Em janeiro último, com meu filho Bruno, fui fazer uma caminhada ao redor da cratera do vulcão Sierra Negra na ilha de Santa Cruz, no arquipélago equatoriano de Galápagos. Em nosso grupo havia também uma canadense e duas alemãs. Antes mesmo das apresentações a canadense se aproximou perguntando se éramos brasileiros. Apontou para minha camisa da Trilha Transmantiqueira e disse sorridente: conheço essas pegadas, já caminhei no Brasil.
Demorou para nosso país começar a ser reconhecido internacionalmente por suas trilhas. Com efeito, mesmo hoje, apesar da quantidade de trilhas e de sua qualidade paisagística, ainda não somos referência mundial em circuitos de caminhadas, pedaladas e remadas.
Felizmente, essa realidade está mudando e um dos fatores da mudança é a criação de uma Rede Brasileira de Trilhas sinalizada de maneira padronizada, de maneira a consolidar uma identidade visual “trilhas do Brasil” na forma de rastros de pneus de bicicleta ou de pegadas amarelas e pretas, conforme o modal mais usado na trilha. Com efeito, em 2018, logo depois que o analista ambiental do ICMBio Paulo Faria apresentou a Rede Brasileira de Trilhas na Conferência Mundial de Trilhas, que teve lugar em Santiago de Compostela, a sinalização brasileira recebeu uma enxurrada de elogios, sintetizada por um representante da França que a qualificou de “genial”!
Genial pressupõe um gênio, com ideias maravilhosas, um cérebro muito acima da média e uma fenomenal capacidade de ver à frente de seu tempo. Sim, é fato que a sinalização de trilhas adotada no Brasil é hoje, provavelmente, a melhor do mundo. Contudo, ela não tem nada de genial. Pelo contrário, ela é fruto de muito estudo, muitas viagens de aprendizado e do trabalho árduo de diversos profissionais e voluntários, que a mais de 20 anos têm se dedicado à causa das trilhas em nosso país.
Um dos fatos que marcam o início desse processo aconteceu em 19 de fevereiro de 1998. Naquele dia, Anastassia Fessenko e Masha Podrajanets, respectivamente filhas do Cônsul-Geral e do Embaixador da Rússia no Brasil, foram passear na Floresta da Tijuca acompanhadas do vice-cônsul no Rio, Andrey Martinenko, e se perderam. O incidente mereceu farta cobertura da imprensa como se fosse excepcional. Não era. Na verdade, na década de 1990 era corriqueiro pessoas se perderem nas trilhas cariocas.
Com o intuito de resolver o problema, a Prefeitura do Rio de Janeiro decidiu, então, implementar o projeto Rede Carioca de Trilhas, que tinha a Trilha Transcarioca como sua linha mestra, e mais tarde evoluiria para se transformar na Rede Brasileira de Trilhas dos nossos tempo.
Naquele momento, George Meek, então correspondente da Voice of America no Brasil, procurou os responsáveis pelo projeto e se ofereceu para ajudar, mostrando como era feita a sinalização da Appalachian Trail, solução que, a princípio, deliberou-se adotar também no Rio de Janeiro. Logo em seguida, Paul Kozelka, adido do Consulado-Geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, proporcionou à Secretaria de Meio Ambiente da Cidade (SMAC) uma viagem de estudos de três semanas às trilhas daquele país. No programa foram incluídas visitas à Appalachian Trail, à Pacific Crest Trail, à Colorado Trail, à Tahoe Rim Trail e às sedes do Serviço Nacional de Parques, do Serviço Florestal Norte Americano e da International Mountain Biking Association (IMBA).
Durante o périplo, a ideia de usar o modelo de sinalização da Appalachian Trail foi sepultada. Na reunião com o pessoal do Parks Service em Washington uma devastadora autocrítica foi proferida: “nossa sinalização (retângulos brancos pintados nas árvores) é muito ruim. Ela não é intuitiva. Quando uma pessoa entra na trilha não sabe automaticamente como ela funciona. Ela até serve para uma trilha linear, mas não é adequada para uma rede de trilhas que é a nossa realidade de hoje. Desde 1968, com a publicação do National Trails System Act, estamos tentando, aos poucos, padronizar toda a sinalização de nossas trilhas, independente do órgão que as administra. O problema é que somos vítimas do nosso próprio sucesso e refazer a sinalização de mais de centenas de milhares de quilômetros de trilhas em todo o país é tarefa quase impossível”¹
A percepção foi reforçada na visita feita à IMBA: “o modelo de trilha linear da Appalachian Trail está obsoleto, precisamos pensar em uma sinalização padronizada e fácil de compreender para todas as trilhas. Aprendeu a usar uma, aprendeu a usar todas.” Com efeito, desde então as trilhas norte americanas para bicicletas começaram a adotar uma sinalização padronizada, baseada naquela anteriormente desenvolvida para as pistas de esqui na neve. O modelo padronizado é hoje utilizado em muitos países além dos EUA. Ainda peca, entretanto, por não ser fácil de utilizar por outros modais como caminhada e caiaque.
