A COP 26, realizada em Glasgow e que terminou no dia 13 de novembro, vinha carregada de uma grande expectativa, sendo cotada como a mais importante desde a COP 15, em Paris. Todo esse clima foi intensificado pela recente mobilização global para o combate à pandemia causada pela Covid-19 e por um aparente aumento de relevância das discussões a respeito do meio ambiente. Mas o que se viu, na prática, foram compromissos muito aquém do que a urgência do assunto nos demanda. Só agora, por exemplo, o uso de combustíveis fósseis aparece oficialmente como um inimigo a ser combatido (ou melhor, substituído) pelos países.
Se os compromissos e as metas acordadas durante a conferência não foram tão ambiciosos quanto deveriam, a discussão fica ainda mais complexa quando pensamos no “como” fazer para cumprir com essa agenda e tentar escapar minimamente das projeções catastróficas divulgadas periodicamente pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).
Justamente por conta deste enorme desafio é que modelos replicáveis e casos de sucesso também têm um espaço especial nesses eventos. Simultaneamente à conferência que envolve os principais líderes do planeta, ocorrem também uma série de eventos paralelos, propostos pela sociedade civil e que ajudam a trazer reflexões importantes para os países e alternativas para um melhor enfrentamento às mudanças climáticas e seus diversos efeitos colaterais.
Foi em uma dessas oportunidades, intitulada “Ação multinível para a biodiversidade e o clima: desafio planetário e lições da América Latina”, que foi apresentada uma promissora e inusitada iniciativa brasileira: a Grande Reserva Mata Atlântica. Localizada em uma das áreas mais urbanizadas do país, entre os estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, esta região desafiou toda a história de ocupação (e devastação) deste bioma e, com seus 2,2 milhões de hectares de ambientes naturais, figura hoje como o maior remanescente contínuo deste bioma em todo o mundo.
A iniciativa tem muito o que compartilhar, não só com o Brasil, mas com o mundo todo. Este local é a casa de comunidades tradicionais e indígenas, carrega boa parte da história do nosso país e abriga toda a exuberância praticamente intacta da “megadiversa” Mata Atlântica. Foi aqui que um trabalho envolvendo os mais diversos setores da sociedade, academia, prefeituras, comunidades, instituições, empresários, dentre outros, está permitindo uma soma de esforços para lutar por um modelo de desenvolvimento adequado para a região, pautado no conceito de Produção de Natureza.
O pensamento de que a única forma de se gerar empregos e renda é pela destruição do patrimônio natural, poluição dos rios e do ar e marginalização da sociedade local é profundamente atrasado, além de geralmente concentrar lucros nas mãos apenas de alguns poucos. No mundo atual, com seus enormes desafios, são necessários modelos mais modernos, baseados em uma economia restaurativa, que proteja e não destrua e assim possa perdurar por muito mais tempo.
Se engana quem acha que um desenvolvimento com base em conceitos de sustentabilidade significa abrir mão dos lucros. Muito pelo contrário; significa garantir que resultados econômicos positivos perdurarão no decorrer do tempo. Nessa região, as mais de 110 Unidades de Conservação do território são um motor de desenvolvimento, que garantem recursos essenciais para as pessoas que aqui vivem e que estão ficando cada vez mais escassos em outras regiões. A qualidade de vida nunca foi tão importante. E os moradores da Grande Reserva Mata Atlântica tem isso, e muito!
A oportunidade de poder participar de um evento internacional tão importante e ver essa região reconhecida por suas riquezas únicas é um passo importantíssimo em diversas frentes, seja no nosso próprio reconhecimento do valor que este local preserva, seja para mostrar aos diferente públicos que é sim, possível alcançar as metas acordadas, desde que toda a sociedade esteja envolvida nesse processo.
Como país número um em recursos naturais, já passou do tempo de o Brasil ocupar seu lugar de potência mundial, olhando de forma estratégica para a nova economia que está se consolidando a passos largos.
Assista ao vídeo apresentado durante a COP 26 que explica a iniciativa da Grande Reserva Mata Atlântica:
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