Sem fé e sem documento

O The Wall Street Journal tem excelente reportagem mostrando uma das conseqüências talvez mais graves, e de mais longo prazo, do tsunami de 26 de dezembro na Ásia: na maioria dos países da região, a água sumiu com milhões de documentos, de certidões de nascimento a contratos. Há gente no Sri Lanka que não sabe como fazer para voltar a existir, pelo menos oficialmente. Nas repartições públicas, funcionários tentam organizar, e acima de tudo secar a papelada que sobrou. Nas mesquitas da Indonésia, principalmente em Sumatra, a religião, nota reportagem no The Washington Post (gratuito, pede cadastro), começou a tomar parte ativa na tragédia. Os clérigos iniciaram pregação dizendo que a tragédia é resultado da falta de Deus entre os homens e um sinal dos céus para que eles observem de maneira ainda mais estrita os ensinamentos religiosos.

Por Carolina Elia
5 de janeiro de 2005

Barra Grande na BBC

O impasse sobre a construção da hidrelétrica de Barra Grande, na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, foi parar na imprensa internacional. A BBC News publicou uma matéria que enfatiza a briga judicial travada entre ambientalistas e a empresa responsável pela obra, a BAESA, sobre o direito de desmatar mais de 40 km2 de Mata Atlântica intacta. No relatório de impacto ambiental da Barragem, a vegetação da região foi descrita como de arvoredos esparsos e capoeiras. Um erro que soou como fraude e levou o caso para a justiça. No dia 22 de dezembro, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que impedia a derrubada, assinou um acordo com a BAESA e abriu o caminho para as motosserras em troca de indenização.

Por Redação ((o))eco
5 de janeiro de 2005

Raridade

Todos os jornais registraram, com imagens inclusive, os dois tornados que ontem danificaram 80 casas e deixaram 40 mil pessoas sem luz elétrica em Criciúma, Santa Catarina. Três pessoas ficaram feridas. O fenômeno é raríssimo no Brasil. A reportagem está em O Estado de S. Paulo (só para assinantes) e o assunto  é destaque em O Globo, que traz também notícia sobre a seca no Rio Grande do Sul.

Por Carolina Elia
4 de janeiro de 2005

Caçadores de Tsunamis

Cientistas americanos chegam esta semana na região atingida pelas tsunamis para estudar o fenômeno. Os americanos morrem de medo de ver as cidades costeiras dos Estados Unidos serem engolidas por enormes ondas e querem aprender tudo sobre as que varreram o sul da Ásia. Os especialistas vão analisar paredes e troncos de árvores para descobrir a altura das ondas quando elas quebraram nas praias. Segundo o The New York Times (gratuito), eles também vão entrevistar sobreviventes e caçar evidências geológicas de tsunamis anteriores na região.

Por Carolina Elia
4 de janeiro de 2005

Chacoalhando a história

Desastres naturais como as tsunamis não apenas modificam a geografia de um país, mas muitas vezes a história.. Em um artigo no The Guardian, Simon Winchester, autor do livro Krakatoa – o dia em que o mundo explodiu (Objetiva, 429 páginas), lembra como a erupção do vulcão no século XIX desencadeou uma verdadeira revolução na Indonésia. Já o The New York Times (gratuito) lembra de outros fenômenos e ressalta a fragilidade dos países atingidos em dezembro.

Por Carolina Elia
4 de janeiro de 2005

As florestas do Rio agradecem

Segundo o Instituto Estadual de Florestas do Rio de Janeiro (IEF), o estado conseguiu reduzir em 42,22% a perda de florestas por queimadas em parques e florestas administrados pela fundação no último ano. Ao todo são 12 Unidades de Conservação, incluindo o Parque Estadual da Ilha Grande e o Parque Estadual dos 3 Picos, a maior unidade de proteção integral do Rio. Um dos fatores que contribuiu para a preservação da mata foi o aumento em 600% do número de notificações preventivas, que alertam proprietários de terras vizinhas a Unidades de Conservação sobre os riscos das queimadas e de se incendiar lixo. Também aumentou de 2003 para 2004 a emissão de notificações que precedem as multas em caso de danos ambientais. O município que recebeu mais cartões vermelhos foi o Rio de Janeiro com 39 notificações, seguido de Paraty com 17. Em terceiro lugar ficaram empatados Petrópolis e Angra dos Reis, com 16 ocorrências em cada um.

Por Carolina Elia
3 de janeiro de 2005

Sem licença

A Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (FATMA) cancelou a licença ambiental prévia e a licença ambiental de instalação da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Bruaca, em Corupá. As licenças haviam sido emitidas por técnicos da própria Fundação. A FATMA afirma que analisou o processo de licenciamento e detectou falta de embasamento, de informações técnicas relevantes - por se tratar de uma Unidade de Conservação - e que a legislação aplicável à compensação ambiental não foi levada em consideração. As licenças também não foram publicadas no Diário Oficial, como é exigido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). A nota informando sobre o cancelamento das licenças foi assinada pelo Diretor de Controle e Poluição da FATMA, Luiz Antônio Garcia Corrêa, que tomou conhecimento dos protestos contra a hidrelétrica pela internet e pelos jornais. Ele explicou a O Eco que há mais de uma pessoa dentro da Fundação autorizada a assinar licenças desse tipo e que o processo não tinha que passar obrigatoriamente por suas mãos. A revisão das licenças vai ser feita por uma equipe da própria FATMA e deverá se estender por todo o mês de janeiro.

