Em recente estudo realizado em áreas de restinga no sul do Brasil, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina mostraram que a árvore invasora Terminalia catappa (amendoeira) pode alterar as condições do ambiente de tal forma que algumas plantas nativas deixam de ocorrer onde a árvore invasora está presente, o que também altera associações entre plantas nativas. À medida que o tempo passa e que mais árvores de amendoeira vão crescendo e ficando com copas mais amplas, a tendência é que a vegetação nativa da restinga, dominada por plantas de baixo porte e que precisam de luz, seja substituída por árvores e trepadeiras que toleram sombra.
Essa completa mudança na alteração da vegetação pode comprometer a resiliência desses ecossistemas e o fundamental papel que os mesmos têm frente a eventos climáticos extremos. A vegetação rasteira existente nas dunas que ficam próximas à praia são uma barreira de proteção muito importante, protegendo de danos casas e outras estruturas existentes em regiões costeiras. Se essas plantas rasteiras são substituídas por árvores invasoras e outras plantas de maior porte, podemos estar perdendo justamente a vegetação que garante proteção contra erosão no caso de ressacas e marés altas atípicas, eventos que têm sido cada vez mais frequentes.
Com muitos nomes populares no Brasil, que variam entre amendoeira, castanheira, chapéu-de-sol, sete-copas, dentre outros, Terminalia cattapa é uma árvore nativa de regiões costeiras na Malásia. Registros históricos contam que a espécie foi primeiro introduzida acidentalmente no Brasil, mas posteriormente novas introduções intencionais ocorreram para uso da árvore para sombra e para uso ornamental. Atualmente a espécie invade áreas de restinga, manguezal e outros ecossistemas costeiros ao longo de toda a costa brasileira.
No estudo realizado, foram comparadas áreas sob a copa de indivíduos adultos de amendoeira com áreas onde a amendoeira não está presente. Tanto as plantas nativas quanto condições ambientais locais foram avaliadas em cada uma das áreas. O estudo foi realizado em uma área de restinga localizada na Estação Ecológica de Carijós, unidade de conservação localizada na porção noroeste da Ilha de Santa Catarina (Florianópolis, SC).
O artigo, intitulado “Efeitos diretos e indiretos de uma árvore exótica invasora em comunidades vegetais costeiras”, foi liderado por Brisa Marciniak de Souza, Leonardo Leite Ferraz de Campos e Lucas Peixoto Machado, alunos do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O trabalho foi desenvolvido em uma parceria entre o Laboratório de Ecologia de Invasões Biológicas, Manejo e Conservação (LEIMAC) e o Group for Interdisciplinary Environmental Studies, ambos da UFSC.
A situação é bastante preocupante, considerando um estudo preliminar realizado pelo LEIMAC que mostrou que a amendoeira vai ser beneficiada com o aumento de temperatura, o que levará à intensificação dos efeitos da invasão biológica a longo prazo. Neste sentido, ações de eliminação de indivíduos da espécie são necessárias, especialmente em áreas destinadas à conservação. Destaca-se ainda a necessidade de informação pública sobre a problemática e a recomendação de substituição dessas árvores por plantas nativas da região.
Referência completa para o artigo:
Marciniak, B.; Machado, L.P.; de Campos, L.L.F.; Hirota, M. & Dechoum, M.S. 2022. Direct and indirect effects of an invasive non-native tree on coastal plant communities. Plant Ecology. https://doi.org/10.1007/s11258-022-01246-5
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https://www.researchgate.net/publication/331024205_Population_Structure_and_Effects_by_the_Invasive_Exotic_Indian-Almond_over_Autochthonous_Vegetation_from_a_Sandbank?fbclid=IwAR0atUKyfvhvumvQsbvfcC__HltUE2hkQP-18ksl8P55vgrk9ubgkJ5G_IM