Nenhuma espera é válida se não vier presenteada com algo inusitado, inovador, que valha a pena. A demora em renovarmos os ensaios desta seção será compensada com uma nova proposta, posso lhes garantir. Da mesma forma, é difícil descrever como todo este processo ocorrerá e se no final haverá apenas um caminho a trilhar; provavelmente teremos um leque de possibilidades. Mas considerando que estamos em um site dinâmico com um leve toque anárquico (que nada mais é senão a expressão exata dos nossos biomas, com suas ‘guerras’ silenciosas de seres transformando o ambiente), e falando de um tema que é dinâmico, nada mais condizente do que sermos maleáveis.
E para quem ainda não percebeu quão mutáveis são os processos naturais, basta deitar no solo úmido de nossas florestas tropicais e enxergar além: perceberá uma verdadeira revolução de seres microscópicos se movimentando e transformando seu mundo ao redor. Isto pode ser feito também perante a explosão de verde sobre a caatinga branca pós-chuva. E para dar início a esta nova fase na ‘fotografia ECO’, quero compartilhar um livro que chegou em minhas mãos esta semana, apesar de ter sido editado há três anos. Trata-se de uma publicação da Conservação Internacional (CI), sobre um dos mais importantes ecossistemas brasileiros. Intitulado “Pantanal – South America´s Wetland Jewel” e escrito por diversos autores, como Russel Mittermeier, Gustavo Fonseca, Reinaldo Lourival e Mônica Barcellos, entre outros, tem a maravilhosa assinatura fotográfica de Theo Allofs.
Este fotógrafo alemão que tem rodado o mundo nos últimos 15 anos traz nesta obra muito mais do que cenas corriqueiras da fauna pantaneira. Presenteia-nos com fantásticas imagens de comportamento e perspectiva próprias dos animais e da cultura do povo local, num olhar apurado de estrangeiro que soube como poucos garimpar as belezas do nosso país. Aliás, não é a primeira vez que me deparo com trabalhos de fotógrafos além-Atlântico que trazem uma nova proposta sobre o mesmo cenário.
É como se a eles tudo se apresentasse diferente. Talvez o prazer de desvendar o que ao seu olhar é desconhecido, proporcione uma nova forma de ver cenas que a nós são cotidianas. E por serem assim, muitas vezes esquecemos de que em tudo existe uma beleza subliminar e latente. Mas quando somos nós os estrangeiros, certamente documentamos com maestria as fantásticas paisagens européias, tão triviais a eles.
O fato é que Theo, durante as longas seis viagens que fez pelo Pantanal nos últimos quatro anos, pôde documentar um Pantanal único ao seu olhar. Assim, foi além do convencional entardecer que embebeda os visitantes de tons avermelhados, e mostra uma anta sutilmente iluminada pelo poente, em sua fuga aquática. Ou então a lúdica cena de vaqueiros correndo sobre os campos alagados, e a curiosidade de duas ariranhas tão próximas que imagino estarem quase tocando sua câmera.
No final das contas, não são as espécies documentadas que dão o ar da graça a este livro. Quem conhece a fundo o pantanal certamente já se deparou com toda a abundância de cenas que Theo registrou. A beleza está na obra por completo; um texto impecável assinado por sete autores, todos ferrenhos ambientalistas, um design aprazível, típico de todas as publicações da CI, a nota do fotógrafo, em que mostra uma humildade ímpar ao compartilhar os méritos do trabalho com os tantos pantaneiros que o ajudaram, e por fim, o clique certeiro em cento e quarenta e quatro fotografias com uma técnica apurada e refinado rigor estético.
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