A conservação da biodiversidade enfrenta problemas similares em todo lugar, sejam aqueles de impacto global gerados na crise climática, sejam os de interferência regional e velhos conhecidos de sempre: caça, tráfico, perda de hábitat, espécies invasoras, doenças, etc. Algumas ameaças, todavia, não são tão fáceis de perceber, ou mesmo de lidar, sobretudo aquelas que atravessam gerações.
Esse tipo de caso complicado é bem ilustrado com uma ave da fauna brasileira – o uru nordestino, que foi descrito como Odontophorus plumbeicollis e está desaparecendo das últimas florestas da região. Para ser melhor entendida, a história desse galiforme deve ser precedida pela de seu parente mais próximo, de aparência quase igual.
A outra ave estreitamente relacionada ao uru nordestino foi descrita em 1825 por Johann Baptist von Spix (1781-1826), naturalista que integrou a lendária Missão Artística Austro-Alemã que trouxe a futura imperatriz do Brasil, a então princesa Maria Leopoldina da Áustria. Dois espécimes procedentes das imediações entre Minas Gerais e Rio de Janeiro jazem conservados até hoje numa coleção zoológica em Viena, aos quais se associam o nome Perdix capueira, posteriormente adequado para Odontophorus capueira. Habita florestas interioranas da Argentina e Paraguai, avançando até a costa atlântica baiana. A cor cinza da plumagem que recobre o ventre desse uru é uma característica importante para separá-lo do uru nordestino.
Na mesma época em que Spix descreveu essa espécie de uru, o barão francês Nöel Frédéric Armand André de Lafresnaye (1783-1861) incorporou em sua vasta coleção de aves um exemplar enigmático oriundo de Montevidéu, lugar que entre 1821 e 1828 estava anexado ao Brasil. O país que viria a ter essa cidade como capital guarda em seu topônimo “Uruguai” uma etimologia sugestiva, podendo tratar-se de “rio dos urus”. Enquanto essa ave era exterminada pelo Sul, sua parente sofreria de forma similar pelo Norte, pois o uru nordestino também fora erradicado em Guaraciaba do Norte, no Ceará, em seu ponto final de distribuição. Quem coletou tal depoimento foi ninguém menos do que Francisco Freire Alemão de Cisneiro (1797-1874).
Freire Alemão liderou o primeiro esforço de pesquisa genuinamente nacional, um dos legados que o imperador Dom Pedro II nos deixou, tal como fez sua mãe Leopoldina. A chamada Comissão Científica de Exploração teve atuação quase restrita ao Ceará, quando Guaraciaba do Norte era chamada de Campo Grande em novembro de 1860, ocasião em que Alemão anotou do povo: “alguma caça e pássaros desapareceram daqui depois da seca de [18]45, como urus (capoeiras)”. A localidade em questão integra o planalto da Ibiapaba, marco natural divisório entre os estados do Ceará e o Piauí, onde reinavam florestas sempre verdes em meio ao árido sertão circundante. Cinquenta anos depois, tal ave seria novamente encontrada perto dali.
Em 1910, um uru nordestino foi obtido em Ipu, distante cerca de 15 km das matas de Guaraciaba do Norte. Tal coleta se deve à ornitóloga alemã Emilie Snethlage (1868-1929), todavia, numa circunstância inusitada. Apesar de Snethlage ter sido uma exímia atiradora, o uru nordestino que ela encontrou estava em um cativeiro. Isso fez com que ele não pudesse ser examinado adequadamente, permanecendo à margem de suas importantes publicações, aguardando estudos até hoje nas gavetas do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém. Se a intrépida ornitóloga tivesse encontrado o uru nordestino na alça de mira de sua arma, o táxon teria sido descrito por ela, já que na mesma expedição da Ibiapaba ela fez isso com outras sete aves.
