Entre 2001 e 2005, eu e colegas do Laboratório de Biologia da Conservação da UNESP de Rio Claro (SP) participamos de um projeto que visava estimar o tamanho das populações de espécies cinegéticas da Mata Atlântica paulista, coordenado pelo Prof. Dr. Mauro Galetti. Espécies cinegéticas são aquelas objeto de caça, ou, em outras palavras, aquelas que os caçadores preferem. Incluem aves, como macucos e jacutingas; e mamíferos, como porcos do mato e muriquis. A presença ou ausência destas espécies e a medição de suas densidades populacionais são excelentes indicadores de qualidade de uma floresta, assim como do impacto humano e da efetividade de uma área protegida.
Assim, Unidades de Conservação com boas populações de jacutingas, queixadas e muriquis têm proteção efetiva e gestão eficiente, enquanto aquelas com florestas vazias sofrem de gestão e manejo ineficientes.
Perguntar aos bichos é a melhor maneira de saber se dinheiro destinado à conservação está sendo bem gasto ou se determinada estratégia de manejo ou política ambiental funciona.
Entre caçadores e palmiteiros
Durante nosso projeto percorri trilhas de muitas das áreas protegidas do estado de SP. Deparei-me com problemas fundiários e crimes ambientais nas 10 unidades de conservação paulistas de uso indireto (parques, estações ecológicas) que visitei entre 2001 e 2005. Em todas elas encontrei caçadores, palmiteiros e animais domésticos. Em todas ouvi tiros e descobri ao acaso esperas com cevas. Em todas. Até andar agachada uns 50 metros andei para caçadores não me verem numa trilha que passava em cima do bananal onde eles estavam cortando banana para abastecer cevas. Hoje, a maturidade e uma boa dose de Discovery ID, que em 2002 não existia ainda, já me tiraram esta coragem desnecessária.
Quando eu retornava à civilização e colocava meus dados no computador, não era raro ter muitas informações a respeito de evidências de caça ou corte de palmito, e poucos dados sobre as espécies cinegéticas cujas populações queríamos estimar. Tão difícil quanto encontrar os animais também era encontrar alguma patrulha da Polícia Ambiental, que raramente se afasta do asfalto.
Durante o ano de 2004, vivenciei episódios peculiares que merecem destaque no Parque Estadual de Jacupiranga, no sul de São Paulo. Visitei este parque regularmente durante todas as estações do ano de 2004, principalmente para levantar informações sobre a população das jacutingas (Pipile jacutinga, Cracidae), uma espécie em sério perigo de extinção devido à caça e que pretendia estudar para meu doutorado.
Jacupiranga
“Ao percorrer uma destas trilhas cheias de palmito cortado, eu e uma ajudante de campo ouvimos o pio de um macuco Tinamus solitarius, (…) Pois bem, este canto vinha do apito de um caçador”
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Localizado no Vale da Ribeira, Jacupiranga é parque desde 1969. Abriga um importante complexo de cavernas inseridas em uma região que na época da pesquisa abrangia cerca de 150 mil hectares de Mata Atlântica. Jacupiranga é cortado pela BR 116, o que resultou em uma explosão de grilagem e desmatamento similar aos que vemos hoje nas rodovias amazônicas. Este parque tem tantos problemas quanto as outras áreas protegidas, entre eles os sempre presentes caçadores, palmiteiros e a falta de regularização fundiária. Para completar, na época do desenvolvimento da pesquisa havia um intenso debate sobre a sobreposição de áreas do parque com territórios quilombolas. A lei n. 12.810 de 2008 alterou os limites do parque Jacupiranga e colocou um ponto final neste debate, ao denominar estas áreas de sobreposição como “Reservas de Desenvolvimento Sustentável”.
Saíamos de Rio Claro (SP) e após cerca de 10 horas de viagem chegávamos na região do Núcleo Cedro, quase na divisa com o Estado do Paraná. Neste núcleo encontramos uma única jacutinga na região durante toda a duração do projeto. A ave estava pousada em um palmito-juçara no quintal de um casebre à beira da Régis Bittencourt ou BR 116 — a tão famosa rodovia da morte. Este tipo de dado, semelhantes aos de outras áreas, faz pensar que ajudaria se as pessoas deixassem de caçá-la, pois as jacutingas não parecem tão exigentes em relação à qualidade do habitat.