De volta ao Brasil, era então imperativo resolver a questão de desenvolver uma sinalização de fácil cognitividade e que extrapolasse o modelo de trilhas lineares, podendo ser também aplicado em sistemas ou redes de trilhas. Quem matou a charada foi o analista ambiental do Parque Nacional da Tijuca, Luiz Fernando Lopez da Silva: “Ora, nada é mais cognitivo que uma seta. Qualquer um sabe o significado de uma seta. Um brasileiro sabe, um japonês sabe, um russo sabe, até um analfabeto sabe”. E assim ficou decidido: setas seriam utilizadas para a implementação da Rede Carioca de Trilhas. A prefeitura contratou junto ao designer Chico Guariza um manual de sinalização com setas e, usando setas, a Trilha da Catacumba, primeira trilha da Rede Carioca, foi inaugurada em 8 de janeiro de 1999. O modelo foi replicado com sucesso nas Trilhas Circulares Major Archer e Castro Maya, na Floresta da Tijuca, e na Travessia das Sete Quedas, no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Mais tarde, já incorporando o planejamento da sinalização de redes de trilhas, o modelo foi manualizado e distribuído para o Brasil inteiro.
A sinalização de trilhas em Goiás e a manualização da padronização com setas, aconteceu no mesmo momento em que o ICMBio estava implementando a padronização de sua própria identidade visual, que resultaria anos mais tarde, no excelente manual de sinalização de placas da instituição, que determina a homogeneidade das placas em todas as unidades de conservação federais, tendo sido o Parque Nacional da Tijuca o primeiro a fazê-lo com pompa e circunstância. O Manual, contudo, não incluiu as trilhas uma vez que a Rede Brasileira de Trilhas estava, já naquele momento, sendo planejada como uma ferramenta do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Nesse sentido, era necessário pensar uma padronização mais ampla da sinalização das trilhas, de modo a abranger toda a rede de trilhas do país em âmbito nacional, incluindo as esferas municipal, estadual e federal. Essa padronização, fruto das experiências no terreno e engajamento de voluntários e profissionais, acabou resultando em 2018, na publicação de um manual que foi adotado pelos Ministérios do Meio Ambiente e do Turismo para a totalidade da Rede Brasileira de Trilhas.
Essa dinâmica de “baixo para cima” gerou o aumento do grupo de pessoas envolvidas no esforço de encontrar soluções para o Brasil, que nos permitissem avançar, aprendendo com o conhecimento acumulado em outros países e sem repetir os erros previamente cometidos no estrangeiro.
Nessa época, a discussão extrapolou a recreação e começou a incluir também as trilhas como ferramentas geradoras de emprego e renda, quesito em que a Europa é de longe a líder. Assim, voluntários e profissionais envolvidos com o tema inseriram o velho continente em suas viagens de aprendizado sobre trilhas.
Na Europa ocidental, e na Inglaterra do Brexit², alguns conceitos, inicialmente levantados nos Estados Unidos ficaram muito claros:
- (1) o modelo de trilhas lineares com mais de 1000 quilômetros, como a Appalachian Trail, estava obsoleto pois a maior geração de emprego e renda se dá, sobretudo, em trilhas menores, que caibam em períodos de férias;
- (2) as trilhas (e ciclovias) têm grande potencial para mudar a paisagem fora das unidades de conservação, pois tendem a progredir dentro de corredores verdes que servem como ferramenta auxiliar para a movimentação de fauna e troca genética entre áreas núcleo (com base nisso, mais tarde a Rede Brasileira de Trilhas seria reconhecida também como elemento de conectividade entre unidades de conservação³);
- (3) Se bem sucedida, uma política de implementação de trilhas (i) gera emprego e renda, (ii) proporciona recreação de qualidade para os residentes do entorno e (iii) funciona como ferramenta de conservação e
- (4) o modelo e planejamento de trilhas lineares, a exemplo da Appalachian Trail e da Pacific Crest Trail precisa evoluir para que essas trilhas sejam colunas vertebrais de redes ou sistemas. Nesse sentido, a padronização da sinalização é fundamental.