A ave uruguaia que pertenceu ao barão de Lafresnaye foi transferida ao Museu de Zoologia Comparativa, em Harvard (EUA), curiosamente, na mesma instituição fundada após uma missão científica que coletou nos estados nordestinos do Brasil entre 1865 e 1866 – a Expedição Thayer, liderada pelo zoólogo suíço Louis Agassiz (1807-1873) e que contava com a participação do ornitólogo Newton Dexter. Sem encontrar o uru nordestino no Ceará, essa expedição atuou bastante na serra da Aratanha. Tendo sido criado nesta mesma serra, o poeta cearense Juvenal Galeno da Costa e Silva (1836-1931) mencionaria em sua obra “Scenas Populares”, publicada em 1871, sobre uma ave chamada uru, que cantava o próprio nome e ocorria nas serras do Ceará.
Apesar de Dexter não ter encontrado o uru nordestino no Ceará, ele o fez em Maceió, Alagoas. O espécime em perfeito estado de conservação ainda se encontra no museu de Harvard, mas não foi percebido como algo diferente. 48 anos após Dexter e apenas três depois de Snethlage, foi a vez do coletor Robert H. Becker vir ao Ceará, a serviço do Museu de Chicago. Ele recebeu instruções expressas de seu superior, o zoólogo americano Wilfred Hudson Osgood (1875-1947), de que deveria buscar lugares pouco explorados, às vezes faltando-lhe condições de trabalho. Becker tomou o trem em Fortaleza, indo até o fim da linha. Obedecendo Osgood, ignorou as primeiras paradas, nas serras de Aratanha e Maranguape, onde havia urus nordestinos.
Becker desceu na estação de Baturité, diante de uma serra estudada apenas superficialmente antes dele. Sua espingarda abateu aves de 44 espécies em dez dias, e no penúltimo deles, conseguiu um único exemplar do uru nordestino. Seu esforço resultou na descrição subsequente de 13 táxons que superaram o êxito das poucas coleções feitas ali no Século XIX por seus colegas de profissão. Aquele macho abatido no dia 21 de julho de 1913 seria decisivo para nomear uma nova espécie. Contudo, a falta de outros exemplares e a baixa qualidade da preparação afetariam a aceitação científica. Por conseguinte, isso acarretaria dilemas para a própria conservação da ave. Dois anos depois, em 1915, surgia Odontophorus plumbeicollis.
Charles Barney Cory (1857-1921) foi o autor da nova espécie. Natural de Boston, Cory era um rico colecionador de aves que doou seus cerca de 19.000 exemplares para o Museu Field de História Natural, em Chicago. Falido em 1906, foi tornado curador da seção de ornitologia no referido museu. Cory iniciou uma obra monumental que pretendia catalogar as aves das Américas. Seu sucessor, o ornitólogo austríaco Carl Edward Hellmayr (1878-1944), invalidou o uru nordestino como espécie oito anos após a morte de Cory, relegando-o à condição de subespécie. Sua justificativa foi “o exemplar único e deteriorado requer material adicional que reforce a espécie”. O museu de Chicago dista 1.363 km do de Harvard, onde há o uru nordestino.
O eminente Hellmayr permaneceu irredutível por mais 15 anos, conforme publicação dele com seu sucessor, o americano Henry Boardman Conover (1892-1950). Em 1957, só após a morte de ambos, foi coletado o primeiro exemplar desde que Becker esteve no Ceará. Assim como aquele ignorado no museu de Harvard, este novo uru nordestino também era alagoano. Seu caçador foi Emílio Dente (1919-1995), a serviço do Museu de Zoologia de São Paulo, que em 12 de abril daquele ano estava na localidade denominada “Engenho Riachão”. Os ornitólogos daquele museu concordaram com o postulado de Hellmayr, mantendo o uru nordestino como subespécie. Assim como ele, basearam-se na única ave que dispunham, mesmo havendo outras colecionadas pelo Brasil.
Em nosso país, além da ave cativa obtida no Ceará por Snethlage, outro espécime constava em uma coleção regional. O naturalista cearense Francisco Dias da Rocha (1869-1960) era proprietário de um museu e reproduzia aves em seus viveiros experimentais. Rocha coletou o primeiro uru nordestino no Ceará, segundo informações publicadas por ele em 1908, portanto, antes de Snethlage. Em sua tentativa inicial de identificação, considerou a ave como Odontophorus gujanensis (uru-corcovado). Essa espécie tem coloração ventral acastanhada, como a do uru nordestino, ao contrário da plumagem cinza do uru de Spix. Em 1939 e 1948, Rocha manteve sua ave identificada como O. capueira, sem ter tido acesso ao trabalho de Cory.