Holofotes equivocados
Após procurar por jacutingas e outros animais no Cedro, durante cerca de sete dias a cada viagem, partíamos rumo ao núcleo Caverna do Diabo, mais ao norte, também seguindo pela rodovia Regis Bittencourt.
A BR 116 corta o parque ao longo de 60 km, facilitando o acesso de seres humanos às suas matas para a realização das mais variadas peripécias ilegais, entre elas o escoamento ilegal dos palmitos-juçara (Euterpe edulis) extraídos das terras do parque e outras áreas do Vale do Ribeira.
A Caverna do Diabo, uma das maiores do estado de São Paulo, possui pouco mais de 6 km de extensão, e tem visita turística permitida em seus primeiros 600-700 metros, por um preço, na época, em torno de R$ 3. Não consegui descobrir quem teve a ideia de iluminar a caverna com holofotes, o que permitiu a proliferação de algas e musgos nas formações calcárias próximas às fontes de luz. Há quem diga que este estrago é benéfico — para o ser humano, claro –, pois aproxima as pessoas de um ambiente de cavernas, e ao conhecer este ambiente, o ser humano compreende a importância de preservá-las… Bom, lanternas-de-cabeça foram inventadas há muito tempo e cumprem bem este papel.
Trilhas proibidas
Na primeira visita à região da Caverna do Diabo, perguntei aos funcionários do parque sobre as trilhas existentes, sobre a segurança de andar nas trilhas e possíveis mateiros para auxiliar o trabalho. Rapidamente descobri que era proibido entrar em determinadas trilhas do parque, supostamente público e gerenciado pelo Estado, sem a permissão do chefe da comunidade quilombola.
A sorte é que o vice-representante da comunidade dos quilombolas era um dos guarda-parques e nos levou ao representante naquela noite. Foram duas noites de muita conversa para que conseguíssemos convencer o representante a nos deixar percorrer trilhas próximas ao quilombo que se sobrepunham às terras do parque. Apesar das terras da área pertencerem ao estado de São Paulo, também financiador de parte do nosso trabalho. Por que tanto receio dos quilombolas em ter pesquisadores percorrendo as trilhas próximas à comunidade?
Sem dúvida, para ganhar acesso às trilhas, foi forte o argumento de que viemos de um local distante 10 horas de carro. Lembro-me que uma das preocupações do representante era o levantamento de informações pelos pesquisadores não ser repartido com ou revertido para a comunidade. Levando em consideração a preocupação do representante dos quilombolas, comprometi-me em levar informações sobre jacutingas e outras espécies ameaçadas de extinção para a comunidade, o que fiz em fevereiro de 2004, por meio de uma palestra na escola local. Nela, abordei a importância das jacutingas como dispersoras de sementes e a importância do fruto de palmito-juçara como alimento de muitos animais da Mata Atlântica nas épocas de escassez de outros frutos, principalmente durante o inverno.
Numa das noites, ao voltar para o alojamento do parque naquela estrada estreita que sobe até a sede do núcleo Caverna do Diabo, quase atropelamos um burro carregado de feixes de palmito, que entrou na mata assustado. Mais uma evidência, encontrada ao acaso, de que muita coisa não ia bem por ali.
O (falso) canto do macuco
Durante as saídas de campo vi muitos poucos bichos, mas realizei inúmeros registros de extração de palmito-juçara nas trilhas na área do parque próximas à área dos quilombolas. Todas as palmeiras cortadas tinham caule bem fino (3 a 4 cm de diâmetro na altura do peito) e eram jovens demais para terem produzido sementes.
Numa manhã, ao percorrer uma destas trilhas cheias de palmito cortado, eu e uma ajudante de campo ouvimos o pio de um macuco Tinamus solitarius, exatamente às 6:03h. Logo nos entreolhamos, um misto de alegria e alívio pelo primeiro registro auditivo de um animal cinegético naquela região. Às 6:04h, ouvimos 2 pios deste feliz macuco. Anotei o registro com vários pontos de exclamação. Às 6:06h ouvimos 3 pios, e exatamente 2 minutos após, ouvimos 4 pios seguidos. Começamos a ficar desconfiadas com a persistência desse macuco. Pois bem, este canto vinha do apito de um caçador, que passou por nós logo após o último registro do persistente macuco. Houve trocas de “bom dia”, apaguei os vários pontos de exclamação do caderno e adicionei o triste registro do caçador, colocando reticências. Em relação às jacutingas, foi avistado um único indivíduo na zona intangível – que não admite pessoas — do parque. Nenhum registro ocorreu nas trilhas próximas aos quilombolas. Jacupiranga tem uma daquelas deprimentes florestas vazias.
