Sou uma das pessoas sortudas no mundo que podem encher a boca para dizer que trabalha com o que ama. Costumo dizer que minhas histórias pessoal e profissional se misturam. A oportunidade de estágio surgiu em ((o))eco para uma aluna ainda verde (sem trocadilhos ambientais) de segundo período da faculdade de jornalismo. Mais do que uma experiência para o currículo, foi um mergulho em um universo que já fazia sentido para mim: o da conservação da natureza.
Entrei em ((o))eco em janeiro de 2012, mesmo ano da Rio+20, veja que sorte. Com menos de um ano de experiência profissional no jornalismo, já estava entre repórteres gabaritados da área ambiental do mundo inteiro embrenhada numa das maiores conferências sobre o tema. Assisti líderes globais discursarem sobre acordos climáticos e políticas públicas de redução de impactos, enquanto tentava me camuflar entre os colegas jornalistas, tanto para aprender com eles quanto para fingir que possuía igual gabarito para estar ali.
Ao final de um ano de estagiária, outra sorte grande: o surgimento de uma ainda embrionária Trilha Transcarioca (RJ). A cobertura dos primeiros movimentos de implementação da trilha de longo curso carioca se transformou num ponto de virada na minha vida, em que convergiram duas personas, a repórter e a trilheira. Eu entendi que podia fazer jornalismo onde eu mais amava estar: no mato. Ser jornalista ambiental em um escritório não fazia tanto sentido quanto caminhar horas e dias na montanha em busca de uma nova história.
“Ir a campo é um aprendizado. É viver a história que se pretende contar e se permitir ser atravessada por ela”
Eu me reconheci como repórter quando me vi com uma mochila nas costas, uma bolsa de câmera atravessada no corpo, o gravador em um bolso e uma caneta com um bloco de notas amarrotado enfiado no outro; e foi dessa mesma forma que eu me apaixonei pela profissão.
Uma faculdade inteira se passou e veio o diploma junto com a consolidação da minha casa enquanto jornalista: ((o))eco. Não apenas o site original, mas também o mais jovem braço da ONG, o WikiParques, lançado em 2014 e dedicado a discutir as áreas protegidas brasileiras.
Transformei as unidades de conservação no meu escritório favorito. E não me esquivei de nenhum convite de me aventurar em alguma delas, mesmo quando isso envolvia viagens em caçambas de caminhonetes por estradas poeirentas; caminhadas de 5 dias pela floresta; confiar minha câmera numa bolsa estanque dentro de uma caixa de isopor no mar aberto enquanto eu nadava ao seu lado até o costão rochoso de uma ilha; acompanhar o trabalho de manejo de fogo de brigadistas e entrar no mato alto enquanto chamas cresciam do meu lado e meu rosto ardia pela proximidade com o fogo.
Tive experiências incríveis e outras insólitas, como colecionar carrapatos pelo corpo e rastejar por debaixo de uma árvore com espinhos. Também somei banhos de cachoeira e poentes do sol, cumes de montanha e quilômetros de trilha, horizontes de imensidão e encontros surpreendentes com a flora e a fauna.
Ao longo dessa história, as identidades repórter e montanhista se encontraram incontáveis vezes. Muitas delas narradas durante a cobertura das caminhadas comemorativas do ICMBio, que virou o livro “Travessias – Uma aventura pelos parques nacionais do Brasil”, lançado em agosto de 2018. Fiz trilhas de 1 a 5 dias cada uma, na floresta e na areia, no cume de montanhas e na beira do mar; e percorri 11 unidades de conservação ao redor do Brasil em uma jornada de muito trabalho e ensinamentos.
Ir a campo é um aprendizado. É viver a história que se pretende contar e se permitir ser atravessada por ela. Faço disso o tempero na busca de um estilo “jornalismo literário ambiental”, palavrão que inventei para traduzir minha tentativa de aproximar dos leitores as temáticas de meio ambiente através do meu olhar pessoal, somente possível graças às idas a campo e minhas conversas com as pessoas na linha de frente da conservação, como chefes de parque, membros de brigadas de incêndio e biólogos.
Dos 15 anos de vida que completa ((o))eco, participei de apenas 8, mas que representam um terço da minha própria vida. Empenhei-me pela nossa missão: ser voz dos que não têm voz, dos bichos, das plantas e, acrescento, das áreas protegidas enquanto instituições com o objetivo perene de conservação. Ter como casa um veículo referência na área ambiental e científica como ((o))eco é um privilégio e, nos tempos difíceis em que vivemos de desinformação e desarticulação de políticas ambientais, uma grande responsabilidade.
Desejo vida longa ao ((o))eco por ser um veículo de produção de notícias com responsabilidade e por ser uma escola de jornalismo aos jovens focas, como eu. Que a nobre missão de informar as pessoas e suscitar debates para decidirmos o planeta que queremos não perca espaço diante da intolerância e da passionalidade cega dos discursos.
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Para dar ao leitor JOSUÉ o prazer do contraditório, minha opinião é exatamente contrária, vibrei com o artigo da Duda, me deu vontade de nascer de novo e botar uma mochila nas costas e percorrer este Brazilzão lindo e desconhecido pelos que como eu vivem na cidade.
Creio que leio com muito interesse o ECO desde sua criação, sempre aprendendo e valorizando a natureza. A Natureza é o valor, não há contraditório pois é um bem maior, ser contra ela é suicídio pois dela dependemos para nossa vida, nossa água, nosso sol, nossa alimentação.
Parabéns ao ECO por se manter por 15 anos, espero ler vocês por muitos mais!!!!!
Todos os artigos de aniversário recheados da mesma posição política. O Eco sempre promovendo o debate da opinião única. Parabéns!