Palmas para os europeus. Efetivamente a rede de trilhas da Europa Ocidental que, além dos sistemas nacionais e provinciais, inclui 12 Trilhas Transeuropeias, já está mudando a paisagem do continente outrora desfigurado pela Revolução Industrial e, agora cada vez mais verde.
Nas visitas que fizemos a diversos países verificamos seguidamente que o exemplo da Europa oriental, onde não há padronização da sinalização, é determinante para mostrar que a falta de homogeneização gera diversos problemas como (1) enorme poluição visual; (2) competição por pertencimento dos voluntários (por outro lado, com a padronização há também uma racionalização do uso da mão de obra: o voluntário se sente parte do mesmo sistema ou rede e assim faz a manutenção de todas as trilhas que compartilham o mesmo percurso); (3) pesadelo na manutenção da sinalização e (4) competição por recursos financeiros e pela divulgação e marketing das respectivas trilhas nas suas estratégias de atração de turistas para gerar emprego e renda.
Ficamos felizes com a visita. Nossa Rede Brasileira de Trilhas, em seus passos de bebê, estava no caminho certo da padronização, tal como defendida pelas Federações de Montanhismo e Escalada da Europa, como a Espanhola entre outras, e pela própria European Ramblers Association4. Só que não!
A padronização na Europa foi longe demais e levou em conta apenas os aspectos funcionais da sinalização, deixando de lado o uso da simbologia como elemento gerador de pertencimento. “Nossa sinalização é boa, padroniza e permite a implementação de sistemas sem que haja uma grande poluição visual em cada bifurcação. Pecamos, entretanto, ao não escolher uma sinalização que gere amor nos moradores locais, que possa ser estampada em camisetas, bonés e outros artigos de souvenir e que possa conversar com as políticas de desenvolvimento do turismo nas escalas local e regional”.
Que banho de água fria….lá se foram nossas setas maravilhosas que mostram o caminho mas não geram pertencimento nem se transformam em produtos vendáveis! Voltamos à prancheta de desenhos em busca da solução que incorporasse os aprendizados da América do Norte e da Europa.
O caminho das pedras começou a se desenhar em viagens à África do Diretor de Sinalização da Rede Brasileira de Trilhas, Ivan Amaral, e do ex-coordenador de Planejamento, Estruturação da Visitação e do Ecoturismo do ICMBio, Paulo Faria. Ao caminhar na África do Sul em diferentes ocasiões depararam com pegadas sinalizando as trilhas: pegadas também são de fácil interpretação. Por que não sinalizar a Rede Brasileira de Trilhas com pegadas? Cada trilha pode ter sua própria pegada, mas sempre respeitando uma mesma padronização que crie uma identidade visual “Trilhas do Brasil”, colocando o país como uma referência mundial no tema. Ao padronizar com as pegadas de baixo para cima- ou seja do local para o nacional- sempre enfatizamos o produto mais procurado: as trilhas de poucas horas até quatro dias, mas ao mesmo tempo mantemos nos usuários a percepção de que cada trilha local faz parte de uma rede, cujo objetivo de longo prazo é conectar de forma coordenada todas as áreas verdes do Brasil.
Decidimos seguir esse rumo e, com o apoio inestimável do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro/INEA/RJ, que na época havia recém reconhecido a necessidade de padronização dos logotipos de suas unidades de conservação, nasceu a primeira pegada da Rede Brasileira de Trilhas, a da Trilha Transcarioca5.
Com o problema resolvido, uma azeitada equipe de voluntários e profissionais do Mosaico Carioca de Unidades de Conservação foi a campo sinalizar esta que é a primeira trilha de longo curso do Brasil. Não demorou, entretanto, para que os trilheiros reclamassem que a sinalização rústica pintada sobre árvores e rochas, seguindo o exemplo da maioria dos países do mundo, era pouco nítida. Resolveu-se então aplicar a imagem da pegada sobre um fundo de outra cor.
