“Eu não sou um político. Sou um gestor”. Esse é um dos chavões de alguns dos novos políticos que querem se diferenciar do lamaçal da política brasileira. Embutido nele está a ideia de que o gestor é eficiente e objetivo – a gestão tem a resposta certa. Eu acreditava no mito do gestor como a solução definitiva dos problemas. Porém, ao fazer mestrado na Universidade de Yale aprendi que mais importante do que os métodos de gestão, são os valores que orientam as decisões. Precisamos discutir que valores devem orientar o Brasil. Conto aqui como desmistifiquei o mito do gestor e o que aprendi sobre valores.
No curso de “economia da gestão de recursos naturais“, aprendi a estimar custos e benefícios de projetos. Porém, é inviável estimar em termos monetários todos os custos e benefícios. Por exemplo, podemos estimar que uma hidrelétrica gerará “x” milhões de receita. Mas é impossível estimar o valor das “y” espécies que serão extintas pelo alagamento de um ecossistema único e do sofrimento dos índios que terão seus cemitérios alagados e das pessoas que serão deslocadas. O curso “métodos quantitativos para tomada de decisão” foi mais iluminador do que a economia. Aprendi técnicas que permitem organizar e comparar muitas variáveis além das financeiras. No caso da hidrelétrica, eu poderia comparar “x” de receita gerada, as perdas de “x” espécies extintas, “y” pessoas a serem deslocadas, “z” cemitérios e terras indígenas inundados. Mas os programas e cálculos matemáticos não decidem a relevância dessas variáveis. Eles criam um meio para o gestor revelar suas preferências, seus valores. O gestor decidirá se constrói ou não a hidrelétrica que alaga as terras indígenas e extingue espécies e desloca pessoas.
Aprendi sobre valores no curso “fundamentos de gestão e política de recursos naturais“. As necessidades básicas e a visão de mundo influenciam o que valorizamos, incluindo bem-estar, riqueza, poder, respeito, reputação, sabedoria e a afeição.
Seguindo no exemplo da hidrelétrica, se o gestor despreza os índios e outras espécies, construirá a obra em troca de votos de eleitores insensíveis para se manter no poder. Para deslegitimar os protestos dos índios e seus defensores, ele provavelmente usará a propaganda para mostrar como a obra trará desenvolvimento econômico e bem-estar para os eleitores. Disseminará que os índios são ignorantes, indolentes e, portanto, indignos de afeição e respeito da população dominante.
Se o gestor acredita que os peixes e os índios valem mais do que dinheiro e poder, ele não construirá a hidrelétrica. Ele ou ela buscarão uma alternativa, que pode até custar mais. Ele explicará para seus eleitores, por exemplo, que seria indigno destruir um povo e seu conhecimento para ter energia mais barata.
O professor de “modelagem de política“, um gênio oriundo do MIT (Massachusetts Institute of Technology), também ilustrou a relevância dos valores. Durante o curso, ele mostrou a aplicação de matemática para o desenho e avaliação de políticas. Mas em sua última aula, intitulada a politicagem da modelagem de política, ele deixou os números de lado para contar que deputados americanos ficaram furiosos com o estudo dele que provou que distribuir seringas novas para usuários de drogas reduzia a disseminação de Aids. O trabalho era tão brilhante que ele ganhou um prêmio. Mas os deputados o convocaram para uma audiência pública e depois contrataram outros matemáticos para avaliar o estudo. Os revisores concluíram que a análise estava correta. Mas os políticos conservadores continuaram resistentes a adoção da abordagem. Eles achavam que viciados eram inúteis e pecadores e, portanto, mereciam o castigo da Aids. A pesquisa salvava vidas que os deputados não queriam salvar.
Os valores também determinam que problemas o gestor enxerga e quer resolver. Morar nos EUA durante o mestrado me permitiu refletir mais sobre o Brasil. Das observações diretas e leituras concluí que o maior problema brasileiro é a desigualdade social, que é uma das maiores do mundo. A desigualdade aumenta a violência, a depressão, a desconfiança e a desagregação social, entre outras mazelas.
No livro Uma História do Brasil, Thomas E. Skidmore aponta duas causas fundamentais da desigualdade no país. A distribuição de terra por meio das sesmarias e outras formas gerou concentração fundiária. A escravidão prolongada e a falta de investimentos nos negros libertos deixou uma enorme população vulnerável e sem posses. Os índios perderam terras ou foram expulsos para terras menos férteis. Decisões tão antigas ainda deixam suas marcas. A concentração fundiária ainda é alta e as diferenças de educação e saúde entre negros e brancos são enormes.
Se o país acreditar no mito do gestor, correremos o risco de empobrecer o debate nas próximas eleições. Além das habilidades de gestão, devemos perguntar que valores os candidatos usarão para governar e refletir se o Brasil será mais justo a partir destes valores.
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Olá Paulo, parece na verdade que você ainda não percebeu o momento político que o Brasil e o mundo ocidental passa.