Quando Rocha corrigiu a identificação de seu exemplar de uru nordestino, o catálogo de aves brasileiras mais atualizado havia sido publicado um ano antes, contudo, sem referência à descrição de O. plumbeicollis. Ele se correspondia com os dois responsáveis sucessivos pela coleção de aves do Museu de Zoologia de São Paulo, tendo inclusive remetido material àquela instituição, conforme consta no próprio catálogo mencionado. Rocha teve um tipo de preceptor – o naturalista Antônio Bezerra de Menezes (1841-1921), que também discutiu sobre o uru nordestino no Ceará. Bezerra coletava e identificava aves, subsidiando acervos como o que fundou o Museu Field, além de interagir com a equipe do Museu Nacional, no Rio de Janeiro.
Antes de Dexter coletar o uru nordestino em Maceió, o naturalista francês Louis Jacques Brunet (1811-1877) já havia listado a ave no estado da Paraíba, mas apenas com divulgação póstuma do feito. Brunet citou o gênero Odontophorus, associando-o aos nomes brasileiros uru e corcovado, além de indicar em sua língua nativa ser um “tocro roux”, em referência à coloração avermelhada. O museu constituído por ele ainda remanesce com seu acervo no Ginásio Pernambucano, em Recife. A lista de Brunet na Paraíba foi contratada por Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire-Rohan (1812-1894), que presidiu aquela província. Nela, consta o gênero e nomes vulgares, com a dúvida a qual espécie pertenceria (gujanensis ou capueira).
Além dos registros cearenses, alagoanos e paraibano, a ave também foi listada em Pernambuco, desta vez, graças ao zoólogo brasileiro Herbert Franzoni Berla (1912-1985), que em 1946 divulgou seu registro não colecionado. No final do Século XX, em pleno desmatamento acelerado da Floresta Atlântica (Pró-Álcool), o uru nordestino teve voz gravada em 1981, na área do citado Engenho Riachão, onde a ornitóloga suíça Anita Studer promoveria em 1992 a criação da Reserva Biológica (Rebio) da Pedra Talhada, desenvolvendo ali ações efetivas de conservação. Apenas entre 1989 e 1995 foi confirmado o registro paraibano do uru nordestino por exemplar coletado, procedente da Reserva Biológica Guaribas, criada em 1990.
No Século XX, as medidas de proteção aos urus nordestinos foram a criação das Unidades de Conservação mencionadas, além de uma Área de Proteção Ambiental na serra de Baturité e uma Área de Relevante Interesse Ecológico em Murici, Alagoas. Sumiram da Rebio Guaribas desde 2014 e de Murici desde 2004. O Parque Nacional da Tijuca foi o palco onde o naturalista cearense Adelmar Faria Coimbra Filho (1924-2016) reforçaria a população de urus através de reintroduções pioneiras. Antes comuns nas matas do Rio de Janeiro, tinham se tornado raros principalmente devido à caça. Livros culinários do Século XIX traziam receitas de preparo de urus, enquanto revistas que enalteciam seu sabor deixaram de circular apenas em 1971.
Do Século XIX e XX para o XXI, os desafios para conservar o uru nordestino começaram a ser enfrentados com o mínimo de estratégia. Em 2003, ele passou a figurar na condição de Em Perigo (EN) de extinção na lista brasileira da fauna ameaçada, pois esta considerou subespécies. Em 2014, se manteve na listagem oficial, mas avaliado em condição pior: Criticamente em Perigo (CR) de acabar. Em 2022, consta na mesma categoria segundo a lista aprovada pela Comissão Nacional de Biodiversidade, devendo também integrar a Lista Vermelha da Fauna Cearense Ameaçada de Extinção, onde aparecerá como CR. O uru nordestino jamais foi avaliado numa lista global por não ter sido considerado espécie plena.
Classes para avaliação de espécies quanto à ameaça de extinção.