Mas que cores usar? Mais uma vez nos valemos da experiência e do aprendizado internacional. Nos baseamos nas pesquisar realizadas para a implementação de uma das primeiras trilhas visitadas, ainda na época da Rede Carioca de Trilhas, a Bibbulmun Track, na Austrália, cujo uso da combinação preto e amarelo mostrou-se mais efetivo que qualquer outro contraste de cores6. E assim um grande grupo de idealistas começou a sinalizar os 183 quilômetros da Trilha Transcarioca com pegadas amarelas sobre fundo preto no sentido Guaratiba x Morro da Urca. Não tardou, porém, para que o público solicitasse que também sinalizássemos a trilha no sentido inverso, Morro da Urca x Guaratiba.
“Garmin tinha um senso de direção horrível. Muitas vezes, depois de uma parada, recomeçava a trilha caminhando no sentido inverso ao que queria ir”. O trecho é do livro Hiking Through, em que Paul Stutzman relata sua caminhada na Appalachian Trail. Bill Bryson conta episódio similar no seu instigante A Walk in the Woods. Com efeito, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos e na Austrália, as trilhas são sinalizadas de forma idêntica em ambos os sentidos. Parar para um lanche e retomar a trilha na direção contrária à desejada é tão comum que quando um grupo de voluntários da Rede Brasileira de Trilhas fez uma viagem de aprendizado, que culminou com uma caminhada de sete dias na Pacific Crest Trail, foi aconselhada pelos gestores do U.S. Forest Service a prestar atenção sempre que parassem: “não paguem esse mico”.
Considerando que a proposta da Rede incluía não repetir erros de projetos de trilhas mais antigas, estávamos determinados a sinalizar o sentido Morro da Urca x Guaratiba de forma a não haver confusão possível. Assim para o sentido inverso, houve quem propusesse a combinação laranja e preto; vermelho e preto também teve seus defensores. A genialidade, todavia, está na simplicidade: existe uma lenda que, durante a corrida espacial, os americanos gastaram milhares de dólares em pesquisas para desenvolver uma caneta que funcionasse mesmo em lugares sem gravidade. Já os russos teriam levado um lápis para o espaço.
Pois é, quase cem anos depois da inauguração da Appalachian Trail, Ivan Amaral parece ter “conversado com os russos”, pois apresentou a solução óbvia: “vamos inverter as cores: pegada preta sobre fundo amarelo em um sentido e pegada amarela sobre fundo preto no sentido inverso”. Genial, como diria o francês da Conferência Mundial de Trilhas, em Santiago de Compostela. Verdade, a solução é tão simples e genial que já está sendo copiada sem cerimônia por muitas trilhas, inclusive no Brasil.
O modelo inspirado na África do Sul logo ganhou o resto do país. Hoje, apesar dos atrasos impostos pela pandemia, são mais de 100 trilhas e 4000 quilômetros em 26 estados e no Distrito Federal sinalizados com a logomarca amarela e preta. Uma vez aplicada no terreno por perfeccionistas com dotes artísticos como Jeremias Freitas, a sinalização logo vira objeto de desejo para fotografias, se transforma em camisetas, bonés, adesivos e outros produtos e é, até mesmo, eternizada em tatuagens.
Aplicando o que aprendemos na Europa, as trilhas nacionais da Rede Brasileira são resultado da soma de trilhas regionais em que o final de uma coincide com o início da seguinte. Se tomarmos como exemplo a Trilha Nacional Oiapoque x Chui, no local de transição entre os caminhos regionais Rota Guarumã e Amazônia Atlântica encontraremos uma placa com os dizeres: “Parabéns, você terminou a Rota Guarumã. Aqui começa a Trilha Amazônia Atlântica. Tanto a Rota Guarumã quanto a Trilha Amazônia Atlântica são formadoras da Trilha Oiapoque x Chui”. Ou seja, as trilhas nacionais não passam, nem dividem, o traçado com as trilhas regionais. Elas são a soma das trilhas regionais, cuja sinalização no terreno, utilizando uma pegada ou rastro de bike com características locais, será a única, valorizando assim os produtos regionais e estando inserida em políticas regionais de turismo. A lógica é uma valorização das trilhas de baixo para cima, com a soma das regionais dando vida ao nacional e não o contrário.