Por Carolina Elia
3 de janeiro de 2005

Os conflitos continuam

A reserva extrativista Verde Para Sempre, no Pará, foi criada em novembro pelo presidente Lula, mas os madeireiros continuam a invadir a área atrás de madeira de lei. A denúncia foi feita pela Comissão Pastoral da Terra e pelo Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz, que vêm tentando combater a ação de grileiros, fazendeiros e madeireiros na região. Na madrugada do dia 30 de dezembro, foi destruída a antena parabólica que viabilizava o acesso à internet no Comitê. A internet era o principal instrumento de denúncia utilizado pelos defensores da reserva Verde Para Sempre, já que as linhas telefônicas costumam ser boicotadas quando há conflitos. O clima de tensão deve aumentar nos próximos dias. Nos dias 15 e 16 de janeiro haverá uma reunião dos governos federal e estadual com a comunidade local para acertar a implantação da reserva extrativista. Os fazendeiros prometem protestos.

Por Carolina Elia
3 de janeiro de 2005

Sexto sentido

Ao que tudo indica, os animais foram capazes de pressentir a chegada das tsunamis. Uma matéria da BBC News (gratuito) conta que no Parque Nacional de Yala, no Sri Lanka, dezenas de turistas morreram afogados, mas não há registro de animais mortos. Uma pesquisadora que trabalha no local não se surpreendeu. Ela afirma que os animais selvagens são extremamente sensíveis e provavelmente ouviram o barulho das ondas à distância. Eles também teriam percebido leves tremores e mudanças na pressão do ar. Na Tailândia, oito elefantes desobedeceram aos seus donos e correram em direção a uma colina minutos antes da chegada das ondas. Eles ainda salvaram 12 turistas, que agarraram com a tromba e colocaram no dorso. O Chicago Tribune (gratuito) conta que tanto na Indonésia quanto na Tailândia os elefantes estão sendo utilizados para remover destroços e corpos em lugares onde os tratores não conseguem chegar.

Por Carolina Elia
3 de janeiro de 2005

A Terra tremeu

Esqueça a contagem de mortos provocada pelos tsunamis de domingo no sul da Ásia. É impossível acompanhar os números. Escolha um e fique com ele. O Globo (gratuito, pede cadastro) diz que 60 mil pessoas, até agora, perderam a vida, e confirma a morte da diplomata brasileira e seu filho de 10 anos, que estavam desaparecidos na Tailândia. O Estado de S. Paulo (só para assinantes) ecoa alerta da ONU sobre epidemias na região, que podem dobrar o número de mortos. O The New York Times dá 59 mil mortos e nem arrisca um número de desaparecidos. Reportagens no jornal arranham o mito criado em torno da falta de um cinturão de monitoramento sísmico no Oceano Índico. Não é ruim ter um, mas também não dá garantia de segurança. Terremotos não podem ainda ser previstos com precisão cirúrgica. Os sismologistas só conseguem prevê-los em grandes ciclos. A informação ajuda o empreiteiro que, por exemplo, resolve fazer uma represa, mas não tem qualquer valor para o cidadão comum. O que lhe interessa é a hora e o dia em que um terremoto vai acontecer. Isso ainda é impossível. Os tsunamis também não são fáceis de antecipar. Em águas profundas não chegam a ter mais que centímetros de altura. Passam de marola a vagalhão quando estão próximos da costa. Os sentidos só percebem o problema quando já é tarde demais. A ciência percebe, só que sem muita precisão. A magnitude de um terremoto tem nada a ver com um tsunami e nem todos os que ocorrem debaixo d’água necessariamente provocam um. A dimensão do que ia acontecer no sul da Ásia, o Centro de Alerta anit-Tsunami do Pacífico, no Havaí, percebeu um tempo apenas antes das pessoas que estavam nas praias da região. Mesmo que o alerta fosse possível, lá pelo menos não ia dar certo. Ninguém tinha um plano de evacuação. O Guardian sai com 55 mil mortos e tem uma extensa reportagem sobre Sumatra, onde as ondas causaram os maiores estragos. Foi quase uma repetição do que aconteceu em 1883, quando a explosão de um vulcão varreu da face da Terra a ilha de Krakatoa, na costa da ilha de Java. Causando um terremoto e na sequência tsunamis cujos efeitos foram sentidos na costa da Europa. A manchete do Indian Express vai pelas consequências globais do fenômeno. Ele fez o planeta tremilicar na sua órbita e alterou a geografia do sul da Ásia. Só não fica claro como. Um geólogo acha que Sumatra está mais alta em relação ao nível do mar. Outro que na verdade a ilha deslocou-se em direção ao Sudoeste.

Por Manoel Francisco Brito
29 de dezembro de 2004