Lembro de quando pintei minha primeira pegada amarela. Na época não existia ainda o fundo preto que melhora a visibilidade da sinalização. Era só a sola da bota e a figura de duas estátuas do Cristo Redentor inseridas nela. O ano era 2012 e a pegadinha que eu pintei fez parte das primeiras que deram corpo – e hoje são sua marca registrada – à Trilha Transcarioca, no Rio de Janeiro. Ao pintá-la lembro também de imediatamente me sentir um pouco responsável por tudo aquilo, e por todo aquele movimento que hoje identifico, com a perspectiva que só o tempo traz, como o embrião das trilhas de longo curso no Brasil.
Neste domingo (16), a Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso completou o 1º aniversário de sua diretoria, toda formada por voluntários. O voluntariado está no DNA da Rede, que é uma construção coletiva que também envolve equipes de unidades de conservação, representantes de governos estaduais, municipais e do federal, empresários, moradores… Mas sem os voluntários, arrisco dizer, a Rede nada seria. O que motiva esses devotos às trilhas e ao projeto de conectar o país com elas tem raiz no mesmo sentimento que eu tive ao pintar minha pegada na Transcarioca: pertencimento.
É difícil precisar exatamente quantos voluntários já se envolveram com as 74 trilhas que compõem hoje a Rede, mas um chute conservador começaria em 1 mil. Em algum lugar no meio dessa estimativa, estão os 17 voluntários que integram o corpo diretor da Associação Brasileira Rede Brasileira de Trilhas e que possuem o objetivo de formalizar e coordenar as ações de todos os grupos responsáveis pela montagem, sinalização e manutenção de trilhas da Rede, nos quatro cantos do Brasil.
Três deles participaram da live organizada pela Rede em parceria com ((o))eco, realizada no último domingo (16): o presidente, Hugo de Castro; o diretor de comunicação, Pedro da Cunha e Menezes; e a diretora de capacitação, Clarice Silva. Além deles, participaram do bate-papo virtual o analista ambiental do ICMBio, Paulo Faria, e o servidor do Ministério do Meio Ambiente, Bernardo Issa, ambos com uma longa história na implementação de trilhas e na consolidação do uso público nas áreas protegidas.
As pegadas, cada uma com sua identidade própria, se multiplicaram de norte a sul. Hoje, a Rede possui 3.287 quilômetros de trilha implementados e outros 10.421 planejados. Parte desses caminhos já está no recém-lançado site da Rede de Trilhas – o presente de aniversário que todos queriam. O cadastramento de trilhas ainda está sendo feito. Até o momento, seis delas já estão disponíveis na plataforma: a pioneira Transcarioca, a Trilha Transmantiqueira, o Caminho de Cora Coralina, a Rota dos Pioneiros, e os Caminhos dos Veadeiros e do Planalto Central.
Para além do turismo, um dos principais objetivos desses percursos é justamente a conexão. E a Portaria Conjunta nº 407 entre os Ministérios do Meio Ambiente e do Turismo, que institui a Rede, prevê isso e a inclui no Programa Nacional de Conectividade de Paisagens (CONECTA).
“Promover as trilhas de longo curso como instrumento de conservação da biodiversidade e conectividade de paisagens” e “sensibilizar a sociedade sobre a importância da conexão de paisagens naturais e ecossistemas, promovendo sua participação ativa na implementação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação” são dois dos objetivos citados na Portaria e que fundamentam a Rede.
Caminhar é preciso, conectar os caminhos também. Isso é verdade para trilhas de longo curso assim como é para iniciativas afins. E os caminhos da Rede e de ((o))eco estão conectados desde quando ela era apenas uma ideia, se tanto, e um sonho com certeza. Nesta retomada do blog Palmilhando iremos celebrar essa parceria de longa data com a publicação de colunas semanais sobre as Trilhas de Longo Curso, sempre conectadas – olha essa palavra de novo – com os temas discutidos nas lives semanais da Rede, realizadas às terças, às 19h.
Durante a última live, uma fala do Pedro da Cunha e Menezes, diretor de comunicação, chamou minha atenção: “Não existe ‘vocês da Rede’, todos nós somos a Rede, porque se a Rede não for de todo o Brasil ela não vai dar certo. Ela tem que ser da unidade de conservação federal, estadual, municipal, dos clubes de montanhismo, todo mundo tem que se apropriar dela para que ela dê certo”.
É o tal do pertencimento. E mais uma vez sou transportada para o sentimento que teve início quando pintei minha primeira pegada amarela, lá em idos de 2012, e que só aumentou na medida em que eu pintava mais pegadas, conhecia mais pessoas envolvidas com esse projeto e me tornava de forma indireta uma das porta-vozes dessa iniciativa. Esse poder multiplicador – de pessoas e de pegadas – é o grande trunfo para a consolidação desses caminhos que conectam áreas naturais, cidades, economias e, obviamente, pessoas.
Confira a live que rolou no domingo (16/08) na íntegra:
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