Em uma noite fui com os colegas de campo ao bar da comunidade, para tomar uma cervejinha. Inevitavelmente conversamos com quilombolas, principalmente sobre os costumes tradicionais e a substituição destes por “costumes da civilização”. Aprendi com eles que palmito-juçara é realmente muito extraído na região, e aqueles bem picadinhos que compramos no supermercado são palmitos ainda jovens, que de tão finos não são colocados inteiros no vidro. Disseram que muitos dos selos autenticados pelo órgão federal são falsificados facilmente, legalizando o palmito extraído ilegalmente. Eu já havia ouvido isto em reportagens e relatos de colegas, mas ao vivo foi mais impressionante e frustrante. Depois deste dia, em todo posto de estrada em que entro e me deparo com aqueles vidros gigantescos de palmito-juçara, olho o rótulo, indagando se é falso ou não. Foi nestas noites que compreendi que a indústria do palmito-juçara só vai ser extinta quando o último palmito for cortado. Sim, há quem não abra mão do delicioso palmito-juçara assado ao invés de se contentar com palmito da pupunha ou palmito de açaí.
Há quilombolas da comunidade próxima a Jacupiranga que já possuem acesso à internet. Ao lerem estas histórias, certamente irão refletir. A situação das jacutingas e outros animais não inspirava otimismo. Após mais de 10 anos desta visita em Jacupiranga, será que jacutingas ainda encontram frutos de palmitos-juçara? Ainda encontramos jacutingas? E macucos ainda piam nestas matas?
E para não perder o espaço para um pequeno protesto, que apaguem aqueles holofotes da Caverna do Diabo e acendam-nos em cada palmito adulto que ainda reste pelas matas de Jacupiranga. Se restar algum.
Saiba mais
Veja aqui o artigo acadêmico que resultou desta pesquisa, a qual só foi possível graças ao apoio do programa Biota/Fapesp, FBPN e Biodiversitas/CEPAN.
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O melhor artigo sobre fauna nas áreas quilombolas do Ribeira que já vi é esse. Para lembrar da Juma e mostrar o que é a realidade
Palmeira, F.B.L. & Barrella, W.
Conflitos causados pela predação de rebanhos domésticos por grandes felinos em comunidades quilombolas na Mata Atlântica.
Biota Neotrop . Jan/Apr 2007 vol. 7, no. 1 http://www.biotaneotropica.org.br/v7n1/pt/abstrac…
ISSN 1676-0603.
A predação de rebanhos domésticos por onças-pintadas (Panthera onca) e onças-pardas (Puma concolor) foi quantificada de 1998 a 2000 e a opinião local para resolver o conflito foi investigada em duas comunidades quilombolas na Mata Atlântica. Os responsáveis pelas propriedades foram entrevistados regularmente de maio de 2000 a janeiro de 2001. A predação foi dependente do número de animais domésticos nas propriedades, foi aparentemente seletiva e possivelmente sazonal. O prejuízo econômico foi alto quando associado com o baixo número de criações. A população expressou uma visão bastante negativa frente à presença de onças e A MAIOR PARTE (54%) SUGERIU O EXTERMÍNIO DESSES ANIMAIS. Conhecer a percepção local é fundamental para adotar um planejamento participativo que reduza as perdas dos proprietários e garanta a conservação dos grandes felinos.
Palavras-chave:
conflito homem-natureza, Mata Atlântica, Panthera onca, percepção, Puma concolo
Ocimar, querido, quando leio textos como esse, seguido de comentários de tanta gente “importante”, formadora de opinião e “tão” por dentro da realidade, dá uma tristeza danada. O Vale, região onde escolhemos viver, dá tantas evidências sobre a diferença da conservação de áreas onde habitam as comunidades tradicionais para outras onde elas não vivem, mesmo com todos os problemas e conflitos que você citou e que também são encontrados em estudos acadêmicos (vide o grupo de estudos em Ecologia Humana, da USP, que tem, inclusive, pesquisas sobre fauna em quilombos). Infelizmente, em espaços como este fórum, tentar argumentar é jogar palavras ao vento, que batem nas cabeças duras e voltam em palavras raivosas de gente que deveria viver dentro da caverna (ops, melhor não, porque impactariam o ambiente). Como se diz aqui no Vale, meio ambiente COM gente!
