estivesse pronto: salas de aulas equipadas, laboratório de informática, auditório, alojamento e refeitório, tudo pensado para a segurança e o conforto necessários a uma boa aprendizagem.
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Os resultados
De lá pra cá se foram 4 anos. Nesse período, a maioria dos servidores já passou por um dos mais de 130 cursos e processos de formação especialmente desenvolvidos na ACADEBio
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Foram meses de incessante labuta. Precisávamos inaugurar a Escola em setembro de 2009, a tempo da realização do 1º Curso de Formação em Gestão da Biodiversidade, especialmente pensado para a capacitação inicial dos 175 recém-concursados Analistas Ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio.
Houve momentos em que achei que não seríamos capazes, mas a força e motivação de todos aqueles envolvidos com o projeto foi decisiva para que alcançássemos o objetivo na data pevista. De lá pra cá se foram 4 anos. Nesse período, a maioria dos servidores já passou por processos de formação especialmente desenvolvidos na ACADEBio. Ao todo, servidores novos e experientes dividiram os bancos escolares, trocando saberes práticos e teóricos em mais de 130 cursos. Aos poucos, de acordo com plano aprovado pela Diretoria Colegiada do ICMBio, todos os servidores se reciclarão com o objetivo de melhorar os conhecimentos e práticas utilizadas no desenvolvimento de seus trabalhos.
A maior parte do ensino é feito pelo próprio corpo funcional do ICMBio que, em razão da temática, detém o conhecimento mais importante para a gestão das Unidades de Conservação. Assim, ao longo desses anos formamos um quadro de instrutores internos, composto de servidores preparados e responsáveis pela capacitação de seus colegas, fortalecendo a cultura institucional nas matérias ministradas.
Mas não é só. Além dos cursos, motivo primeiro de sua criação, a ACADEBio passou a também exercer a função de espaço de realização de eventos institucionais, com destaque para reuniões de planejamento e gestão e oficinas de avaliação do status de conservação de espécies e dos Planos de Ação Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção. Assim, a ACADEBio é hoje um espaço onde o ICMBio se encontra para construir conhecimentos, identidades e cumplicidades voltados para a conservação da biodiversidade brasileira.
Agora, o desafio é continuar com esse projeto, incluindo nas aulas e cursos as OEMAS (Órgãos Estaduais de Meio Ambiente), as polícias, bombeiros e guardas municipais ambientais, as RPPNs e as universidades. A continuidade desse processo levará, no médio prazo, à criação de doutrinas nacionais e de métodos de trabalho uniformes e intercambiáveis pelo Brasil inteiro. Ao fim, o principal beneficiário desse legado será a biodiversidade e, por extensão, a sociedade brasileira que dela desfruta.
Foram mágicos esses momentos que vivi ao lado dos combativos servidores e colaboradores do ICMBio, a quem agradeço a felicidade desses belos anos de minha vida.
Agradeço a Pedro Cunha e Menezes pela ajuda na revisão desse texto.
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Gostaria de parabenizar essa linda instituição pelo serviço realizado em todo Brasil.
Precisamos ser fortes para cuidar dessa imensidão de natureza, na qual uma minoria de forma arbitrária e criminosa, despreza objetivando lucro.