Colunas

O futuro sempre pode ser diferente

Fast Company, uma revista sobre negócios, traz a lista das 50 empresas que melhor apostam no futuro. A maioria bajula o meio ambiente. Nenhuma cita o álcool brasileiro.

14 de março de 2007 · 18 anos atrás
  • Marcos Sá Corrêa

    Jornalista e fotógrafo. Formou-se em História e escreve na revista Piauí e no jornal O Estado de S. Paulo. Foi editor de Veja...

Logo agora que o Brasil do presidente Lula está pronto para transformar o mundo com sua revolução verde movida a álcool – e patati-patatá, – aparece uma empresa americana, chamada GreenFuel, dizendo que tem um modo ainda mais prático e barato de fazer etanol.

A marca nasceu há seis anos. Está, portanto, aprendendo a engatinhar nesta nova era da cana, cujos engenhos já balançavam a economia internacional há cinco séculos, com o bafo dos canaviais ondulados pelas brisas dos trópicos, que tiraram o açúcar dos potes de farmácia para levá-lo à mesa. Mas parece que ela vem com tudo para cima do mercado.

Algas no ar

A GreenFuel é filha de um engenheiro do MIT que, na virada da década, procurava um modo de cultivar algas no ar, simplesmente porque elas digerem dióxido de carbono e expelem oxigênio. Ou seja, despoluem. Foram as algas, por sinal, que há uns 3,5 bilhões de anos geraram o que hoje chamamos de atmosfera terrestre. E, de quebra, o céu azul.

Com elas, fabrica-se um reator capaz de reduzir à metade as emissões de uma termelétrica convencional, a carvão. Mas o melhor é que as algas, ao consumir o dióxido de carbono, deixam de saldo uma sopa de matéria orgânica, no ponto para destilar etanol ou biodiesel. Das sobras de uma usina de mil megawatts, retiram-se por ano quase 400 milhões de litros de combustível, “fazendo o que a Mãe Natureza faz, só que bem mais rápido”, promete Cary Bullock, presidente da GreenFuel.

Ela consta de uma lista de 50 empresas e produtos que têm tudo para chegar mais cedo ao futuro, segundo a Fast Company, uma publicação americana dirigido ao tipo de empresário voraz que trabalha sem parar e descansa, nos fins-de-semana, disputando maratona. Neste momento, a revista sugere, como programa de lazer, “viagens filantrópicas”, inclusive um safari de luxo que, por diárias de mil e quinhentos dólares, organiza viagens ao Quênia com direito, nos horários de folga, a ensinar o bê-a-bá a crianças de aldeias africanas.

Vamos com calma. O jornalistas nem sempre acertam quando falam do passado recente. Mas sua especialidade é errar em notícias sobre o futuro. O computador pessoal, por exemplo, custou a chegar aos jornais. E, quando veio, foi recebido por uma reportagem do New York Times, explicando por que aquilo não iria pegar. Mas a seleção da Fast Company é, no mínimo, uma boa amostra do que o presente anda pensando desde já sobre o futuro. E isso quer dizer alguma coisa sobre o que vem pela frente.

A capa, para começo de conversa, é um close do governador Arnold Schwarzenegger, de olhar metálico e boca fechada, parecendo, mais do que nunca, o Exterminador do CO­2. Schwazenegger entrou ali por baixar a lei estadual das Soluções para o Aquecimento Global, que mandar derrubar a um quarto dos níveis de 1990 o fumacê dos automóveis na Califórnia.

Entre os apóstolos dos futuros negócios escolhidos pela revista, não poderiam faltar telefones celulares que pagam contas à distância, bancos populares que só existem na internet e até mosquitos geneticamente esterilizados pela inglesa Oxitec, para enganar as fêmeas com seu apetite sexual estritamente recreativo. Mas, nessas 50 chocadeiras de novidades tecnológicas para o consumo, o cacife das apostas no meio ambiente é para lá de majoritário.

A era da reciclagem

Nesse quesito, o freguês agora pode escolher como quer salvar o planeta. Vem aí um novo modelo de tênis Nike, o Soaker, preparado para a reciclagem e com 95% de toxinas a menos na borracha. Há uma cadeira giratória, a Think, sem PVC, CFC, VOC e outras siglas poluentes, cujo projeto se baseia em algorítimos para traduzir as idiossincrasias do cliente num móvel feito sob medida para sua consciência ecológica. A Shaw oferece um carpete de luxo inteiramente tecido com restos de carpetes velhos, o que se pode reproduzir ao infinito. A Invisible Heating usa uma rede de serpentinas debaixo de estradas num sistema de calefação cuja fonte é o sol no asfalto quente. A Döll/Envin emplacou uma grife internacional de “boates sustentáveis”, seja lá isso o que for.

E tem mais. A Ikea sueca anuncia a Boklok, uma casa toda pré-fabricada com madeiras de florestas libertadas do desmatamento. A Gerding Edlen Development especializou-se em “edifícios sustentáveis”, que funcionam com o mín imo de impacto ambiental. Ou melhor, produzem mais energia do que consomem e consomem mais resíduos do que produzem. A Native Energy implanta placas solares e digestores de metano em reservas indígenas. A Italcementi italiana pegou sua vaga no panteão do futuro com o TXActive, um concreto que, absorvendo ácidos nitríticos e outros gases poluentes, limpa os céus das cidades. E a General Electric apresenta a Zenon, membrana sintética que filtra água a ponto de tornar potável o esgoto de uma megalópole.

Chamaram a atenção da revista também iniciativas modestas, como a do grupo de Bangladesh que faz adubo com lixo e a de um fazendeiro que representa a última palavra americana em criação de galinhas caipiras. Estranhamente, o álcool brasileiro perdeu o bonde desta edição de Fast Company. Senão, pelo que se ouve ultimamente por aqui, na capa estaria Lula, em vez de Schwarzenegger.

Leia também

Notícias
20 de dezembro de 2024

Ciência descreve nova espécie de bromélia que cresce apenas em ilha paulista

A bromélia foi encontrada no Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo, e pode ser impactada pelas mudanças climáticas

Notícias
19 de dezembro de 2024

Desmatamento na Amazônia sobe 41% em novembro, mostra Imazon

Este é o sexto mês consecutivo de alta na destruição do bioma, segundo SAD/Imazon. Degradação florestal tem alta de 84% em relação a novembro de 2023

Notícias
19 de dezembro de 2024

A um mês da posse de Trump, EUA lançam sua meta de corte de emissões

Proposta de Biden é reduzir entre 61% e 66% das emissões até 2035. Governadores dos principais estados dos EUA falam que meta será “estrela guia”

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.