Além das listas de fauna ameaçada, estratégias de conservação contam com Planos de Ação Nacional (PAN). Esses instrumentos são acordos entre partes interessadas para evitar extinções, assumindo compromissos e prazos. São amparados por portarias federais e atendem às premissas adotadas pelo Governo Brasileiro ao assinar a Convenção da Biodiversidade. O PAN dos Galliformes foi o primeiro a tratar do uru nordestino, ainda em 2008. Destaca-se a recomendação de “criação em cativeiro e coleta de espécimes a fim de se esclarecer o status taxonômico”. Na página oficial do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade não constam relatórios de que esse PAN tenha sido monitorado. Se foi, não atingiram essa meta.
O PAN dos Galliformes abrangia ações para oito espécies e foi encerrado em 2011, com transferência das ações voltadas ao uru nordestino para os abrangentes PAN das aves da Caatinga e da Mata Atlântica, respectivamente iniciados em 2012 e 2017. Em 2018, o da Caatinga foi renovado em um segundo ciclo, onde passou a tratar de 34 espécies ameaçadas, enquanto o da Mata Atlântica contempla 142. A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza patrocina ações de PAN, permitindo que a partir de 2017 fossem gerados os primeiros dados de tendência populacional do uru nordestino na serra de Baturité, onde houve declínio de 54% entre 2008 e 2017 em áreas conservadas. Ninhos foram localizados e articulou-se o programa de cativeiro.
O referido projeto foi conduzido pela Aquasis, uma associação cearense que trabalha com conservação da biodiversidade desde sua fundação em 1994. Também com o apoio do mesmo patrocinador, foram fundados projetos ininterruptos em prol de outras aves ameaçadas, como o soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni) e o cara-suja (Pyrrhura griseipectus), este último, um tipo de periquito que também teve a serra de Baturité como localidade típica, ou seja, de primeira procedência conhecida. A articulação do programa de cativeiro culminou com uma oficina feita no Parque das Aves (Foz do Iguaçu/PR), contemplando dez táxons. Ocorreu entre 12 e 16 de fevereiro de 2020, um mês antes da pandemia de Covid-19 assolar o Brasil.
A oficina foi intitulada “Avaliação ex situ para Planejamento Integrado de Conservação para Galliformes e Tinamiformes no Brasil”. Em linhas gerais, os encaminhamentos para o uru nordestino foram: 1) ações ex situ, fundando população de segurança; 2) reforço de contingente onde ocorra e reintrodução em pontos de extinção local; 3) Pesquisas sobre doenças e monitoramento do tamanho populacional. Mesmo no contexto de isolamento social em 2020 e 2021, buscas de ovos foram realizadas na serra de Baturité e Rebio Pedra Talhada pela equipe da Aquasis. Os raros ninhos encontrados foram predados antes que seus ovos pudessem ser resgatados. Em 2022, outras ameaças se intensificaram no contexto de crise político-ambiental.
Além da crescente supressão florestal na serra de Baturité para loteamentos, a caça e o tráfico retornaram aos níveis observados até 2010, atingindo inclusive o periquito cara-suja. Quanto a essa outra espécie, um viveiro florestal encontrava-se instalado na serra da Aratanha para sua reintrodução, quando, conforme autorização de pesquisa, foram encontrados e capturados urus nordestinos na serra de Baturité sob risco iminente de caça. Os exemplares foram acomodados no recinto da Aratanha e aclimatados de acordo com seus requerimentos ambientais. Uma nova saga se iniciava ali, pois os mesmos deveriam ser transportados ao Parque das Aves antes que atrapalhassem o processo de reintrodução do periquito. Mas ainda surgiram outros problemas.
Os cinco urus nordestinos deveriam ser transportados da melhor forma possível, tratando-se de animais selvagens e arredios. Despachá-los de forma convencional em aviões de carreira seria um risco a ser contornado, ademais, os recursos que poderiam ser empregados para a espécie foram indisponibilizados por questões técnicas. Era necessário encontrar uma aeronave ideal para a operação, bem como uma tripulação que entendesse que aquela poderia ser a última esperança para o futuro do uru nordestino. A questão remetia a outros cinco galiformes que passaram por situação similar em Alagoas, sendo resgatados em 1976 enquanto a espécie era extinta na natureza por caça e desmatamento – tratam-se dos mutuns-de-alagoas (Pauxi mitu).
