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Celacanto provoca maremoto

Iniciativa de ONGs transnacionais para a preservação de espécie rara no mar de Comores introduziu nas comunidades do país esforço para criar novos parques nacionais.

8 de janeiro de 2008 · 17 anos atrás

Artigo da edição de agosto de 2007 da revista Science assinado por um conjunto de ambientalistas renomados discute a globalização da conservação sob a perspectiva dos países do hemisfério sul. Na publicação, o grupo coordenado por Jon Paul Rodriguez, membro do Centro de Ecologia do Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas, argumenta que o crescimento acelerado das grandes ongs ambientais internacionais tais como o WWF, a Conservation International e a The Nature Conservancy, tem ocorrido em detrimento do fortalecimento de pequenas ONGs locais. Este processo estaria tendo algumas consequências negativas como o distanciamento das populações tradicionais da causa conservacionista e o atrelamento da agenda ambiental de pequenos países periféricos a prioridades estabelecidas por ONGs transnacionais com capacidade de investimento. Além disso essas mesmas ONGs estariam “fabricando” conceitos ambientais com apelo popular, cujo principal propósito seria criar “bandeiras ecológicas” capazes de levantar recursos na iniciativa privada e angariar doações entre indivíduos dos países ricos.

Em um país tão pobre como Comores, a perpectiva dos recursos provenientes de um turismo sustentando não é de se jogar fora. Nesse sentido, o papel de ONGs e organizações internacionais no estímulo ao processo de estabelecimento de áreas protegidas atreladas à geração de emprego e renda não é desprezível. Aporta conhecimento técnico e científico, abre oportunidades para financiamentos e minora a possibilidade de que se repitam erros feitos em outros lugares. Na contramão dos argumentos defendidos pelos articulistas coordenados por Jon Paul Rodriguez, sem a ajuda da UICN e do PNUMA provavelmente as águas do Parque Marinho de Mohéli continuariam desprotegidas e as perspectivas de criação de novas unidades de conservação terrestre no país estariam ainda mais longínquas. O trabalho da UICN não chegou a provocar o maremoto previsto pelas pixações rabiscadas nos muros da cidade do Rio de Janeiro na década de 1970. Foi, contudo, decisivo para criar uma consciência ambiental nas populações nativas, agregá-las ao esforço de proteção e iniciar uma pequena onda que está carregando algum otimismo quanto ao futuro da preservação ambiental em Comores.

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