No Dia Internacional da Juventude, te pergunto: “quem tem direito a ter juventude?”. Em meio à atual crise climática que afeta todo o país, como podemos viver nosso presente, experienciar a juventude, construir mundos e criar cultura quando a sobrevivência se impõe como a nossa maior preocupação?
O Brasil tem cerca de 50 milhões de jovens, quase um quarto da população, e nossos direitos continuam negligenciados e enfraquecidos pelas mudanças climáticas – como aponta a UNICEF. A análise de políticas públicas federais, de 2013 a 2021, revela como os direitos da juventude são limitados ao trabalho e a profissionalização, com pouco investimento em cidadania, participação social e meio ambiente, por exemplo.
“Apesar da falta de um planejamento que considere os nossos direitos, estamos cada vez mais ganhando destaque nas eleições brasileiras, que impactam em como iremos transitar, protagonizar e vivenciar nossos territórios”
Maria Clara Lima, articuladora nacional e pesquisadora de vulnerabilidade climática.
No nosso país, o eleitorado jovem expandiu significativamente desde as últimas eleições, com um aumento de 78%. Além desse crescimento, o destaque vem para o protagonismo das juventudes no voto consciente nas eleições municipais de 2024. É preciso reconhecer esse público como atores políticos e evidenciar os seus esforços na reivindicação por adaptação climática justa nas cidades e territórios brasileiros.
Com o crescente número de desastres climáticos que puderam ser observados ao redor do mundo nos últimos tempos, veio à tona a necessidade de se discutir a adaptação de nossas cidades e territórios de forma qualificada e urgente. Se não conseguimos mais zerar os impactos das mudanças climáticas, precisamos então resgatar e elaborar tecnologias, caminhos e soluções que reduzam esses impactos. Ou seja, antecipar o desastre e preparar ao máximo nossos territórios para lidar com ele.
Isso, que hoje damos o nome de Adaptação Climática, já é feito há muitos séculos baseado em conhecimentos tradicionais de diversas populações, como por exemplo as cisternas criadas para reduzir os impactos da seca no Nordeste, ou mesmo as casas de palafita desenvolvidas no Norte para se adequar à cheia desta região. Porém, para além da atuação da sociedade em seus próprios territórios, o governo apresenta um papel fundamental e inegociável na defesa das pessoas, do meio ambiente e das comunidades.
Em junho deste ano, o Presidente Lula sancionou a lei que dá diretrizes para a elaboração de planos de adaptação às mudanças climáticas. A Lei nº 14.904 prevê a criação de planos nacionais, estaduais e municipais de adaptação, com ações concretas que preparem os diversos territórios do Brasil para lidar com a crise climática. Um fator importante a ser levado em consideração para a criação destes planos são as históricas desigualdades sociais que nosso país enfrenta, visto que os desastres climáticos tendem a agravar essas desigualdades.
Por isso, o debate sobre Adaptação Climática precisa levar em consideração marcadores de raça, gênero, idade, região e território, identificando aqueles que serão primeiro e majoritariamente afetados. A Adaptação Climática precisa ser, antes de tudo, justa.
As juventudes, assim como crianças e adolescentes, apresentam um papel importante neste debate, havendo a necessidade de serem incluídos nos diálogos sobre a construção destes planos e de todas as demais políticas que impactam diretamente este grupo. Por outro lado, há um diagnóstico que aponta a descrença em instituições brasileiras e políticos por parte da juventude. Infelizmente, na prática, os jovens ainda estão sendo deixados de lado nessas discussões.
A partir da pesquisa co-construída pelo Engajamundo, a JUMA – Pesquisa Juventude e Meio Ambiente (2022) – traz dados interessantes: 59% dos jovens sentem que os políticos se importam pouco ou nada com o meio ambiente. Temos aqui uma oportunidade de mobilizar a juventude e mostrar que nós precisamos ser atuantes na política, caso contrário, os políticos sempre irão se abster do que precisa ser feito, com projetos pouco efetivos e fazendo mais do mesmo.
É necessário girar a chave esse ano e mobilizar as juventudes para que estejam participando, seja por conselhos municipais, organizações sociais ou na influência do debate público. O compromisso de amplificar a voz da nossa juventude é de todos! Precisamos estar envolvidos na construção de uma nova cidade e realidade, o voto compromissado em mulheres negras, indígenas e pessoas trans trazem o futuro das cidades, entendendo que várias dessas juventudes podem ser a solução da esfera política, para além daqueles que estão lá e não desejam que a juventude tenha esse espaço e protagonismo.
Obrigado por ler o Engaja em ((o))eco.
Revisão:
Domênica Falcadi – Ecofeminista amazônida, internacionalista e Coordenadora de Comunidade no Engajamundo.
Frances Andrade – Ativista socioambiental e climático, Diretor Executivo do Engajamundo.
Wanderson Costa – Ativista Socioambiental, cerratense, historiador e diretor executivo do Engajamundo
As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.
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