A Azul Linhas Aéreas Brasileiras entendeu a gravidade da questão, cedendo equipe e uma de suas duas aeronaves Pilatus PC-12, designada Missão Azul. Um grupo de doadores foi sensibilizado e completou as despesas para a realizar a operação que aconteceu em primeiro de abril de 2022, com o perdão do trocadilho, parecendo mentira. Tudo transcorreu de forma perfeita e os urus nordestinos foram alocados próximos a mutuns-de-alagoas e caras-sujas, todos em área reservada, sem visitação pública. Enquanto o sucesso reprodutivo da população de segurança é aguardado, uma pesquisa científica está sendo conduzida sobre a validade do uru nordestino, testando se ele é de fato uma espécie ou não, atendendo ao pedido de Hellmayr.
De acordo com o protocolo adotado, a população de segurança deve atingir uma centena de aves antes que a primeira seja reintroduzida na natureza. Nesse meio tempo, uma estratégia de política estadual deve ser pactuada em um documento equivalente a um PAN, de modo a aumentar as chances de que o uru não seja regionalmente extinto no Ceará. Estima-se que cerca de cinco Planos de Ação Territoriais possam ter escala de abrangência para serem efetivos na conservação da fauna cearense. Os órgãos federais, estaduais e municipais teriam indicadores claros quanto ao sucesso de combate à extinção. Poucos animais ameaçados no Brasil tiveram aumento populacional, sendo um deles, o periquito cara-suja no Ceará – um modelo a seguir.
Em 2010, calcula-se que pouco mais de cem periquitos restavam na mesma serra de Baturité do uru nordestino, onde seguiam em franco declínio. Em 2021, seu contingente foi aumentado em dez vezes sem depender de programas de cativeiro. Para tanto, foi necessário oferecer ninhos artificiais seguros contra capturas por traficantes. As aves fizeram a parte delas ao reproduzir nas caixas (o que começou no dia primeiro de abril de 2010), enquanto a população era sensibilizada sobre o significado do que estava sendo feito. Os periquitos cara-suja são prolíficos como os urus nordestinos, desde que oferecidas condições mínimas. Para o galiforme, todavia, suas especificidades de reprodução e grau de emergência requerem um tipo de granja.
Se o uru nordestino não for espécie, todo esforço de conservação ainda valerá para que ele não seja erradicado no Ceará. Se for uma espécie, poderá ser salvo da extinção global
Se o uru nordestino não for espécie, todo esse esforço ainda valerá para que ele não seja erradicado no Ceará, e talvez de estados da Região Nordeste. Se for uma espécie, poderá ser salvo da extinção global. O mesmo dilema já pairou sobre o cara-suja, que ficou à margem das listas vermelhas enquanto não foi adequadamente estudado sobre sua validade específica. Restam dúvidas sobre a identidade de urus na região do Médio e Baixo Jequitinhonha, entre Minas Gerais e Bahia. Desmatamentos e caça nessa área podem prejudicar a identificação do que há por lá, bem como ações de recuperação. Isso equivaleria ao que aconteceu em Guaraciaba do Norte e no Uruguai, mas desta vez, do centro para os extremos Norte e Sul.
No Ceará, o dia primeiro de abril tem se mostrado emblemático para as aves ameaçadas de extinção. Nesses tempos em que boatos têm mais alcance do que a ciência, e quando o calendário parece retroceder perante o descaso com que o meio ambiente vem sendo tratado, histórias que parecem mentira, como a do periquito cara-suja, servem como a chama de uma vela que mostra caminhos em meio às trevas do obscurantismo. Que essa luz seja mantida acesa, iluminando rota de escape ao uru nordestino, pintassilgo-do-nordeste, araponga-do-nordeste, tovaca-campainha-do-nordeste e tantas outras espécies às quais seja possível conservar a partir do momento em que passamos a conhecer e nos importar com suas histórias.
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