Para saber o quão mal estão as unidades de conservação do Brasil é só dar uma olhada nos dados disponibilizados pelo próprio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). No seu site as informações sobre as áreas protegidas até que começam animadoras. O ano escolhido como o de referência, não me perguntem o porquê, foi o de 1989, quando o país possuía 140 UCs que somavam 30 milhões de hectares em contraste com 2008 com 299 UCs estabelecidas totalizando 77 milhões de hectares, ou seja, 8,2% do território nacional. É realmente animador constatar que o país continua a estabelecer unidades de conservação e tenha atingido o índice de 8,2 % de sua extensão territorial neste ano.
Quadro 1. Uso indireto | ||
Unidades de conservação de Proteção Integral | Número de UC’s | Área em milhões de hectares |
Parques Nacionais | 63 | 24,40 |
Reservas Biológicas | 29 | 3,87 |
Estações Ecológicas | 32 | 7,21 |
Monumento Natural | 1 | 0,01 |
TOTAL | 125 | 35,40 |
O que não convence muito é o fato de que se está estabelecendo muito mais unidades de conservação de uso direto dos recursos naturais ou, como diz a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), “unidades de conservação de uso sustentável”, como fica demonstrado comparando os quadros 1 e 2, cuja fonte é o próprio ICMbio e nos quais foram desconsideradas as categorias inexpressivas.
Quadro 2. Uso direto | ||
Unidades de Conservação de Uso Sustentável | Número de UC’s | Área em milhões de hectares |
Áreas de Proteção Ambiental | 30 | 9,94 |
Florestas Nacionais | 65 | 19,59 |
Reservas Extrativistas | 56 | 11,92 |
TOTAL | 151 | 41,45 |
Além das unidades de conservação federais o país reconheceu mais de 500.000 hectares como Reservas Particulares do Patrimônio Natural, as conhecidas RPPNs. Somando todas as unidades de conservação federais o país já tem 299, que totalizam 77 milhões de hectares aproximadamente, contra as 140 existentes em 1989, que totalizavam os 30 milhões de hectares. Assim, em quase 20 anos, mais do que dobramos os milhões de hectares de áreas protegidas decretadas. Isso é muito bom.
Não obstante, o que fica muito claro da análise dos dados é que nos últimos anos o Brasil vem preferindo, indubitavelmente, as categorias de unidades de conservação de uso sustentável, ao invés das unidades de conservação de proteção integral. Em 1992, por exemplo, nosso país possuía apenas 11 Reservas Extrativistas e em 2008 possui 56. Possui em 2008 mais Florestas Nacionais (65) do que Parques Nacionais (63), embora a extensão dos Parques seja maior do que a das Florestas Nacionais. Mas, se somarmos as principais unidades de conservação de proteção integral (Parques Nacionais, Reservas Biológicas e Estações Ecológicas) teremos 35 milhões de hectares versus os 41, 45 milhões de hectares das principais unidades de conservação de uso sustentável (Reservas Extrativistas, APAs e Florestas Nacionais). Assim, a tendência de nossos governantes tem sido procurar fazer o que é mais fácil: criar unidades de conservação de uso direto dos recursos naturais (quadro 2)
Leia também
COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas
Reunião não teve acordo por arcabouço global e vinculante de medidas contra secas; participação de indígenas e financiamento bilionário a 80 países vulneráveis a secas foram aprovados →
Refinaria da Petrobras funciona há 40 dias sem licença para operação comercial
Inea diz que usina de processamento de gás natural (UPGN) no antigo Comperj ainda se encontra na fase de pré-operação, diferentemente do que anunciou a empresa →
Trilha que percorre os antigos caminhos dos Incas une história, conservação e arqueologia
Com 30 mil km que ligam seis países, a grande Rota dos Incas, ou Qapac Ñan, rememora um passado que ainda está presente na paisagem e cultura local →