Começo de ano é aquela época carente de notícias ocupada pelas indefectíveis retrospectivas. Mas para o setor elétrico, o balanço dos principais fatos ocorridos se justifica.
Ao contrário dos prognósticos desanimadores, o ano não viu o retorno das térmicas a carvão e foi dominado pela contratação de eólicas, biomassa e dos primeiros parques solares.
Em janeiro de 2013, o nível dos reservatórios das hidrelétricas se encontrava novamente abaixo da média, suscitando mais um grande debate sobre a perda da segurança do sistema energético. O governo acenou com a revisão do planejamento de médio e curto prazo, como forma de minimizar o risco de suprimento.
As térmicas teriam uma participação crescente na matriz no horizonte de médio prazo. As justificativas seriam as dificuldades técnicas à expansão de hidrelétricas com reservatórios, por conta das baixas quedas d´água dos rios amazônicos, e a oposição de movimentos e organizações socioambientais a esses projetos.
Fontes renováveis como eólica e solar foram novamente desqualificadas como intermitentes, reforçando as térmicas como a alternativa ideal para resolver o problema. Dentro dessas, o carvão seria o combustível de preferência, diante da dificuldade logística e econômica do gás natural.
Felizmente, a diferença entre o discurso e a prática foi grande.
Sucesso das renováveis
…não apenas terminamos o ano sem as térmicas alardeadas, como contratamos 85% de toda a energia com biomassa, solar e eólica
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Depois de quatro leilões para a contratação de renováveis e térmicas – A-3, A-5 e de reserva – e ainda um leilão regional exclusivo para a fonte solar, o placar final de 2013 foi o seguinte:
– A energia eólica se superou novamente. O setor driblou as novas exigências de conexão dos parques e garantia de geração de energia. Foram contratados mais de 4.700 MW, uma marca histórica que dobra o recorde anterior, de 2.800 MW em 2011;
– Depois de alguns anos em hibernação, as PCHs (pequenas centrais hidrelétricas) reapareceram, contratando 526 MW em projetos concentrados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A despeito dos impactos ambientais, a opção ainda é preferível à construção de grandes usinas na Amazônia;
– As térmicas contratadas foram todas a biomassa. O total superou os 800 MW e ajuda o setor, que ainda padece de condições desiguais de competitividade em relação às eólicas;
– No campo das térmicas fósseis, não houve contratação de gás ou carvão em 2013. O preço e a disponibilidade do gás dificultaram sua participação nos leilões. Já as usinas a carvão, a despeito do lobby do setor e da abertura governamental, tampouco mostraram condições de competitividade diante da biomassa – que conseguiu se viabilizar em patamares abaixo de R$140/MWh, enquanto as térmicas a carvão pediam um preço teto de R$180/MWh;
– A energia solar foi finalmente incluída nos leilões A-3 e A-5 no final do ano, mas o baixo preço-teto oferecido impossibilitou qualquer contratação. Por outro lado, a iniciativa do governo de Pernambuco de promover um leilão regional exclusivo para a fonte resultou em 122 MW contratados, um número expressivo para uma indústria que precisa de demanda para se estabelecer no país.
Em resumo, não apenas terminamos o ano sem as térmicas alardeadas, como contratamos 85% de toda a energia com biomassa, solar e eólica – estas últimas com dois terços do total. O volume foi completado com os 1.100 MW das usinas de São Manoel e Sinop.
Se este ritmo se mantiver em 2014, não é exagero afirmar que as renováveis ditas complementares continuarão a ocupar os espaços de expansão da demanda energética – seja pelo mérito da competitividade ou por iniciativas estaduais. No caso do leilão de Pernambuco, já há interesses de se replicar o modelo em outros estados.
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