Além disso, cada trilha regional jamais terá mais que 28 dias de duração, de modo a caber em um período de férias, oferecendo assim produtos de turismo lento e contemplativo que dão a sensação de missão cumprida ao cliente. A estratégia, por outro lado, não aliena os poucos turistas que buscam completar trilhas mais longas, com mil, dois mil ou até 8 mil km de extensão, como a Oiapoque x Chui. A diferença é que as trilhas nacionais não competem com as trilhas regionais, pois todas fazem parte da mesma rede e, assim, se complementam, sendo inclusive colecionáveis. Também há um maior incentivo à aquisição de lembranças. Em uma trilha de 4 mil quilômetros modelada na Appalachian Trail, o usuário comprará sua camiseta e seu adesivo nos primeiros dias de jornada e depois não vai adquirir mais esses produtos ao longo do caminho. No modelo da Rede Brasileira de Trilhas, porém, ao implementar trilhas nacionais com sinalização que gera pertencimento e que varia, no máximo, a cada 28 dias, a Rede Brasileira de Trilhas ajuda a pulverizar esse gasto ao longo de todo seu eixo: cada nova trilha regional terá sua própria logomarca de sinalização amarela e preta com a respectiva pegada ou rastro de bike e, consequentemente, suas próprias camisetas e outros produtos vendáveis.
Por fim, a padronização da sinalização com espaço para que cada trilha tenha sua própria logomarca, como já citado, consolida uma identidade visual “Trilhas do Brasil”. Ao homogeneizar as logomarcas das trilhas, evita a duplicidade de sinalizações com o mesmo objetivo e a consequente competição pela exposição de diferentes marcas, impedindo também o efeito negativo de grande poluição visual nas trilhas, tal como defendido pela Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro/FEMERJ. Nesse sentido, todas as pegadas/rastros, pela sua própria concepção, sempre divulgam apenas uma marca: a marca Brasil, subdividida em pegadas/rastros com temas locais e regionais, todas juntas sempre reforçando o contexto de REDE colaborativa.
O modelo facilita a divulgação do país como destino de caminhadas, pedaladas e remadas em todo o mundo: no dia em que uma turista espanhola tirar uma fotografia junto a uma pegada da sinalização do Caminho das Araucárias e postar em uma rede social, essa foto vai certamente ser vista por outro turista, possivelmente um alemão em férias na Tailândia. Talvez ele não saiba que aquela pegada é do Caminho das Araucárias, mas saberá que é uma trilha no Brasil. Dessa forma, as trilhas brasileiras se complementarão ao invés de competirem. Uma trilha divulga todas! Assim funciona a REDE.
Não tem nada de genial na sinalização nem na implementação da Rede Brasileira de Trilhas. Tem sim, muito estudo, muito aprendizado e muito suor. Talvez por isso mesmo, logo em sua primeira edição em 2018, o Prêmio Nacional de Turismo, escolheu a Rede Brasileira de Trilhas entre seus vencedores, enquanto no nível internacional a Revista Outside elegeu a Trilha Transcarioca como uma das melhores 25 trilhas do mundo.
As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.
