Uma das maiores Conferências do Clima e a primeira no coração da floresta equatorial sul-americana terminou sem romper o roteiro escrito há mais de três décadas na Rio-92. Os grandes responsáveis pela crise climática, os combustíveis fósseis, continuam ocupando o centro do palco e sustentando a inércia global.
Representantes das nações ignoraram os que mais sofrem os impactos climáticos e que marcharam pelas ruas de Belém. Decidiram nosso destino dentro de um enorme tubo climatizado. Não fossem um incêndio e o rugido das chuvas amazônicas, o mundo lá fora teria permanecido quase só no imaginário.
O corte urgente das emissões para manter o aquecimento global em 1,5°C foi novamente empurrado para o ano seguinte. US$ 120 bilhões prometidos aos países em desenvolvimento para enfrentar eventos extremos podem levar até 2035 para chegar – lembrando que nenhum compromisso financeiro anterior foi cumprido.
Isso pode não indicar o esgotamento, mas sim as limitações do multilateralismo de consensos, que até agora se mostrou incapaz de nos desviar do colapso climático. Nesse contexto, a COP30 pode ter aberto um novo corredor para ações entre mais de 80 países, para além das amarras formais da Convenção do Clima.
O arranjo, contudo, ainda parece frágil: dele nascerá um relatório com caminhos legais, econômicos e sociais para eliminar os combustíveis fósseis, a ser apresentado no fim de abril na Colômbia – a apenas um mês das eleições nacionais e num ambiente hoje de crescente rejeição ao governo Gustavo Petro.
Essa pode ser uma nova, ou talvez última, oportunidade real para colocar rapidamente as economias globais nos trilhos da sustentabilidade planetária.
No encerramento da COP30, pouco antes de se emocionar ao ser ovacionada, a ministra Marina Silva pediu que os países persistam na jornada de superar suas diferenças e enfrentar urgentemente a crise do clima. O que vier daqui em diante dirá se suas lágrimas foram em vão.
As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.
Leia também
Entrando no Clima #72 | Entre Frustrações e possibilidades: o balanço da COP30
André Corrêa do Lago e Marina Silva contam como pretendem construir o mapa do caminho para fim dos fósseis neste episódio de despedida do podcast →
Mapa para fim dos fósseis fica de fora do texto final da COP 30
Presidência brasileira propõe roteiro “alternativo” sobre assunto. Sociedade lamenta, mas fala em abertura de diálogo →
COP entrega pouco, mantém ameaça de colapso climático e colhe críticas globais
Entidades civis reconheceram ao mesmo tempo avanços e possibilidades para conter os fósseis e o desmatamento →




