Fotografia

2006 imagem ou ação?

Mais um ano de queimadas, monoculturas e espécies mortas em beira de estradas passou. Tomara que em 2007 fatos mais positivos se revelem diante das lentes que miram a natureza.

Adriano Gambarini ·
29 de dezembro de 2006 · 19 anos atrás

Dizem os místicos, numerólogos e afins que os anos pares não são bons, mas os anos impares são a compensação de tudo não conquistado no ano interior. Finalizar com o cabalístico número sete, então, é o paraíso assumido. Se isto é mais um mistério reinando entre o céu e a Terra, ninguém saberá dentro da precisão da ciência, mas certamente o meio ambiente deseja que em 2007 seja melhor. Passamos o ano vivenciando queimadas impunes e avassaladoras de um grande mal para fauna e flora; vimos os ditos ‘protetores ambientais’ dos órgãos competentes envolvidos em desmatamentos amazônicos, sem contar com o avanço desenfreado de monoculturas nos solos da maior floresta tropical do mundo. Assistimos até mesmo guardas florestais aniquilando o maior dos carnívoros brasileiros, na patética alegação de proteger a sociedade. Encontramos animais atropelados, centenas deles nas estradas do Brasil, sinal evidente de perda de habitat, sem contar com os animais silvestres a cada dia se aproximando mais das periferias da cidade, assustados e famintos. Reservas são reduzidas de sua área original, argumentos políticos sobrepõem comprovações técnicas, “meio ambiente é um entrave para o desenvolvimento”.

Mas se a eventual omissão governamental e o descaso de alguns pode trazer pessimismo no quesito ambiental, o movimento ideológico de outros parece ser a luz no fim do túnel. Grandes extensões dos vários biomas brasileiros, rios, nascentes e campos são estudados por técnicos, biólogos e ambientalistas de toda ordem, com o intuito maior de as tornarem futuras Unidades de Conservação. Programas de revitalização, pelo movimento de técnicos engajados, trazem informações novas às margens do rio velho. Novas espécies de bromélias e borboletas são descobertas na reduzida Mata Atlântica do Nordeste. Patos mergulhão, raros e ariscos, são estudados desde o nascimento no cerrado, passos de onça são identificados na caatinga, e até mesmo uma esquecida espécie do ‘espoletado’ macaco prego se torna razão de pesquisas aprofundadas na história secular do ambientalismo brasileiro! Reciclar é preciso e nosso país está, muito bem obrigado, nesta atitude ecologicamente lógica para aqueles de bom senso, mas corretíssima!

Mas…O que toda esta explanação tem a ver com uma seção de fotografia? Tudo, se entendermos a fotografia como conceito. Se os fotógrafos de natureza entenderem a força que uma imagem tem, e por um momento deixarem seus egos de lado, suas ‘fabriquetas’ de livros lançados entra ano, sai ano. Se virem a fotografia imparcialmente, e da mesma forma como fotografam a ave rara ou o ecossistema falido a seu próprio beneficio, trouxerem a realidade em que vivemos, o ambiente que sustenta nossa existência em forma de imagens, clicadas como ferramenta na preservação, e na conservação. E quem sabe, passemos anos pares e impares com os fogos sendo apenas artifícios coloridos na escuridão do céu.

  • Adriano Gambarini

    Fotógrafo profissional desde 1991. Vencedor do Prêmio Comunique-se, é geólogo de formação, com especialização em história natural e espeleologia, autor de 20 livros e diretor de dezenas de documentários.

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