Quando o mote “Eu não sou um político. Sou um gestor” se torna uma estratégia positiva no debate e nas campanhas, o recado é cristalino, o fantástico mundo de Bobby pintado pelos progressistas é a receita do desastre não importa a escala ou aplicação. Considerando o Brasil, vide a educação e o desastre que o Construtivismo e a militancia freireana conduziu, a tragédia na economia da Era PT com 14 milhões de desempregados atualmente, sendo considerado um dos maiores programas de inclusão na pobreza, só sendo comparado aos avanços na Venezuela e Cuba já consolidada.
Em termos ambientais, nos ultimos 13 anos, graças ao capitalismo de compadres para a manutenção da base de apoio, tivemos o desmonte do IBAMA e paulatinamento do programa de conservação don pais, isso graças, depois do mensalão, ao esquartejamento do estado para o financiamento de partidos amigos, ditaduras aliadas e empreiteiras de estimação… Destacando é caro que a farra das hidreletricas na Amazonia serviu para financiar PT, PMDB e partidos aliados, assim como outros esquemas envolveram o PSDB, que sempre soube participar sem aparecer…é a esquerda limpinha por assim dizer.
Por isso é que “Eu não sou um político. Sou um gestor” dá votos e projeção, pois progressistas vão sempre procurar a dimensão dialógica e a negociação equânime de direitos, enquanto nada fazem, a não ser é claro, aumentar o tamanho do estado para manter os amigos militantes, espoliar a classe trabalhadora e distribuir as migalhas aos miseráveis que produz…. De fato, mesmo o Doria, terá muito trabalho quando for descoberto como o Cavalo de Troia do PSDB.
Campanha anti-Doria, pro-Marina, muito mal camuflada!!! Motivo: vai que a Marina ganha…ela adora arrumar cargo pra ONGueiro! Foi assim quando foi iInistra…Montiel e Marquesini no Ibama, Capobianco, Tasso e Muriel no MMA, e por aíi vai. Colunista tá querendo ganhar pontinho com a Chefa!!!! http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,O…
Pow que honra, ganhei um fã-clube! 🙂 🙂 Algum dia me contas quem és, juro não espalhar!
Nos faltam valores, virtudes e vergonha social.
PArabéns pelo Artigo!
Truda sempre vem com essa esquerdopatia! É um coxinha mal dormido! Acha mesmo que existe meritocracia e gestão profissional na Banânia ou na Paulistânia de Dória e Alckmin? Hahahaha. Parabéns!
Tava demorando a aparecer mais uma faceta do PR. Resta agora saber se é PSOL ou REDE! Além disso, aposto que mesmo negando em público, deve estar também preocupado com o Amigo.
Francamente essa correlação entre gestão e cegueira ambiental me parece uma rematada bobagem. Discordo. Estado precisa de gestão mais do que precisa de politicagem. Meritocracia, carreira, eficiência, tudo precisando de bons gestores e técnicos e não de aspones partidários que espraiam a bandidagem política em toda a estrutura estatal até o décimo-quinto escalão… vamos debater gestão e gestores sim!
O COCHINA DE DORIA SE VALE DE ESE ARGUMENTO BARATO E INSUSTENTAVEL…. SE TORNA UM FEROZ CRITICO DO PT E NO DICE SOBRE OS CAPOS TUCANOS QUE TEM POST DOUTORADO EN CAIXA DOIS E INMORAL ESE CAMARADA,, UN AUTENTICO COHINHA GOLPISTA
Golpista é estrangeiro que vem aqui querer dar sermão sobre a política (nacional e ambiental) brasileira. Já não chega os esquerdóides autóctones que quase destruíram o país inteiro, agora tenos de aturar os importados… é dose.
Marineiro detected!
Tenho grande respeito e admiração pelo autor do artigo. Mas que tem um ar de ET da Macega nessa argumentação, lá isso tem. Marina Silva é uma maldição a pairar sobre a gestão ambiental brasileira, porque tem quem confunda as aleivosias e generalidades dela com ambientalismo ou proposta de gestão ambiental. E não é uma coisa nem outra, como aprendi muito tardiamente.
Truda, vc que tem voz ativa e conhece por dentro…comente a "cooptação" (por falta de melhor termo) que rola nos órgãos ambientais na hora de escolher os cargos de chefia…
Desculpa, tchê, não pesquei qual o foco da tua pergunta…? Me ajuda, estou velho! 🙂
Nos últimos anos, os "valores" usados para governar tem sido aqueles oriundos das empreiteiras!!!!
Ótimo artigo, Paulo. Explicitamente: os valores que guiam parte do eleitorado, da ilibada classe média-alta e dos formadores de opinião é o dinheiro – e o receio de perdê-lo. "É a economia, estúpido", dizem.
Fica uma sugestão ao terceiro setor brasileiro: devemos adotar o discurso dos donos do poder (a monetização) para 'convencê-los', ou buscar novos modos para que nosso discurso seja de fato adotado pela sociedade como um todo?