Notas
- O National Trail Act, de 1968 em sua Seção 3, letra C, determina que “deve ser estabelecida uma sinalização padronizada para o Sistema Nacional de Trilhas” dos Estados Unidos. Desde então adotou-se como padrão a sinalização conhecida como “Diamond Marker” que está sendo paulatinamente implementada nas mais de 1030 trilhas do Sistema, que inclui Trilhas Cênicas, Trilhas Históricas e Trilhas Recreativas: “Definition and Identity of National Trails System: The National Trails System is made up of national scenic trails (NSTs), national historic trails (NHTs), national recreation trails (NRTs), and connecting and side trails (3(a)). NSTs and NHTs may only be authorized by Congress (5(a)). NSTs and NHTs must be extended trails (100+ miles in length, although shorter NHTs are also allowed). Along NHTs, designation of the trail shall be continuous, but not necessarily development or preservation (3(a)(3) and 3(b)). NHTs must meet all three criteria given in subsection 5(b)(11): a. follow the actual route of historic use and be well enough documented to be located. b. be of national significance. c. provide significant potential for public recreation and/or interpretation. The Secretaries of Agriculture and Interior shall establish a uniform marker for the trail system (3(a)(4)). A uniform marker system shall be established, with a distinctive and appropriate marker for each national trail. These markers shall be provided by the appropriate Secretary to non-Federal landowners who shall erect and maintain them to set standards (7(c))”. Markers and Logos A variety of NTSA authorities frame Federal involvement with trail markers, logos, and signs—both for trail specific logos (section 7(c)) and a systemwide logo (section 3(a)). The general authority in 7(c) states: The Secretary of the Interior and the Secretary of Agriculture, in consultation with appropriate governmental agencies and public and private organizations, shall establish a uniform marker, including thereon an appropriate and distinctive symbol for each national recreation, national scenic, and national historic trail. Where the trails cross lands administered by Federal agencies such markers shall be erected at appropriate points along the trails and maintained by the Federal agency administering the trail in accordance with standards established by the appropriate Secretary and where the trails cross non-Federal lands, in accordance with written cooperative agreements, the appropriate Secretary shall provide such uniform markers to cooperating agencies and shall require such agencies to erect and maintain them in accordance with the standards established. This has been largely carried out, with the design of each trail marker logo usually occurring at the time of the trail’s comprehensive management plan. In recent years, a set of guidelines has been developed to assure consistent lettering, sizing, and proportions so that two or more National Trails System signs can harmonize when shown together. NTSA section 5(f) for requires that NHT comprehensive management plans outline how these marking requirements will be implemented for specific trails. And section 8(e), under State and Metropolitan Area Trails, allows Federal agencies to mark rail-trails and other trails relating to this section as part of the National Trails System. In fact, this authority has been used to provide a generic NRT logo for trails recognized as NRTs under section 4 authorities. NST, NHT, and NRT trail markers have significant symbolic value. It is often very difficult to develop a graphic for the center which fully captures the spirit and character and uniqueness a specific trail. However, once a graphic is found that people like, it may endure for years. These graphics should be simple and bold so that they will show up well on highway signs and other forms of public display. As Federal insignia, they are protected against unauthorized uses by Federal law (18 USC 701), especially if public notice has been made through the Federal Register”. Ver em: https://www.govinfo.gov/content/pkg/STATUTE-82/pdf/STATUTE-82-Pg919.pdf; https://www.nps.gov/orgs/1453/pedestrian-signs.htm. e https://www.nps.gov/policy/Reference_Manual_45.pdf
- Além da Europa Ocidental, a Inglaterra também padronizou a sinalização de suas trilhas. Entre os objetivos do Governo inglês estão: “Strengthen the National Trail brand and increase awareness in order to develop other avenues for income generation. The National Trails have a logo – an acorn –“. Para a padronização, ver os seguintes documentos: https://cdn.cyfoethnaturiol.cymru/media/692160/national_trails_brand_guidelines_final-1-1.pdf?mode=pad&rnd=132440269310000000 e https://egwt.s3.eu-west-2.amazonaws.com/uploads/otrp_report_final.pdf
- Em 2018, a Rede Brasileira de Trilhas foi incluída como instrumento de conectividade no âmbito do Programa CONECTA do MMA https://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/9532-trilhas-de-longo-curso-conectam-paisagens-do-brasil-2
- Para a Espanha ver: Normalización y homogeneización de la señalización turística de senderos, fijando unos criterios y una identidad gráfica común de uso em (http://www.fedme.es/salaprensa/upfiles/229_F_es.pdf) Para as Trilhas Transeuropeias, ver as decisões de sua junta diretiva em http://www.era-ewv-ferp.com/fileadmin/user_upload/dokumenter/Organisation/Conferences/2018_Echternach/2018_Meeting_documents.pdf página 24: All existing E-Paths all over Europe show the same trail quality and have a uniform signposting. E a decisão do Presidium “expected benefits of doing the maximum are: The signposting and the quality of the E-Paths are unified”. A European Ramblers Association é a união das Federações Europeias de Montanhismo que cuida das Trilhas Transeuropeias “E” https://www.era-ewv-ferp.org/members/member-organisations-websites/
- Alguns anos mais tarde, em 2020, o Presidente da Rede Brasileira, Hugo de Castro, adaptou a logo para, em pé de igualdade, incluir, além das pegadas dos caminhantes, os rastros das bicicletas e os remos dos caiaques.
- Segundo o site https://www.roadtrafficsigns.com/traffic-sign-colors a combinação amarelo e preto produz o melhor contraste permitindo “máxima visibilidade e leitura”.