Prezada Cristine
Boa tarde, trabalho no vale do Ribeira a mais de 30 anos, e sempre atuando com conservação e com comunidades tradicionais, pequenos agricultores, posseiros, quilombolas, caipiras, em fim comunidades rurais. Atualmente sou pesquisador do Instituto florestal e trabalho no Mosaico de Unidades de conservação do Jacupiranga, oriundo do antigo Parque Estadual do Jacupiranga, esse Mosaico de Ucs conta com 14 unidades de conservação entre elas três parques estaduais com mais de 240 mil ha. Nessa região vivem mais de 50 comunidades tradicionais de cananeia a iporanga. E nesses anos todos de trabalho na região convivemos com o conflito do corte clandestino da palmeira Jussara. E pensamos discutimos saídas para esse problema de crime ambiental e também um problema social, pois o que leva um cidadão a enfrentar os intemperes da florestas para cortar a juçara. Com certeza é a falta de terra e de emprego. Isso é fato. E quem mais sofre com esse conflito são as UCs e os agricultores abnegados que mantem em seus sítios a palmeira juçara. Nas UCs, que vem nos últimos anos agonizando com seus guardas parques se aposentando e o estado não repondo os postos de vigilância, a falta de recursos financeiros, deixando -as a sua própria sorte. Nos sítios, onde os agricultores mantem as suas palmeiras sofrem com o corte clandestino. O que estamos fazendo pra contrapor essa situação, nós técnicos e as comunidades tradicionais, comprometidos com a conservação- estamos plantando juçara todos os anos, semeando a lanço, plantando mudas, são varias as inciativas, em sete barras, barra do turvo, cajati, cananeia e eldorado, em todo o vale o que estamos fazendo é plantar a juçara e por ouro lado estamos trabalhando na alternativa do uso da polpa da semente da juçara como alternativa de renda e pra manter a palmeira em pé gerando renda com os frutos da juçara, temos consciência que é necessário de deixar frutos no pé para a fauna. Entendemos que é preciso melhorar a fiscalização, mas é preciso viabilizar o mercada da polpa da juçara que é tão bom ou melhor que a polpa do açai. E também temos claro, que são as comunidades tradicionais do vale do ribeira que mantem o pouco que temos de juçara no Vale. E digo mais as UCs se não tivessem o apoio dessas comunidades estariam em situação muito pior. Estudos como esse são bem vindos mas é preciso aprofundar esse debate e qualifica-lo. Pois não ajuda em nada criminalizar as comunidades que são nossos melhores aliados na conservação da mata atlântica.
E seria muito bom que elas fossem respeitadas.
Ocimar Bim
pesquisador IF SMA SP
Quem caça, desmata e rouba palmito só é "melhor aliado da conservação" no discurso furado de quem não tem cmpromisso com a realidade…
A tragédia é que o êxodo rural na região não é intenso o suficiente. Se fosse as pessoas teriam mais oportunidades de melhorar de vida e a floresta agradeceria sua partida.
São Paulo sempre foi banana demais para manter a lei nas áreas que deveria controlar. Não há postos fixos da PM nos parques paulistas (apesar dos milhares de "policiais ambientais") e o número de vigias caiu de 522 em 2014 para 380 em 2016 pq o Dr. Chuchu nem deve saber o que é um parque. E não vamos nem entrar na eficiência da fiscalização.
O resultado da bananice (ou chuchuzismo) faz as UCs paulistas terem seu palmito sistematicamente roubado e seus animais mortos. O clima de casa de mãe joana cultivado ao longo dos anos faz com que agora até os veículos e escritórios dos parques estejam sendo roubados. Poucas vezes se viu uma situação tão péssima como agora.
Enquanto isso, vamos fazer polpa com os frutos de jussara.
Ótimo artigo, Christine! Nada como alguém que vai nas áreas desenvolver boa Ciência mostar o que realmente acontece sem os mimimis de antropólogos e ongueiros que, na verdade, só estão fazendo militância política e querem que terras públicas sejam privatizadas em nome dos "tradicionais" e aí tirarem sua casquinha como consultores e cafetões.
