Com uma sala lotada, e outra com transmissão por vídeo para os que ficaram de fora, Barcelona abriu nesta quarta (10) os debates para a 2ª Conferência da Década do Oceano. Os presidentes de Cabo Verde e das Ilhas Seychelles, o primeiro ministro das Ilhas Cook, o Príncipe de Mônaco, Albert II, e autoridades da Espanha, enfatizaram a importância da ciência para os avanços no conhecimento sobre o oceano e para embasar políticas públicas.
E com ameaças globais batendo à porta, os países insulares também estão comprometidos e mobilizados para agir em esforços de mitigação de ameaças como a elevação das águas do oceano.
O presidente do arquipélago das Ilhas Seychelles, Wavel Ramkalawan, afirmou que o país assinou em março o tratado sobre conservação e uso sustentável da biodiversidade marinha em áreas além da jurisdição nacional, o chamado Tratado de Alto Mar, do qual o Brasil já é signatário, e que tem como compromisso proteger 30% do oceano até 2030. “Investindo na ciência e pesquisa, implementando políticas eficazes e promovendo práticas sustentáveis, garantiremos que os nossos oceanos continuem a ser um ecossistema próspero e diversificado que apoia o bem-estar humano e dos oceanos”, reiterou.
“Pequenos países insulares precisam estar envolvidos no delineamento de políticas e ações para brecar o impacto das mudanças climáticas”, defendeu Mark Brown, primeiro ministro das Ilhas Cook. Ele descreveu seu país “com um território quatro vezes maior do que a Espanha, dos quais 99,99% são formados por oceano”. Enquanto o país tem área terrestre de apenas 236 km², ele conta com 1,8 milhão de km² mar adentro, considerando a zona econômica exclusiva.
Com históricos investimentos em expedições, pesquisa e esportes náuticos, o Príncipe Albert II do Principado de Mônaco anunciou que está empenhado em contribuir para atingir o objetivo de proteger 30% dos ecossistemas no mar Mediterrâneo até 2030 e que segue investindo em expedições científicas oceânicas, como seu tataravô iniciou há 150 anos, na proteção e gestão do oceano. Em março de 2023, a Fundação com o seu nome e o governo de Mônaco lançaram o Fundo ReOcean, com a meta de investir 100 milhões de euros no desenvolvimento de inovação para o oceano nos próximos anos.
Economia azul
A ministra de Ciência da Espanha, Diana Morant, lembrou que Barcelona é considerada como a capital náutica do país, com quase 8 mil quilômetros de costa. Também comentou que, apesar do Mediterrâneo deter apenas 1% das águas oceânicas, recebe 30% do turismo mundial e, portanto, precisa cuidar dos impactos na região. A ministra informou ainda que apenas neste ano 110 milhões de euros foram destinados a financiar pesquisas sobre o oceano.
Já o prefeito de Barcelona, Jaume Collboni, anunciou que a cidade é candidata a receber um Centro de Pesquisa Colaborativo de Economia Azul, que poderá torná-la a capital mundial da Economia Azul. “Temos que fazer frente ao negacionismo climático com rigor científico”, afirmou.
Apesar de geograficamente distintas, as lideranças tiveram discursos alinhados à defesa sobre o papel chave que a ciência detém para garantir evidências que apoiem o desenvolvimento de políticas públicas e da economia azul, que é necessariamente sustentável. Outro ponto de confluência dos discursos foi a aposta em ações voltadas para a educação oceânica e a divulgação para a sociedade. “Precisamos de mais pedagogia e divulgação, o conhecimento é um direito público”, defendeu Collboni.
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