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Padronizar: ótimo, mas não significa que outras iniciativas não podem ocorrer. Uma trilha pode servir a diferentes caminhos!!! Boa desculpa pra fazer valer a "minha vontade" porque eu acho que a "minha marcação" deve prevalescer, né?!
E o O ECO totalmente parcial nessa! Lança a matéria justamente quando vão fazer aquele absurdo no PARNA da Tijuca! Sem considerar todo o trabalho e envolvimento da sociedade. Vão perder a credibilidade quanto à isenção por parte de dezenas de servidores do ICMBio e todos os da sociedade civil envolvidos, e que tanto ajudaram e trabalharam nos Caminhos da Mata Atlântica!!! E por causa de colunista mimado que não admite não ser tudo do jeito dele, e se une a esse governo nefasto com relação ao meio ambiente pra conseguir fazer sua vontade! Que decepção, O ECO!!!
AAI,
Esse texto não é uma reportagem, é uma coluna opinativa sobre sinalização feita por membros da Rede Brasileira de Trilhas, publicada no dia 25 de março, há quase duas semanas. Você fez uma ligação direta sobre uma coluna de trilhas (Aqui você poderá ver tudo o que publicamos sobre este assunto: https://www.oeco.org.br/tag/trilhas-de-longo-curs… com base em uma decisão administrativa que veio a público no sábado, dia 03 de abril (e que a redação ficou sabendo pelo WhatsApp).
Os representantes do Caminhos da Mata Atlântica podem se posicionar nas nossas páginas quando quiser, não há censura de debates, muito pelo contrário.
E porque não uma matéria mostrando o aconteceu no PARNA da Tijuca então? Simples coincidência que não foi falado nada a respeito?
Também não demos a crise do Salles com a PF do Amazonas. Estamos protegendo o ministro do Meio Ambiente ou trabalhando e investigando outras coisas e jornalismo demanda tempo? você já concluiu que houve má-fé, AAI, não posso fazer nada.
Boa noite AAI,
Sou Chico Schnoor, Coordenador Nacional do Caminho da Mata Atlântica. Temos é sempre tivemos aberturas pra escrever colunas de opinião no ((o)) eco, assim como qualquer representante da REDE Brasileira de Trilhas ou outros movimentos. Está coluna de opinião é ótima pra isso. Agradeço muito seu apoio ao nosso trabalho, com isso somos mais fortes, mas por favor não deixe de valorizar este jornal, tão importante pro meio ambiente nacional é que mais que nunca precisa de apoio. Em breve teremos notícias aqui, só vamos calma, a cizânia não faz bem a ninguém..
Grande abraço é mais uma vez, muito obrigado pelo apoio!!!
Gostaria de parabenizar os autores pelo artigo. De fato, essas setas são um verdadeiro charme. Onde quer que eu vá, encontro essas setas. São discrtetas e, ao mesmo tempo, fáceis de serem visuazlidas. Ja me ajudou diversas vezes. Outra sacada genial (brm apresentada nessa matéria) é a identidade regional que a seta tráz. Sua estilização baseada numa temática regionalista é simplesmente genial. É como ilustra o relato do início da matéria.
Muito bacana a matéria
Muito bacana observas as experiências de fora. Mas o Brasil tem proporções continentais e muitas peculiaridades. O uso do amarelo, e o impacto que essa cor exerce sobre muitos de nossos polinizadores (insetos), foi considerada? Azul poderia resolver esse problema. Será que houve essa consideração?
Boa pergunta, Humberto! Também fiquei curiosa para saber se isso foi levado em conta, visto que é um projeto vinculado à conservação ambiental.
Oi, sou o Cainho Sícoli Seoane, um dos autores do artigo… Obrigado pela pergunta, não sou biólogo e sim geólogo, mas vou tentar responder pelo meu ponto de vista, ok? Aceitamos todos os tipos de contribuição!
Bom, a tentativa é de organizar o uso das trilhas. Para mim, o que perturba muito mais os polinizadores é o lixo na trilha, de qualquer cor que seja… E o impacto causado por variantes não oficiais, atalhos e esse tipo de coisa. Gente perdida fazendo fogueiras. Trabalhos de resgate e tudo mais!
Não vejo como umas poucas setas por quilometro poderiam ser mais negativas do que isso. Não é nem nunca foi nossa proposta sair pintando seta por aí a esmo! Mas aguardo algum especialista se manifestar! Abraço!