Concordo Truda.
Esse mesmo principio não quer enxergar que os pertencentes às comunidades tradicionais não são diferentes de ninguém para merecer tratamento diferenciado. Querer acreditar que essas pessoas não causam impacto, pode ser falta de informação sobre seus hábitos, ou pode ser falta de vergonha também. Me parece que acreditar em comunidades tradicionais que "vivem em harmonia" transforma quem acredita em uma pessoa do "bem", e isso cria uma ondinha politicamente-correta-babaca. Um absurdo um líder quilombola querer vetar a entrada de qualquer pessoa que seja em terras publicas. Daqui a pouco esses "ideólogos do bem" vão considerar traficantes de drogas como população tradicional.
Muito bom o artigo Christine.
Parabéns
Bom relato. Estranho somente a demora de publicar, mais de uma decada.
Pois é Paulo a hora foi oportuna, sabendo que os Parques estaduais estão passando por um processo de privatização, onde as empresas terão a conseção de até 30 anos, podendo explorar comercialmente os recursos naturais (madeira e minerais) e o espaço para o turismo em massa, dentro das UC's.
Conversa fiada. "Turismo em massa" não é o objeto e é apenas um chavão mentiroso para tentar espantar trouxas. A concessão de serviços é uma das melhores coisas que pode acontecer às UCs no Brasil, e apenas os relaxados corporativistas e os esquerdóides sem compromisso efetivo com a conservação podem ser contra por princípio…
Sou apartidado, tenho educação e gosto de debates, pricipalmente com pessoas com visão um pouco mais ampla, acredito que não seja seu caso Sr.Truda.
"Conseção" foi bonito de ler!
Falando com relação ao Parque Estadual da Ilha do Cardoso,hoje encontra-se caçadores,palmiteiros e outros, justamente porque a maioria dos tradicionais saíram por livre espontânea pressão.E a partir do momento que um quintal fica meio que abandonado,acontece a invasão.
Geralmente aqui na Ilha quem entra clandestinamente,são pessoas de fora e não de dentro da ilha.
E quando se fala que alguns tradicionais usufrui é no sentido que infelizmente essa porcaria do governo vai cortando tudo e não deixa outra opção do tradicional ter que sair pra estudar. Mas sua vida,seu trabalho,sua cultura e sua história está naquele lugar.
Sou a favor da preservação mas a culpa de alguns desastres q acontece no meio ambiente,podem ter certeza que não é totalmente dos tradicionais,sendo ele…indígena,caiçara,quilombola…etc.
Noeli Neves,Moradora tradicional da Ilha do Cardoso.
Bah, que tristeza sair pra estudar, hem… o bom mesmo é seguir vivendo do extrativismo insustentável… 🙂
Sua mensagem, me desculpe, parece a conversa dos pescadores "artesanais" que devastam a fauna marinha e depois botam a culpa sempre nos que "vem de fora". A culpa da degradação ambiental é sempre dos outros, nunca da gente. Concordo que há diferentes atores na degradação, mas existe uma armação ideológica para proteger os ditos "tradicionais" contra qualquer questionamento, e isso é o que tem de acabar.
Seu José Trudes,quando falo q o governo não da condição de estudo prq não tem escola até o ensino médio e nem universidade,e saindo p estudar muitos acabam perdendo a tradicionalidade.E com certeza o estudo tem q estar em em primeiro lugar.Outra coisa nós somos de uma comunidade pesqueira artesanal e não silvícola.Quem aparece dentro da ilha do Cardoso para o extrativismo ilegal,são pessoas de fora, e moradores da Ilha não vivem disso.Realmente o senhor não conhece nada.A própria Christiane, autora do trabalho,conhece nossa comunidade e sabe muito bem como funciona.Acompanho muitos pesquisadores dentro da ilha e todos sabem que encontramos pessoas de fora fazendo os extrativismo.Agora o senhor vem me dizer que nós moradores tradicionais devastamos tudo e botamos a culpa nas pessoas de fora??Precisa dar uma passada para ver como realmente funciona senhor José Trudes.
Conheço a Ilha do Cardoso e "como realmente funciona" razoavelmente bem, cara senhora… a culpa é sempre dos "que vem de fora", como se vocês tivessem brotado aí por geração espontânea.
