No próximo sábado, dia 24, acontecerá o segundo grande Mutirão da Trilha Transcarioca, que reunirá mais de 300 voluntários para o trabalho de sinalização, manejo e limpeza de 24 trechos da maior trilha urbana do Brasil: são 180 km de extensão que percorrem oito unidades de conservação entre federais, estaduais e municipais, na cidade do Rio de Janeiro.
Um dos trechos do mutirão será a Trilha do Quilombo, no Parque Estadual da Pedra Branca, área onde fica a mata que ostenta o título de maior floresta urbana do país. O Pedra Branca ocupa nada menos do que 10% do território do município do Rio de Janeiro e faz fronteira com 17 bairros da capital fluminense, abarcando 12,3 mil hectares do maciço da Pedra Branca e entorno.
Um dos problemas enfrentados pelo parque é o desconhecimento do próprio carioca em relação a sua existência. A Trilha Transcarioca pode ajudar a divulgar o Pedra Branca e aumentar o seu uso. Andrei Veiga, atual chefe do parque, apoia a Transcarioca e acredita que ela deva fortalecer a integração entre ICMBio, INEA e Secretaria Municipal de Meio Ambiente, órgãos que gerem as unidades de conservação ao longo da trilha: “A Transcarioca ainda não mudou a forma de gestão destas Unidades de Conservação, mas está mudando. Falta comunicação entre os órgãos e os entes federados”.
Para ele, a Trilha Transcarioca é prioridade para incentivar a visitação do Parque. “A parte histórica [do Pedra Branca] é muito rica, talvez seja um dos maiores valores para se trabalhar o uso público no parque. A história do Rio de Janeiro se confunde com a história do maciço da Pedra Branca”, diz.
Pressões
Encravado numa megalópole, o Parque Estadual da Pedra Branca enfrenta problemas sociais da realidade carioca. “O mapa de conflitos da Pedra Branca é variado”, diz o guarda-parque Carlos Vinicius de Laia. “Há comunidades com tráfico, com milícias, e também comunidades agrícolas e tradicionais dentro do parque [aproximadamente 5 mil segundo o plano de manejo de 2013]”.
O caminho da Transcarioca através do Pedra Branca reflete o esforço da gestão e dos guarda-parques. Após diálogo com produtores rurais da bacia do Rio da Prata, foi definida uma modificação no traçado da trilha para que passe dentro de propriedades que trabalham com agroecologia e, assim, permitir aos moradores oferecer hospedagem, alimentação e serviço de guia aos caminhantes.
Para Andrei Veiga, é impossível alcançar os objetivos da Transcarioca sem contar com a sociedade civil: “os mutirões vão permitir a Transcarioca se tornar realidade, não depende só dos órgãos ambientais e sim da sociedade”. Se depois de implantada, a Transcarioca não gerar fruto para a sociedade [como serviços prestados ao longo da via] ela corre o risco de voltar para o papel”.
O atual contingente designado para gerir a visitação dentro do Pedra Branca é de apenas 4 servidores. Por isso, são importantes mutirões com centenas de voluntários, como o do dia 24 de outubro.
O Parque Estadual da Pedra Branca está situado na última fronteira de expansão da cidade e não é coincidência que uma via expressa também chamada Transcarioca seja anunciada como um grande legado dos jogos olímpicos do Rio, em 2016. A Transcarioca de asfalto liga o Aeroporto Internacional à Barra da Tijuca, percorre 39 km e promete melhorar o caótico sistema de transporte público da cidade. Enquanto isso, a Trilha Transcarioca, de terra, vai percorrer 180 km e tem papel central na conservação das áreas verdes que consagram o Rio de Janeiro como uma das mais belas cidades do mundo.
*Este texto é original do blog Observatório de UCs, republicado em O Eco através de um acordo de conteúdo. |
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Se bem manejada a Trilha Transcarioca pode se tornar um corredor ecológico funcional. A equipe do Parque Estadual da Pedra Branca é o pessoal certo na hora certa para tornar esse corredor realidade.