Eu ja encontrrei essas pegadas em diversas trilhas pelo Brasil. Não tenho lebrança de ver abelhas ou outros polinizadores aflomerados junto as imagnes das setas.
Assim como o Cainho Seoane, não sou biológom porem, acredito que a ocorrência limitada das setas não são suficientes para impactar a atividade de polinizadores.
Oi, sou o Cainho Sícoli Seoane, um dos autores do artigo… Obrigado pela pergunta, não sou biólogo e sim geólogo, mas vou tentar responder pelo meu ponto de vista, ok? Aceitamos todos os tipos de contribuição! Bom, penso que o que mais prejudica a toda fauna e flora, incluindo os polinizadores, seja o desgaste provocado nas trilhas pela abertura de variantes não-oficiais, atalhos, e principalmente o lixo deixado, seja da cor que for… Fora as operações de resgate, que sempre implicam em impacto, as fogueiras dos que se perdem e pedem socorro, etc. Nesse sentido, sinalizar é uma grande solução! E nossa intenção é sinalizar sempre o mínimo possível, para não causar poluição. Não creio que poucas setas por quilometro sejam um grande impacto para os polinizadores, mas aguardemos algum especialista se manifestar, certo? Abraços! (estou repetindo a resposta, creio que houve algum problema com minha 1a tentativa).
Olá Humberto, vou tentar ajudá-lo a clarear sua dúvida sobre a cor amarela. Quando começamos a sinalizar a Trilha Transcarioca de 180 km aqui no Rio de Janeiro, criada por volta de 2013, éramos basicamente voluntários tentando colocar em prática um sonho, uma reivindicação que fazíamos aos gestores de Parques que davam atenção aos nossos anseios, mas não faziam efetivamente nada. Graças a Deus, a muitos esforços voluntários e a outras instituições, fomos conectando uma trilha na outra através da pintura das pegadinhas amarelas. O fato é que na época e como agora, nós estávamos tão atrasados (atrasados não, na idade da pedra!) no quesito visitação pública em áreas naturais, trilhas, Parques e afins, que esperar mais uma década até se pesquisar qual a cor menos impactante para os polinizadores, seria agir exatamente como vínhamos fazendo a décadas, nada! Outra coisa importantíssima é que o costume de sinalizar trilhas era feito com um facão na mão onde um caçador ou mateiro entrava na trilha e lanhava os troncos das árvores de maneira totalmente evasiva, brutal mesmo, e de forma que só ele conseguia decifrar o sentido daquelas marcas. Me responda você, o que causava mais impacto no meio ambiente, uma pintura de vinte centímetros quadrados superficial no tronco de algumas árvores ou a lâmina de um facão afiado penetrando e deformando um tronco vivo de árvore?! Portanto amigo, sendo bem sincero e objetivo, adotamos a politica do O ótimo é inimigo do bom", simplesmente porque se não tivéssemos iniciado a interrupção destas mutilações nas árvores, certamente hoje o impacto na flora teria se perpetuado de maneira perversa, além de não ter evitado que os caminhantes se perdessem nas trilhas causando um impacto negativo na flora e fauna locais. Lembre-se que a sinalização tem basicamente o intuito de evitar que o caminhante se perca na trilha, de criar atalhos ou que percorram caminhos que não são seguros para quem desfruta e para quem trabalha nas unidades de conservação.
Mas se você souber de alguma pesquisa realizada ou andamento sobre o impacto da sinalização amarela em trilhas, favor dividir conosco para que possamos aprender mais. Espero ter ajudado, abraço, Ivan Amaral. Coordenador de sinalização da Trilha Transcarioca.
Não entendo a necessidade de terem respondido com postura tão defensiva à pergunta do Humberto, parecendo revoltados com tão simples indagação, apontando para questões que nada tem a ver com a pergunta dele, como lixo na trilha e mutilação por facões…
Em nenhum momento ele questionou as prioridades da sinalização da Rede de Trilhas. Não tinha motivo para essas respostas exageradas e fora da linha. Que surpresa ruim ver esse tipo de reação.
E quanto à pergunta, eu não conheço nenhuma pesquisa sobre essa questão da cor em trilhas, mas acho que pode ser interessante dar uma investigada!
Talvez seja uma oportunidade para os biólogos de plantão!