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Lugar de guarda florestal é no mato

O novo batalhão da PM na favela da Rocinha vai contar também com policiais florestais. Finalmente a Floresta da Tijuca pode ganhar fiscalização adequada.

16 de agosto de 2005 · 20 anos atrás

A Polícia Militar do Rio de Janeiro acaba de tomar a decisão administrativa de construir um batalhão na Rocinha, a maior favela da capital fluminense. É decisão para ser aplaudida. Enquanto tivermos uma polícia que ocupa favelas, não resolveremos o problema da violência crônica em nossos assentamentos humanos. Polícia não tem que ocupar quando o “bicho pega” para logo em seguida sair de novo, deixando o ciclo vicioso da lei da selva retomar seu
andamento rotineiro.

Assim como saúde, lazer, educação e saneamento, segurança pública é um serviço básico a que todos os cidadãos têm direito. Só com presença permanente da polícia nas favelas- assim como nas áreas de classe média esse serviço poderá ser provido em condições minimamente aceitáveis. Um batalhão na Rocinha é um benefício inegável para seus moradores. Dará ao bairro mais segurança e dignidade.

Mas a população ordeira, oprimida pelo cartel de plantão do tráfico de drogas, não será a única beneficiada da decisão da PM carioca. Também a Mata Atlântica ganha em muito. Nos últimos anos, a Rocinha tem crescido às expensas das encostas dos Morros do Laboriaux e Cochrane em plenas fraldas do Parque Nacional da Floresta da Tijuca.

A cada mês que passa, sobem novos barracos, derrubam-se velhas árvores. No processo, bairros inteiros, com nomes tão sugestivos como Vila Verde, são criados dentro da Rocinha. A fiscalização do Ibama, que por falta de pessoal, treinamento ou por pura desídia não conseguiu em tempos passados coibir o problema, hoje, mesmo que quisesse, não poderia fazê-lo. Os revólveres dos guardas florestais do Parque Nacional da Tijuca não são páreo para o arsenal bélico dos comandos e confrarias que, na ausência do Estado, governam a Rocinha.

Em 1999 e 2000, ainda foi feita alguma coisa no sentido de pelo menos impedir
as atividades de passarinheiros e caçadores que, saindo da parte alta da favela, iam predar a fauna do Parque Nacional. Na ocasião, protegidos por soldados da PM, os fiscais desciam os grotões e desmontavam acampamentos, apreendendo armas e equipamentos. E os havia a mancheias. Acampamentos, no Morro do Cochrane, no Morro do Laboriaux, na ponta das Andorinhas, nas proximidades da Mesa do Imperador. Feita a apreensão, os agentes da Lei, tinham duas opções: ou retornavam, por onde vieram, morro acima com o peso do material confiscado arcando-lhes o lombo, ou escapuliam em direção ao Parque da Cidade após fazer um longo desvio pela mata. Descer pelo caminho mais fácil, nem pensar! O risco de um confronto armado era por demais real e não havia dúvida de quem seria o perdedor dessa eventual batalha.

Agora, o Secretário de Segurança Marcelo Itagiba garante que o novo batalhão da PM na favela também vai abrigar um contingente de policiais florestais. Como se diz na gíria corrente: “demorou!”.

Pessoalmente, nunca entendi por que o Batalhão Florestal do Rio de Janeiro está sediado em Alcantâra, um dos bairros mais urbanizados de São Gonçalo. Sua contraparte do Corpo de Bombeiros, o Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente tem sua sede no Alto da Boa Vista. Já o Grupamento de Defesa Ambiental da Guarda Municipal do Município do Rio de Janeiro aquartela-se na estrada das Paineiras. Naturalmente que a atuação de ambos acaba sendo
muito mais focada e relevante.

Ao destacar tropas do Batalhão Florestal para a Rocinha, a PM carioca estará levando a fiscalização exatamente para onde o problema está. Por meio do programa eco-limites da Prefeitura do Rio, que fixa mourões na divisória entre a comunidade e a Floresta, é possível saber exatamente o fim da área edificável da favela. Uma fiscalização diária destes marcos, feita por grupo de soldados a pé, é o que basta para acabar de uma vez por todas com a expansão da área construída às expensas da floresta destruída. Tão simples que é espantoso jamais ter sido implementada!

Some-se isso a pequenas incursões na mata, a apreensão de passarinhos engaiolados e a rápida punição de outros delitos contra a fauna e flora e teremos Rocinha e Floresta da Tijuca convivendo em paz. Está de parabéns o Secretário. Caolho em terra de cegos, finalmente viu o óbvio. Fez sua parte., Agora, só falta a medida ser seguida de atividades de educação ambiental, saneamento básico, acesso a água e saúde. Enquanto isso não vem, torcemos para que a ação do Batalhão Ambiental na Rocinha caracterize-se pela prevenção e pelo trabalho comunitário. A Mata Atlântica aguarda ansiosa pelos seus resultados.

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