Conheci a Chris pessoalmente na ilha.E sei muito bem do que estou falando,moro na Ilha a 35,anos e sou sim moradora tradicional com muito orgulho e ajudamos a preservar e acima de tudo respeitar amigos pesquisadores que vem concretizar seus trabalhos por aqui.
Mas é uma pena q exista pessoas com essa cabecinha e generalizando tudo.
Muito bom seu texto Christine, que reflete suas qualidades como pesquisadora e sua paixão pela conservação. É importante mostrar como as UC são mal protegidas, seja pela falta de verbas e mesmo pelo mal uso, e má vontade diante das poucas verbas existentes. Em todas as áreas da Mata Atlântica há pressões de caça, e onde existir palmito, extração desse, seja em comunidades tradicionais, seja em áreas altamente convertidas em agricultura e pecuária. Nessas últimas áreas, não há justificativa alguma para a caça (e extração de palmito), já que são áreas exportadores de proteína animal, e tem mercados de trabalho estáveis. Nessas áreas muita caça é praticada ou encomendada por pessoas da "sociedade", que se aproveitam de influências e poder econômico.
E outra coisa . Isso não tem nada a ver com cultura de quilombolas , fazendeiros , madeireiros , caçadores etc .
E criminalidade pura mesma.
Se isso acontece no estado de SP que , teoricamente , deveria ter uma população mais esclarecida , imagina o que não acontece no cerrado e na floresta amazônica.
Parabéns pela coragem de fazer este relato, Christine. Você fala sobre situações pelas quais todo mundo que já trabalhou em unidades de conservação brasileiras já passou. Infelizmente, raramente alguém comenta sobre elas, especialmente fora do meio acadêmico. Os sentimentos variam entre o cuidado para não parecer politicamente incorreto ou o medo de desagradar gestores ou moradores dessas áreas, com os quais temos que lidar no dia a dia em campo. É importante não varrermos esses problemas para debaixo do tapete, mas os trazermos à luz.
Parabéns, Chris! Se hoje falta "coragem desnecessária", sobra a necessária maturidade para um relato sábio e sincero como este.
É isso aí Truda! Muitas se dizem tradicionais para só poderem "usufruir" livremente do que ninguém deveria!
Essas tais "comunidades tradicionais", muitas delas fajutíssimas, tem de parar de ser endeusadas pelos teóricos e ser reconhecidas pelo gigantesco impacto cumulativo que têm sobre a fauna. A tolerância pornográfica com os crimes ambientais dos ditos "tradicionais" está gerando não apenas florestas vazias de fauna, mas também recifes vazios em nosso mar. É hora de dizer CHEGA a essa demagogia e se criar um diálogo mais honesto com as comunidades extrativistas pra acabar com esse genocídio de biodiversidade e gerar alternativas econômicas adequadas.
Caro Senhor José Truda, pelo que vi em seu pequeno texto, realmente o Sr não conhece muito das de unidades de conservação com comunidades tradicionais inseridas. O senhor Mauro Galetti referido no texto, essa semana mesmo recorreu e recorre a moradores tradicionais, do Parque Estadual Ilha do Cardoso para ajudar a resolver problemas relacionados à palmiteiros, hoje infelizmente as unidades de conservação estão totalmente desamparadas no quesito fiscalização, fiscalização essa que deveria ser feita pelo Estado que hoje é uma instituição sucateada, portanto não generalize sou morador de uma comunidade tradicional inclusive trabalhando com pesquisadores na área tente se informar melhor. Porque dentro da UC da Ilha do Cardoso os tradicionais conservam e muito bem área.
Excelente, Eduardo, porque no meu entender não fazem mais do que a obrigação, e ganham com isso!
Pois é… a obrigação é de todos estado, visitantes e moradores tradionais, caso algum dia tenha oportunidade e interesse nossa comunidade está a disposição em recebe-lo para uma prosa, verá que as coisas não acontecem como um desenho ou escopo de publicação mal fundamentada, uma comparação bem simples. " entro no quintal do Senhor com sua autorização e permaneço por 5 dias, um ano depois Escrevo um artigo tirando minhas conclusões sendo que são (minhas conclusões) e não o que realmente acontece dentro do seu quintal depois publico em revistas e pequenas chamadas digitais a consequência será essa, comentários agressivos e conclusões tiradas pelos leitores."
Ótima percepção Eduardo…a educação é a chave de tudo