Fotografia

Jonny Gitti e seu simples olhar

Jonny Gitti é um fotógrafo transmite esperança na vida. Em seu olhar, flores, insetos são meros representantes de um mundo que não lhe pertence, onde é apenas um visitante.

Adriano Gambarini ·
22 de fevereiro de 2008 · 17 anos atrás

Vasculhando O Eco por alguma inspiração, cai nas palavras denunciantes sobre o rio São Francisco, e devo confessar que doeu a alma. Naveguei pelo Velho Chico pela primeira vez em 1989, quando as barrancas, suas águas e matas ciliares ainda emanavam um tanto de esperança. Na véspera da virada do milênio foi minha segunda viagem e agora, dois anos atrás, trabalhei para o Ministério do Meio Ambiente na documentação do Programa de Revitalização. Atônitos foram meus olhares sobre o mesmo cenário. Tão familiar e ao mesmo tempo tão incômodo. Apesar de ter fotografado uma beleza ímpar em certos trechos do rio, animais silvestres e uma cultura ribeirinha deliciosa de se conviver, trazer este assunto em forma de imagens seria mais um ensaio-denúncia, não poderia deixar de ser. Então resolvi desencantar um outro trabalho, daqueles que, pelo menos, nos dão uma réstia de bem estar.

A demora para publicação deste ensaio começou com o próprio autor, afinal Jonny Gitty é uma pessoa que prefere escrever no papel, para depois transcrever para o Word. Só isto já o torna alguém fora deste avassalador mundo moderno. Além disso, o fato de ser um fotógrafo que atua no mercado de moda e publicidade, e ter começado profissionalmente já na era digital, é suficiente para alguém torcer o nariz e me perguntar “o que faz ele aqui?”. Mas são justamente estes antagonismos que me agradam, histórias de quem vê o meio ambiente com aquele olhar de contemplação pura, ingênua. Em que flores, insetos são meros representantes de um mundo que não lhe pertence, onde é apenas um visitante. Em seu dileto prazer de fugir das agruras da luz precisa dos estúdios e se enveredar na fotografia de plantas e animais, tem a grata sensação de que aquelas fotos poderão, um dia, servir para proteger quem esteja sendo fotografado.

Jonny começou em 1998 com a lendária Zenit, aquela câmera ‘trator’ russa. “Fotografava patinhos, pardais, poste, pombos, tudo que tivesse na minha frente” comenta. Com altos e baixos, tentou vestibular para publicidade, faltou grana, começou a fotografar desfiles de moda. Freqüentou palestras, workshops, cursos gratuitos, e hoje é diretor de arte e fotografia de uma pequena agência de design.

Nota-se uma preocupação estética nas fotos, a colocação de regras fotográficas dando leveza na leitura e uma luz bem interessante. Mas acima destes quesitos que servem muito bem para uma explanação sobre os princípios fotográficos, vi em seu trabalho algo lúdico e infantil, não no sentido de pouco aprimoramento técnico, pelo contrário. Enxerguei aquela crença que as crianças carregam nas palavras sinceras, no acreditar que as coisas podem melhorar, que tudo tem solução; em afirmações como ‘o importante é proteger’. E num momento ambiental tão crítico que nosso planeta vive, nada melhor do que a simplicidade de um olhar ainda não contaminado pelos desgostos ambientais que vivemos. Um suspiro de otimismo, de fé, de perceber “que nunca termina, sempre começa, é e sempre será assim”, nas palavras do autor.

  • Adriano Gambarini

    É geólogo de formação, com especialização em Espeleologia. É fotografo profissional desde 92 e autor de 14 livros fotográfico...

Leia também

Salada Verde
25 de março de 2025

Multados em R$ 2,3 milhões por vender peixes de aquário com alterações genéticas

Animais com parte do DNA de outras espécies ganham cores vivas e atraem mais compradores, mas há riscos à fauna nativa

Reportagens
24 de março de 2025

A adaptação precisa levar em conta a desigualdade nas cidades

Conversa em podcast discute as formas como eventos extremos afetam diferentes territórios e maneiras de adaptação possíveis de serem realizadas

Análises
24 de março de 2025

Em ano de COP 30, senadores querem criar uma frente para explorar petróleo na Amazônia 

Embora os senadores digam que a exploração estaria “elevando a importância geopolítica do país”, abrir novos poços de petróleo e gás, na verdade, prejudica a imagem do país no exterior

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.